Para chegar a este resultado, o levantamento entrevistou 576 pessoas entre os dias 22 e 23 de julho.
Para a maior parte dos brasilienses, Dilma Rousseff e Luiz Inácio Lula da Silva sabiam da corrupção na Petrobras. Segundo pesquisa do instituto Exata de Opinião Pública (Exata OP), mais de oito em cada dez entrevistados acreditam que tanto a presidente da República quanto o antecessor tinham conhecimento dos desvios bilionários na maior empresa pública do Brasil.
Para chegar a este resultado, o levantamento entrevistou 576 pessoas entre os dias 22 e 23 de julho. A principal pergunta dos pesquisadores foi: “Com relação à corrupção na Petrobras, qual destas afirmações o (a) senhor (a) acha a mais correta?”. Os entrevistados tinham cinco alternativas de resposta, incluindo a possibilidade de defender que nenhum dos dois estava a par do caso.
Pela pesquisa, 0,3% acreditam que só Lula sabia do caso e 7,4%, que apenas Dilma sabia, mas 81,4% afirmaram que os dois tinham consciência da situação, antes do caso chegar a público. Somente 6,4% dizem que nenhum dos dois conhecia o caso.
Procurados pela reportagem do Jornal de Brasília, nem o Palácio do Planalto nem o Instituto Lula se pronunciaram.
Governos toleram corrupção
A quase totalidade dos brasilienses acreditam também que existe, por parte de sucessivos governos, leniência diante da corrupção. A pesquisa perguntou: “O (A) senhor (a) acha no Brasil os governantes são tolerantes com a corrupção?”. A resposta de 85,4% dos entrevistados foi afirmativa.
“Acabamos de sair de uma eleição nacional e temos estes números. Isso mostra um perfil cultural. A grande maioria das pessoas vota em candidatos mesmo achando que, como governantes serão tolerantes com corrupção”, avaliou Marcus Caldas.
Caldas lembrou o escândalo do Mensalão. O caso atingiu o governo do então presidente Lula de forma direta, levando à queda do ministro da Casa Civil, José Dirceu, e de outros medalhões do PT. Apesar da gravidade das denúncias, diz Caldas, o presidente seguiu em frente permanecendo no Planalto até pavimentar a eleição da sucessora Dilma Roussef. Detalhe: Lula deixou o poder com expressivos índices de aprovação popular.
Crise potencializa
A percepção política da população do DF está intimamente ligada ao desempenho da economia. Ao comparar os números da pesquisa com a história nacional, Caldas avalia que, se o País não estivesse passando pela turbulenta crise econômica, a avaliação popular de Dilma e Lula não seria tão negativa.
“No Mensalão não havia essa crise econômica. De certa forma, a população até ficou do lado do Lula durante o auge da crise. Ele até conseguiu passar uma borracha momentânea e terminar o governo dele”, observou. Segundo o especialista, a corrupção tem peso na avaliação popular, mas o fator econômico potencializa os cenários como esses.
Partidos só trabalham para si
Indo além do maremoto do escândalo da Petrobrás, a pesquisa mapeou também o descontentamento popular com os partidos políticos. O estudo apontou que 94,8% dos brasilienses consideram que as legendas trabalham em causa própria e não em favor da população.
“O sinal não está mais amarelo. Ele está vermelho para a classe política”, interpretou o diretor técnico da Exata OP, Marcus Caldas. Para o pesquisador, a quase unanimidade reflete a deterioração da imagem dos partidos no DF.
Reprovação maciça
Na avaliação de Caldas, as revelações da Operação Lava Jato intensificaram o descontentamento e a reprovação da população em relação aos casos de corrupção que ocorreram desde a redemocratização, a despeito das legendas e dos ocupantes do Planalto.
A queda da credibilidade da classe política está caminhando para um ponto de ruptura, segundo Caldas. No entanto, o especialista ainda ponderou que os resultados deste eminente ponto de quebra ainda são indefinidos. “Podemos imaginar a volta das manifestações nas ruas, com muito mais força do que vivemos com o Movimento Passe Livre. Existem grupos que defendem a volta do militarismo”, comentou. De acordo com Caldas, a falta de postura dos partidos também desmoraliza o Brasil internacionalmente, o que afasta investidores.
Nos últimos anos, desvios aumentaram
Nesse cenário político, o brasiliense acha que a corrupção no Brasil aumentou, diminuiu ou ficou na mesma? A pesquisa revelou que 79% dos entrevistados consideram que os desvios de conduta e roubos aos cofres públicos cresceram nos últimos anos.
O discurso governista de que nunca antes na história deste país as instituições de fiscalização combateram a corrupção não consegue atingir e convencer a percepção da população. Simultaneamente, a oposição não consegue construir um discurso de combate aos supostos malfeitos da administração pública.
Impunidade pesa
Órfã dos dois lados, a população fica refém da descrença na classe política. E grande parte da insatisfação dos brasilienses tem origem clara: a impunidade e a incapacidade de resposta convincente das instituições diante dos casos de corrupção.
“A população está muito descrente. A percepção de que a corrupção está aumentando é péssima para o Brasil”, ponderou Marcus Caldas. Conforme a pesquisa, 19,4% dos entrevistados respondeu que a corrupção no País está estável. Enquanto, apenas 1,6% disse que a desrespeito ao dinheiro e direitos da população diminuiu.
Dentro das devidas proporções, a pesquisa da Exata OP também reflete pensamento dos brasileiros além das fronteiras do DF. Mais politizada que a média nacional, tendo laços sociais com todas as unidades da federação e acesso aos meios de comunicação e redes sociais da internet, a população brasiliense sintetiza as opiniões dos brasileiros, análise que encontra eco entre especialistas e políticos.