“Sou da base, mas não sou inimigo do povo”, diz deputado Rodrigo Delmasso

20150324005815Evangélico e defensor da família, o deputado distrital Rodrigo Delmasso (PTN) tem bandeiras bem definidas de atuação. Começou o mandato bem antes das sessões plenárias. Ainda no recesso legislativo, fez visitas a várias unidades de saúde pública do DF e elegeu a saúde como prioridade. O diagnóstico dos problemas verificados in loco ele já encaminhou aos pares, ao Congresso Nacional, ao Tribunal de Contas e ao GDF.Agora, espera voltar aos locais visitados no mês de julho para averiguar os avanços.

Diante do levantamento e das observações que tem feito, ele tem a receita para melhorar a gestão da saúde no Distrito Federal: terceirizar a administração dos hospitais para organizações sociais, a exemplo de estados como Goiás, onde o sistema, segundo ele, funciona muito bem. No modelo defendido por Delmasso, o Estado entra com a mão de obra e a estrutura e uma organização privada faz a manutenção e gestão dos insumos. O relacionamento com o governo, ele diz, tem melhorado e, apesar de ser da base, faz críticas à gestão de Rodrigo Rollemberg. Confira a entrevista:

O senhor elegeu a saúde como uma das prioridades de seu mandato. E já no início do ano, foi para as unidades públicas averiguar as condições de atendimento no DF. Por que?

A saúde, hoje, é o maior problema  do Distrito Federal, sem dúvida. E isso já vem de muito tempo. Desde 2008, o Tribunal de Contas do DF tem feito recomendações e determinações à Secretaria de Saúde, mas poucas delas foram atendidas, na prática. Constatamos problemas graves nesse diagnóstico que foi feito no início do mês de janeiro e encaminhamos aos deputados distritais, aos federais, aos senadores, ao presidente do Tribunal de Contas. ao secretário de Saúde e ao governador Rodrigo Rollemberg. Em julho, nosso gabinete vai novamente aos mesmo lugares para verificar o que avançou.

O que você acha que tem de ser feito para resolver, de uma vez por todas, os problemas levantados nesse diagnóstico?

O grande problema é de gestão. Precisamos fazer algumas avaliações. O sistema público de saúde do Distrito Federal está totalmente desacreditado. Temos o maior orçamento per capita e o pior atendimento. Então, sabemos que o problema não é dinheiro. Temos exemplos de outros estados, como em Goiás, que tem um sistema de saúde que funciona. Lá, os hospitais são geridos por organizações sociais. Temos um exemplo aqui em Brasília: o Hospital da Criança, que tem um trabalho fantástico, gerido pela Abrace, que é uma organização social. Em 2008, quando foi inaugurado, o Hospital de Santa Maria funcionava muito bem e era gerido por uma organização social. O hospital que tinha o melhores leitos de UTI do Centro-Oeste hoje é um grande elefante branco. A Rede Sarah também é outro exemplo de hospital público cuja gestão é feita por  uma organização social.

Mas este modelo vem recebendo várias críticas, inclusive no Estado de Goiás, principalmente com relação à prestação de serviços de qualidade. 

Com este modelo, os servidores públicos não perderiam o espaço, seriam valorizados, sem sobrecarga de trabalho, por exemplo. O que eu defendo não é a terceirização do serviço público, mas da gestão. Passar a manutenção e gestão dos insumos para uma organização social e o Estado entra com os servidores e a estrutura. Neste caso de uma PPP (parceria público-privada), os próprios servidores fiscalizariam a organização social.

O senhor concorda que uma  CPI, como querem alguns deputados distritais, pode ajudar a resolver o problema da saúde no DF?

Se a comissão for utilizada como instrumento para melhorar o atendimento na saúde do DF e punir quem cometeu crimes, talvez, eu acredito que seria um bom instrumento. Mas, ela não pode ser utilizada como palanque político.

Como o senhor avalia seu mandato até agora? Como deputado de primeiro mandato, quais foram os principais desafios enfrentados?

O primeiro grande desafio que eu tive aqui foi a votação do aumento de impostos. A gente sabe que o governo está passando uma grande crise financeira, mas eu não consigo aceitar que o bolso do contribuinte seja a única fonte de recursos para abastecer os cofres públicos. Isso foi uma grande luta interna, comigo mesmo, antes de tomar a decisão que eu tomei de não votar pelo aumento. Mas eu acredito que essa legislatura começou muito bem: a terceira sessão ordinária já foi realizada na rua, na Rodoviária do Plano Piloto; convocamos o secretário de Fazenda e a secretária de Planejamento para discutir as metas fiscais, com a presença de 15 deputados distritais, que, segundo meus pares mais antigos, foi uma participação histórica; convidamos o secretário de Educação para esclarecer sobre os pagamentos de salários e greve dos professores; fizemos audiência pública para tratar do problema da epilepsia no DF, com a participação de mais de 400 pessoas. Acho que a Câmara começou muito bem, começou perto do povo. Na quinta-feira, vamos fazer uma sessão na Ceilândia. A atual Mesa Diretora  acerta em trazer para o debate alguns pontos polêmico. Um exemplo disso foi o recuo do governador em dividir as administrações regionais, fruto de uma comissão geral feita na Câmara Legislativa.

