Líder do PT na Câmara Legislativa quer renovar seu partido

20151019235445Chico Vigilante propõe a renovação, critica Rollemberg por nada fazer e cobra uma negociação com os servidores.

Mesmo após o nocaute político e eleitoral nas eleições de 2014, o PT ainda não desceu do salto alto no Distrito Federal. A crítica nasceu da observação do líder do PT na Câmara Legislativa, deputado distrital Chico Vigilante. Defensor de profunda reestruturação da sigla, Vigilante afirma que não será candidato ao Buriti em 2018 e vai além. Segundo ele, nem Geraldo Magela, derrotado ao Senado, e Arlete Sampaio, marco do PT, devem se candidatar. Caso o partido não encontre coligação viável, Vigilante sugere a indicação de um novo nome, com perfil semelhante ao que o novato Carlos Saraiva apresentou em 1990. Analisando as movimentações do governo Rollemberg, o distrital considera que a gestão do PSB está criando cenário para pavimentar a entrega de serviços públicos para a iniciativa privada, a exemplo de contratos com Organizações Sociais (OS) na Saúde Pública.

O senhor será candidato ao Governo do Distrito Federal em 2018?

Primeiro tenho que verificar se vai ter eleição em 2018. O calendário eleitoral precisa ser respeitado. Na democracia, crise se resolve com a eleição. Chegando em 2018, espero ter cumprido o meu papel como oposição no Distrito Federal. Agora, não tenha intenção alguma disposição de ser candidato a governador em 2018. E repito, porque tem muito político falando uma coisa hoje e amanhã fazendo outra. Não sou e não serei candidato.

Qual deverá ser a postura do PT?

Quero ajudar o PT do Distrito Federal. E é por isso que estou dizendo que o PT tem que descer do salto alto. Nós perdemos a eleição de maneira fragorosa. Foi a maior derrota política e eleitoral que a gente já  teve. Portanto, o PT tem de se recompor. Precisa ter a capacidade de fazer um programa que volte a dialogar com as mentes e os corações das pessoas. Identificar quem está disposto a assumir esse programa com a gente e aí disputar as eleições.

É hora de o PT abdicar da cabeça de chapa?

Não é hora de o PT ter cabeça de chapa, em Brasília. A não ser que ninguém queira assumir o programa que seremos capazes de elaborar. O que vou falar agora pode ferir a sensibilidade de algumas pessoas, mas acho que o Geraldo Magela também não deveria ser candidato. Nó saímos de eleição aonde ele foi derrotado para majoritário. Temos que aprender com as derrotas.  Acho que a Arlete  Sampaio também não deveria ser . Talvez seja o momento de encontrarmos uma figura como fizemos em 90, em que levamos o nome do Saraiva. O momento político era outro, mas ele cumpriu bem o papel de ser candidato.

O partido precisa repensar o comando do diretório regional?

Nós perdemos uma eleição dramática. O partido não teve capacidade de dialogar com a sociedade e mostrar o que estava sendo feito pelo governo. Pela primeira vez, nós tivemos uma derrota política e uma derrota eleitoral. Porque quando Cristovam perdeu em 1998, nós tivemos uma derrota eleitoral, mas  saímos vitoriosos politicamente. Desta vez,  tivemos uma acachapante derrota eleitoral e uma derrota política. O PT precisava descer do salto. Chamar a  militância e os deputados para  buscar outros mecanismos para se recompor dentro do Distrito Federal. Nós não fizemos isso. E eu acho que está passando da hora de fazer.

Quando será a eleição do próximo diretório regional?

Esta prevista para 2017. Portanto ainda é um período muito longo para acontecer. E aqui as pessoas se acomodam muito porque não vai ter eleição em 2016, enquanto na maioria dos municípios brasileiros o PT vai estar lá firme discutindo eleição. O que é um outro erro da partido. O PT não nasceu só para disputar eleição. Nasceu, acima de tudo, para organizar a sociedade. Aqui mesmo, um dos motivos que a gente perdeu as eleições foi porque o PT não agiu como um partido. Era um amontoado de capitanias. Cada secretaria era uma capitania sob o controle de determinadas correntes. E elas não se comunicavam. A gente precisa aprender com os erros, se é que a gente quer se reconstruir.

O PT precisa ser refundado?

