Do sonho ao pesadelo

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Na região Centro Oeste entre os paralelos 15° e 20° do hemisfério sul, um lugar de muita riqueza, próximo a um lago.Neste paraíso sonhado por Dom Bosco, foi construída a cidade de Brasília. Planejada pelo Urbanista Lucio Costa e pelo Arquiteto Oscar Niemeyer, foi fundada em 1960 pelo presidenteJuscelino Kubitschek. Detentora da maior área tombada do mundo foi inscrita pela UNESCO,em 1987 como Patrimônio Cultural da Humanidade.

Uma cidade que nasceu à frente do seu tempo. Um monumento a céu aberto. Tantasqualificações idealizadas, mas, próxima de completar 55 anos aos poucos a cidade planejada vai se transformando em um pesadelo como a maioria das grandes cidades. No projeto original a cidade de Brasília foi planejada para abrigar 500 mil habitantes, hoje já passa de 2,6 milhões de moradores em todo o Distrito Federal. A cidade vai sorrateiramente sofrendo algumas modificações em nome do progresso e dos milhares de habitantes que, aqui, se instalaram. Esses “remendos e retalhos” urbanísticos alteram o projeto original. E, assim, surgem problemas que antes só se conhecia em outras cidades, mas agorafazem parte do seu cotidiano.

Por incompetência governamental, o transporte do DF é incompatível com sua população. Sendo incapazes de prever que a capital do Brasil naturalmente teria um inchaço populacional e necessitaria de alternativas eficientes. O governo e a mídia elegeram a bicicleta como a grande alternativa. De forma criminosa, quase que como uma obrigatoriedade, passou-se induzir a população a usá-la. Com isso, criaram as ciclovias colocando em risco a vida dos cidadãos. Assim, não diferente de outros bairros do Distrito Federal e do Brasil, a Asa Norte sofre com esse problema de inadequação de suas ciclovias.  Como vários outros projetos, esse é mais um formato importado de outros países sem respeitar nossas condições estruturais e culturais.

Os ciclistas precisam se adaptar às vias, sem continuidades, sem segurança, sem iluminação e falta de sinalização. A maior aberração fica nas vias da L2 Norte e Sul, entre uma quadra e outra, acaba a ciclovia.É necessário passar atrás do comércio local. O ritual é o seguinte: desce da bicicleta, espera os carros passarem, depois que conseguir atravessar, o ciclista disputa com os pedestres uma estreita calçada, de mais ou menos uns 300 metros de distância até atravessar novamente a próxima rua e conseguir chegar à ciclovia.

Mas, como todos os moradores de Brasília sabem, essas vias foram feitas do dia para noite. Sem consultar a comunidade, os tratores e os operários do governo invadiram as quadras. E como diria o velho ditado “a pressa é inimiga da perfeição”. Mas, se tivesse havido planejamento, poderiam evitar os transtornos e, não apenas, resolver o problema das ciclovias, mas acabar com a segregação entre as cidades dos DF e do entorno. Bastava ter construído a ciclovia no canteiro central da via L2 e seguir rumo às cidades satélites e do entorno, facilitando a vida de todos os trabalhadores e criando um espaço para lazer. Outra opção aclamada por vários moradores é,em vez de ciclovias, criar ciclofaixas. Estas evitariam a invasão e destruição das calçadas e, consequentemente, os atropelamentos de pedestres.   A ciclofaixa seria uma forma de atribuir e designar o verdadeiro papel da bicicleta: “meio de transporte”.

Mas como diria o antropólogo Roberto DaMatta, o jeitinho brasileiro está arraigado nas inter-relações sociais do nosso país.  Assim, a nossa cultura e título de cidade planejada, conquistada pelos esforços dos nossos desbravadores e idealizadores, vai, aos poucos, sendo substituída pelo caos e o desordenamento urbanístico das grandes cidades.

Armando Mercadante

1 COMENTÁRIO

  1. Bom texto. Concordo com você sobre o inchaço e o jeitinho brasileiro, dois fatos com significativa importância negativa nesse contexto que você abordou. Porém sobre a problemática da ciclovia na Asa Norte confesso que não conheço para avaliar.

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