Especialistas alertam: classe política enfrenta crise ética, por corrupção

20160930064959696952aQuatro autoridades que estavam na caminhonete alvo de atentado em Itumbiara respondem a processos judiciais.

O candidato a prefeito de Itumbiara (GO) morto na quarta-feira durante carreata, José Gomes da Rocha, o Zé Gomes (PTB), chegou a ser condenado por usar verba da Câmara dos Deputados para contratar jogadores de futebol do time da cidade. Mas, segundo o procurador que abriu a ação, que tramitou 18 anos pelos tribunais, o resultado se mostrou frustrante. “No apagar das luzes, ele conseguiu uma decisão liminar numa ação rescisória e pôde registrar a candidatura”, narra Hélio Telho Corrêa Filho, do Ministério Público Federal. Na avaliação dele, caso Zé Gomes conseguisse se eleger, em algum momento a liminar cairia e ele voltaria a ser ficha-suja. “Se ganhasse, não assumiria.”

O político falecido respondia a oito ações civis públicas abertas apenas pela Promotoria Estadual e era réu em dois inquéritos na 1ª Vara Criminal de Itumbiara, de acordo com registros do Tribunal de Justiça de Goiás consultados pelo Correio. O patrimônio de Zé Gomes subiu de R$ 3,4 milhões em 1998, caiu a R$ 728 mil em 2008 e chegou a R$ 110,8 milhões este ano, segundo suas declarações à Justiça Eleitoral

Na carreata, Zé Gomes estava ladeado de aliados. Pelo menos três respondem a processos judiciais: o vice-governador José Eliton (PSDB), baleado anteontem e internado em Goiânia; o deputado federal Jovair Arantes (PTB); e o deputado estadual e provável sucessor do falecido na disputa pela prefeitura de Itumbiara, Zé Antônio (PTB). O Correio procurou a assessoria de José Elito, mas ela afirmou que não poderia comentar o caso até o fechamento desta reportagem. Jovair e Zé Antônio não atenderam aos telefonemas e não retornaram aos recados deixados.

Telho, que é ex-coordenador do Núcleo de Combate à Corrupção do MPF em Goiás, e o professor da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo e mestre em Direito do Estado Luiz Tarcísio Ferreira concordam que a falta de ética contamina a classe política brasileira. No entanto, eles ressalvam que nem todo processo significa culpa do agente. Os dois divergem se existe no país uma criminalização da atividade política por parte de agentes e delegados de polícia e de promotores e procuradores.

“Nosso sistema político leva os partidos a separarem o joio do trigo e lançarem o joio candidato”, afirma Telho. Para ele, o Congresso é lento em aprovar projetos que melhoram a eficiência e velocidade dos processos, mas rápido em tentar negociar anistias para o caixa dois e as repatriações de dinheiro no exterior. Ferreira entende que, apesar da crise ética, a Promotoria é quem processa criminosos junto com agentes políticos probos. “Condenar agente político é a paixão do Ministério Público”, critica o jurista. “É preciso ter mais critério.”Em entrevista ao Correio há duas semanas, o ministro da Transparência, Torquato Jardim, alertou para a participação do crime organizado na campanha.

Fonte: Correio Braziliense

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