É o Tarso Genro quem fala isso. Só que ele teve a oportunidade de colocar as ideias em prática e não quis. Era a época do processo 470 (conhecido popularmente como Mensalão do PT). O presidente Lula convidou ele e colocou ele para cuidar do PT. Ele concordou no início. Até trouxe ele para um debate em Brasília. Tomamos um café ali no Hotel Nacional. Poucos dias depois, com ele todo animado com aquelas ideias, ele desistiu. Quem assumiu a presidência do PT foi o Ricardo Berzoini. Eu respeito as ideias do Tarso Genro, mas o PT não precisa ser refundado.

O que deve ser feito?

O PT tem que fazer ajustes. Voltar a dialogar com a juventude. Precisa discutir com muito mais seriedade a questão do movimento sindical e do movimento popular. Na década de 80, quando o PT surgiu, a gente vinha de um processo intenso de enfrentamento contra a ditadura. O momento político era outro. Então nós temos que nos adequar, acima de tudo pensando em uma juventude que não quer saber de política, que não pensa no coletivo. Ela é hoje muito mais individualista, egoísta, pensando em si própria. O PT tem o papel de fazer com que essa juventude volte a fazer política, que ela acredite novamente em valores de transformação da sociedade, que não podem ser feitos por outros meios a não ser pela política e pelos partidos.

O presidente nacional do PT, Rui Falcão, tem um discurso. A presidente Dilma Rousseff tem outro. Como superar esse impasse?

Isso é normal. Uma coisa é estar num partido. E o Rui está na direção do partido. Outra coisa é você estar na direção de um país complexo como o Brasil. E eu fico muito preocupado quando vejo alguém comparando o Brasil com nações com 8 milhões de habitantes. Nós temos 200 milhões de pessoas.  Sempre disse e vou continuar dizendo: Quem tem que falar pelo Brasil é a presidenta Dilma. Está na hora desses ministros calarem a boca. Quando eu vejo ministros falando demais, juiz falando demais, ministro do Supremo falando demais é sinal que a democracia está com problemas.

E o papel do ex-presidente Lula?

O Lula sempre jogou um papel importante, desde 1977, quando ele ingressou no movimento sindical. É bom que diga, que ele sempre teve preocupação de dialogar com todos. Portanto, está desempenhando um papel fundamental e está ajudando a presidenta Dilma. Tem gente que diz que é tutela, mas não é. Basta você verificar que ele não dá uma declaração. Muitas vezes ele fica contrariado quando  pede para fazer e não fazem. Mas ele não diz isso, não transparece. Seria muito cômodo para o Lula ficar quieto no apartamento dele esperando 2018. Ele é uma liderança de esquerda, sendo reconhecido pelo mundo inteiro. Ele fez uma revolução no Brasil sem disparar um tiro.

Está convencido que ele será candidato a presidente em 2018?

Estou. E vou trabalhar para que ele possa ser. Por algum tempo, a Dilma estava apostando na figura de  Aloizio Mercadante. Ele é uma pessoa excepcional. Por isso o abateram dentro da Casa Civil. Por isso, vieram com essa história que ele é desagregador, centralizador, autoritário.

Foi o fogo amigo? Os simpatizantes de Lula?

Foi por muita gente que tinha medo que ele se tornasse presidente. Foi gente de direita e esquerda.

E o ministro Joaquim Levy?

Eu acho que a presidenta Dilma cometeu um erro. Eu teria nomeado para ministro da Fazenda, Henrique Meirelles. Ele traria muito mais credibilidade e conhece mais. Se era para colocar alguém do setor de finanças, que botasse um chefe.

Quando o senhor falou sobre o receio em relação a 2018 estava falando sobre repercussões de um eventual impeachment da presidente Dilma?

É uma discussão política da pior espécie. Porque base jurídica não tem nenhuma. Se fossem fazer impeachment por causa de desgaste da opinião pública, teria que tirar quase todos os governadores. Pelo que me consta, os únicos que estão bem nas pesquisas são o da Bahia e do Ceará. Fazer um impeachment por que a pessoa não é bem avaliada não é democrático. Essa discussão está paralisando a economia e só beneficia o capital financeiro especulativo.

O senhor já dá uma nota ao governo Rollemberg?

Quando me perguntaram que nota eu daria, há uns dois meses, disse que nenhuma, pois o governo não começara. Hoje digo o mesmo. Nada se pode atribuir a esse governo, como se vê com os servidores.

