Viaturas inapropriadas oferecem risco aos policias

02cid03f1_1000x667jp_292A Polícia Militar precisa de viaturas mais seguras ou de motoristas mais bem treinados. Nos últimos dois anos, pelo menos 64 policiais – considerando uma média de quatro ocupantes por transporte – foram envolvidos em acidentes que resultaram em 16 automóveis avariados. Somente nos dois primeiros meses deste ano, foram seis veículos da corporação capotados, quase todos durante perseguição.

“Essas viaturas não têm estabilidade para que os policiais trabalhem no dia a dia, defendendo a sociedade”, acusa o vice-presidente da Associação dos Praças Policiais e Bombeiros Militares do Distrito Federal (Aspra-DF), sargento Manoel Sansão Alves Barbosa. “Os policiais fazem cursos de direção defensiva e são capacitados. São os veículos que não oferecem proteção”, critica.

O discurso encontra respaldo técnico nas próprias recomendações e alertas dos veículos de suspensão alta, protagonistas de grande parte dos acidentes. Os modelos utilizados atualmente, Mitsubishi Pajero Dakar e GM Blazer, têm estabilidade naturalmente pior em relação a carros de passeio, especialmente por serem mais altos e pesados.

“São carros que ficam imprecisos nas curvas. É necessária certa experiência do motorista. Eles têm tração 4×4, mas não o controle de estabilidade. Um deslize pode significar um acidente”, diz o mecânico Jeferson Silva. Os dois modelos apresentam as mesmas condições, de modo que perseguições são atividades de alto risco para quem estiver no automóvel.

Insegurança

A reportagem do Jbr. conversou com militares e constatou opiniões divididas sobre o desempenho das viaturas. Um policial, que disse ter dirigido caminhonete da corporação poucas vezes, relatou reclamações de colegas sobre a qualidade da direção dos utilitários. E confessou certa insegurança. “Ele parece perder o controle mais fácil. Lógico que o carro comum é melhor. Alguns colegas já reclamaram que (as viaturas) não são boas nas curvas”, conta.

Outro militar, que também preferiu não se identificar, concorda. As Blazers e Pajeros se tornam instáveis demais ao atingir determinada velocidade. “O veículo samba. Se você pega uma curva mais fechada, fica muito ruim de manobrar”.

Lembram ainda que as motos são transportes igualmente ou ainda mais perigosos, mas não podem ser excluídos da frota da corporação pela facilidade de acesso a lugares estreitos.

Histórico negativo e condecoração

Em janeiro deste ano, um homem, de 34 anos, do Batalhão de Rondas Táticas Metropolitanas (Rotam) de Belo Horizonte morreu após acidente durante perseguição policial. Ao desviar de um veículo na rua, Ramon Seixas subiu o meio-fio e capotou seguidas vezes. O modelo da viatura era uma Pajero, do mesmo tipo utilizado pela PMDF. A corporação tem 378 caminhonetes em sua frota.

O caso mais grave em Brasília ocorreu em setembro de 2013, quando o sargento Adriano Ricardo Ferreira teve o braço esmagado após capotagem durante perseguição e precisou amputar parte do braço.

Adriano foi contemplado com Medalha de Mérito, conforme publicação do Diário Oficial em 7 de abril do ano passado. Ele foi agraciado “em virtude de atos de abnegação, coragem ou bravura, ocorridos em serviço com risco para própria vida”.

Reunião

O sargento Sansão, da Aspra, espera que haja consulta aos militares sobre o tipo de veículo que deve substituir os atuais ou reforçar a frota. “Nunca fomos convidados a uma reunião. Os carros já capotaram várias vezes e não existe segurança. O que existe é uma plaquinha dentro do veículo indicando que ele não pode entrar em alta velocidade nas curvas”, reclama.

Versão oficial

Os novos modelos de viatura são herança de uma renovação de frota promovida no último governo. A Secretaria de Segurança Pública informou que a escolha dos veículos e as definições sobre os trâmites burocráticos das licitações são de responsabilidade da Polícia Militar. Esta, por sua vez, afirmou terem sido realizados avaliações prévias. “No processo de aquisição é feito um estudo que analisa, além do fator preço, o tipo de acréscimo ao serviço policial que o modelo trará, como desempenho, segurança, capacidade para cubículo e mobilidade”, informou a corporação, que ainda informou ser exigido das viaturas altas “subir meio-fio, passar por terrenos irregulares etc”.

Saiba mais

A PMDF informou que as 16 viaturas avariadas nos acidentes desde fevereiro compuseram um cenário de 35 veículos em manutenção. Os outros 19, no entanto, teriam sido reparados recentemente e teriam voltado à circulação.

A frota atual da PMDF é de 3,9 mil veículos. De acordo com a corporação, o número contempla a possibilidade de acidentes e representa uma quantidade 20% maior do que nos últimos anos.

A Mitsubishi e a Chevrolet ainda não tinham se manifestado até o fechamento desta edição.

Fonte: Da redação do Jornal de Brasília

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