Como o senhor avalia a relação do Palácio do Buriti com o Poder Legislativo?

Começou ruim, com uma falta de articulação, mas tem melhorado. O governo está aberto ao diálogo, tem escutado mais, mas precisa colocar em prática algumas sugestões.

E a relação do deputado Rodrigo Delmasso com o Executivo?

Está melhorando. Eles têm ouvido sugestões de políticas públicas que nós temos apresentado. Ainda não está aquela coisa perfeita, mas tem melhorado.

 E o que falta?

Vai depender do Palácio do Buriti. A gente quer contribuir para Brasília, nós queremos que o governo dê certo. Brasília não pode passar por mais uma frustração. Para melhorar, na discussão das políticas públicas, esta Casa precisa ser ouvida. Alguns projetos, por exemplo, podem ser discutidos antes de serem enviados para cá. Base de governo não é só para bater o carimbo, assinar e dizer que está tudo certo. Base de governo, na minha avaliação, tem que discutir os projetos e  aparar as arestas antes do projeto vir para cá. Os parlamentares podem dar contribuições fantásticas.

 Rodrigo Delmasso tem espaço no governo Rollemberg?

Não indiquei secretário ou administrador regional. Mas foi por opção mesmo. Tenho sido ouvido, mas, muitas vezes, só ouvido. Eu sou uma pessoa muita ativa,  dou muitas sugestões. Acho que as pessoas devem até pensar que sou chato demais. Apresento algumas sugestões que talvez o governo acha que não são salutares de implementar agora, mas o tempo dirá.

E o administrador regional do Guará, o senhor vai indicar?

Não.

Além da saúde, que outras prioridades terá o seu  mandato?

Ainda sobre saúde, tem o projeto de lei para liberar o fornecimento do  Canabidiol na rede pública de saúde; estamos lutando para que a Secretaria de Saúde adquira um aparelho de Vídeo Eletroencefalograma, que os pacientes com epilepsia esperam há 14 anos para avaliar se é possível submetê-los a cirurgia; estamos tentando aprovar uma comissão especial sobre o combate à pedofilia. Outra pauta importante é a defesa dos valores da família. Apresentei aqui um mini-estatuto da família, com as diretrizes da implementação  de políticas públicas para valorização da família no DF.

Da família tradicional?

Da família. Eu acredito que a família tem de ser parceira do Estado. Se a gente investe na família, como principal articuladora das políticas sociais, é possível melhorar a educação, tirar o jovem da rua, diminuir o consumo de drogas etc.

O projeto para distribuição do Canabidiol   foi motivado por um problema familiar?

Eu tenho uma filha de cinco anos que foi diagnosticada com epilepsia refratária de difícil controle e é usuária do Canabidiol. Mas esta não é uma luta só do Rodrigo Delmasso. É uma luta de centenas de famílias.  Outra bandeira que vamos levantar é a da mobilidade. É um sonho meu fazer de Brasília a capital da acessibilidade. Não é difícil de fazer. Precisamos tirar os projetos do papel – por que legislação nós temos –  e colocar em ação. Aí entra em discussão o sistema de transporte público.

Além do aumento de impostos já mencionado, quais as principais críticas que o senhor faz ao Governo do Distrito Federal?

Primeiro, a burocratização. Acho engraçado: vai ser considerado uma vitória se conseguirem diminuir o tempo para emissão de um alvará de dois para um ano. Acho que nós temos condições de diminuir esse tempo para três meses.  A segunda crítica que eu faço é à decisão de parcelar os salários dos servidores. Será que só tinha esse caminho? Agora, retiraram dinheiro dos fundos para pagar os salários dos servidores. Por que não tiraram antes? Por que o primeiro projeto que chegou à Câmara não foi o do Refis?  A última opção, nesses casos, seria dividir os salários. Dividir o débito do passado é ok. Agora, dividir o salário, que é sagrado?

 O senhor acha que foi  falta de planejamento?

Acho que não. Na minha avaliação, foi uma decisão errada da equipe de governo. Mas também entendo que, no meio de uma turbulência, é difícil tomar decisão. É como se você entrasse num voo turbulento e, sem experiência para pilotar, ter que subir o avião.

Mas tem gente colocando a culpa de tudo na gestão do ex-governador Agnelo Queiroz…

A gente tem que parar de olhar no retrovisor. Temos que olhar para a frente. Os erros do passado só servem de lições para que a gente não cometa novamente.

Rodrigo Delmasso continua na base de governo?

Sou da base do governo, mas não sou inimigo do povo.

Fonte: Da redação do Jornal de Brasília

 

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