Deixar uma questão politicamente sensível mal explicada ou mal resolvida

marketing-politicoUma questão delicada mal explicada estigmatiza permanentemente a imagem do político.

Não importa a natureza da questão – seja de ordem pessoal, política, administrativa ou profissional – se ela for (1) politicamente sensível, isto é, importante para os eleitores, e (2) tiver sido mal explicada e/ou mal resolvida, isto é, seus efeitos políticos não foram eliminados, continuando ativos, ela funcionará como uma bomba de efeito retardado sobre a carreira do político. Não basta que a classe política, amigos, familiares e auxiliares considerem a questão satisfatoriamente resolvida. Somente o eleitor tem o poder de emitir algum julgamento.

Uma questão mal-explicada na política só será satisfatoriamente resolvida quando o eleitor for capaz de emitir julgamento.

Um tema politicamente sensível mal explicado é uma nódoa permanentemente aplicada à imagem do político. Ainda que tenha ocorrido há vários anos, ele tem a propriedade de retornar ao presente, sempre que um conflito ou uma competição criar as condições para um adversário resgatá-lo do esquecimento. Um assunto assim perdura e estigmatiza porque o político não foi capaz de liquidá-lo quando foi levantado pela primeira vez.

Um assunto deixa de ser encerrado por várias razões. Às vezes, porque não há mesmo como liquidá-lo.

O fato imputado, que deu origem à questão, sendo verdadeiro e comprovado, não deixa ao acusado outra alternativa além do reconhecimento sincero do erro, a demonstração de arrependimento e a atitude de quem aprendeu com a falha. Outras vezes, a questão não é esgotada porque o político acredita que o eleitor vai esquecê-la. Ledo engano. Se o tema é politicamente sensível, não será esquecida, “gruda” na imagem do político. Se, por acaso, o eleitor não se lembrar dele, os adversários ou a oposição certamente vão se encarregar de refrescar a lembrança dos cidadãos.

Existem casos em que o político acredita que o eleitor já o perdoou. Pode ser, mas é muito raro. O político, sobretudo na condição de governante, apega-se à ingênua ilusão de que o eleitor, ao comparar aquele erro com todos os acertos da administração, fará um julgamento equilibrado e o absolverá. Para que tal dinâmica funcione, é imprescindível que os benefícios tenham sido muitos e em áreas que alcançaram diretamente os eleitores. Nesta hipótese, é bem possível que os eleitores – embora não esqueçam a falha – a relevem pelo sucesso manifesto do político.
Os “bumerangues” políticos exigem respostas satisfatórias antes que o candidato dispute outro pleito

Questões sensíveis mal explicadas ou mal resolvidas são como “bumerangues”

Não são poucas, entretanto, as situações em que o político, mesmo acertando e liderando as pesquisas, é abandonado pelos eleitores quando seu deslize é ressuscitado durante a campanha eleitoral. E o fazem constrangidos pela pressão que sofrem por parte de familiares e amigos e insatisfeitos com a incapacidade do candidato de encerrar adequadamente a questão. Portanto, nunca é aconselhável apostar no perdão espontâneo do eleitor.

Outras vezes, ainda, o político acredita que as explicações dadas são mais que suficientes e liquidaram o assunto. Pode ser que sim, mas é prudente testar essa interpretação em pesquisas, sobretudo naquelas que são realizadas imediatamente após o ataque ter ocorrido. O que não pode acontecer é o político supor que sua convicção pessoal corresponde necessariamente à da população.

Há, também, situações em que o político recusa-se terminantemente a falar sobre o assunto, seja porque considera que a população já esqueceu, ou o perdoou, ou porque ele já disse o que tinha a dizer. Nestes casos, chega a ser difícil para os auxiliares mais próximos – quando não impossível – tocar no assunto. Cria-se um tabu em torno do tema, um bloqueio, uma censura velada. Falar sobre ele equivale a perturbar o chefe, despertar a sua irritabilidade e, até mesmo, sua hostilidade.

Se a questão perdurar junto à população, de nada adiantará esta postura de intransigência. Mantê-la significa encaminhar-se para o desastre político.

Questões sensíveis mal explicadas ou mal resolvidas são “bumerangues” políticos. Em sua trajetória pelo ar, parece que se afastam para sempre de quem os lançou, para, a partir de um determinado ponto, retornar com toda a força. Enquanto não é proveitoso usar o assunto para desgastar o político, ele permanece latente. Tão logo a conveniência se evidencie, o tema será “desarquivado” e trazido a público, com o estardalhaço conhecido, para desqualificar um governante durante seu mandato ou na próxima disputa eleitoral. Só há uma lição absoluta a retirar desta matéria: questões mal explicadas e mal resolvidas devem ser satisfatoriamente equacionadas – ou seja, liquidadas – antes da próxima eleição.

Fonte: Política para Políticos

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