Como  vê esse embate entre o Buriti e os servidores públicos?

Ele não dialoga com os servidores. Ele está judicializando as greves. Esse é o pior caminho.  Quem faz greve não é a direção dos sindicatos. Quem faz é a base. E já disse isso para o governador e digo de novo: É o senhor quem tem que negociar com os sindicatos. Abra os números. Converse  e diga quando vai começar a pagar.  O que ele tem para oferecer? Ele só tem a data do pagamento. Agora à medida que fica essa queda de braço, quem está pagando o preço? A sociedade, especialmente, os mais pobres. Ele tem que pagar o que esta devendo, porque os reajustes foram dados com lastros e dentro da Lei.

Mas o que o GDF estaria fazendo com esse lastro? Por que não se vêem muitas obras pela cidade.

Todos os governos estão com dificuldade. Mas ninguém está fazendo o que ele está fazendo em Brasília. Agora, tem uma velha prática no Brasil e que parece que os assessores o estão mandando fazer isso. No primeiro ano de governo, você entra e diz que estava com terra arrasada. No segundo ano se apresenta  para dizer que equilibrou as contas. No terceiro ano, dispara obra para todos os cantos. No quarto ano, o Estado vira um canteiro de obras e aí você ganha as eleições. Mas isso não se justifica. Lá no Pernambuco a gestão era do PSB. E agora eles estão dizendo que estão com um rombo de R$ 8 bilhões. E o governo novo é do próprio PSB.

E o que o governo estaria querendo com essa estratégia?

Desde o primeiro dia, ele vem dizendo que não tem dinheiro e eu dizendo e provando que não é bem assim. O DF tem capacidade de conseguir financiamentos para as obras rompeu a Lei de Responsabilidade Fiscal momentaneamente. A partir de dezembro, voltaremos para os limites da Lei. Com a desculpa da crise, ele vai tentar  implantar as OS na Saúde Pública. E elas são mais caras do que manter os servidores. Em todo lugar em que montaram isso deu errado. Lá no Maranhão, colocaram um bicho chamado Cooperativa de Saúde. No início, foi bom. Dois anos depois, foi um caos.

É a terceirização da Saúde?

É isso que estou vendo com a Saúde. A OS é vender a Saúde para entregar para a iniciativa privada, da pior espécie. Vai dizer que é instituição sem fins lucrativos; é de freiras que juraram que não querem nenhum lucro; é de franciscanos que renunciaram a qualquer tipo de bem material? Não é. É Só verificar depois os bens desses dirigentes. Portanto, é da pior espécie. Porque depois, quando der errado, você não vai ter nem de quem cobrar. Está na hora de acreditar e fortalecer  o Serviço Público.

E a influência política na área?

Esta na hora de não continuar aceitando que deputado indique diretor de postos e de regionais de Saúde. É preciso profissionalizar a rede publica. Eu disse isso para o governador: Chame a responsabilidade para si. Eu disse um bocado de vezes para Agnelo. Nessa parte ele não me ouviu. Deveria ter feito o que eu disse.

A Rede Sustentabilidade recebeu Chico Leite e Cláudio Abrantes. Ela incomoda?

Não. Até porquê não tem futuro. No início, todo mundo achou que o PSOL ia bombar. Que seria o grande partido de esquerda no Brasil. Eu dizia que não há espaço para outro partido de esquerda no País. Como não tem espaço para esse número de partidos que existem hoje. É uma loucura você achar que a nossa democracia pode acomodar 35 partidos. O Brasil comporta no máximo 5. A Rede é mais um com um agravante: ela não quer ser um partido. Os militantes dizem que são os puros. Eles acham que estão enganando a quem? E estão no governo Rollemberg. Então lamento que dois companheiros nossos do PT tenham saído para ser governo. O PT também disse que era puro e por isso está pagando do próprio veneno. Ciro Gomes disse: Você perdoa os pecadores, mas não os puros. Mas o PT ainda tem menor nível de concentração de malandros. Eles querem acabar com o financiamento empresarial? Não. Nós queremos. Alguém acha que a senadora Heloisa Helena teria sido eleita se não tivesse o apoio do Renan Calheiros e de outros? Nunca mais se elegeu e fugiu do PSOL para a Rede. Portanto, o futuro da Rede é esse.

 Fonte: Jornal de Brasília

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