O medo dos empreendedores é a fuga de empresas e a transformação da capital em local pouco atrativo para investidores.
Os custos de produção para as indústrias do DF têm aumentado e a margem de lucro diminuído. Esse cenário assusta os líderes empresariais, que, desde a quinta-feira passada, têm lidado com 19,25% de aumento na conta de luz – para os consumidores de baixa tensão (residências e comércio) a variação foi 0,89% menor, ou seja, um acréscimo de 18,36% na conta. Em média, a despesa ficou 18,66% mais cara. Portanto, somente neste ano, o brasiliense passou a arcar com um aumento de 42,46%, considerando o reajuste de 24,1% concedido pela Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) na Revisão Tarifária Extraordinária (RTE), em março.
Ainda assim, a Companhia Energética de Brasília (CEB), que garante apostar em melhorias no setor, ficou em 30º lugar no ranking da qualidade do serviço das 36 distribuidoras de energia, feito pela Aneel, também em março, resultado que explica a insatisfação e o número de reclamações da população do DF. O medo dos empreendedores é a fuga de empresas e a transformação da capital em local pouco atrativo para investidores.
Em reunião do grupo empresarial Lide, formado por 40 nomes de peso do ramo, com a presidente da Câmara Legislativa, Celina Leão, na quarta-feira passada, o pessimismo deu o tom das conversas. Houve ameaças de retirar empreendimentos de Brasília e levar para outros estados, devido a burocracia e os preços altos de alugueis. Um dia depois, a CEB anunciou o aumento da tarifa.
Os impactos do reajuste devem ser sentidos a partir de setembro e, deverão ser repassados ao consumidor. “Nosso setor é um grande gastador de energia elétrica. Em alguns ramos, a média de consumo é mais elevada que em qualquer outro segmento: de 3% a 5% do total de custos”, contextualiza o presidente da Federação das Indústrias do DF (Fibra), Jamal Jorge Bittar.
Incertezas
A construção civil contribuiu, em 2014, com 4% do Produto Interno Bruto (PIB) do DF. É, disparado, o setor industrial mais expressivo da capital, mas sofre com a diminuição da demanda, pois o governo, principal contratante, diminuiu a frequência de obras. Dessa forma, todo aumento no custo de produção constitui ameaça ao funcionamento do sistema, e o recente aumento na conta de luz não é exceção.
“Isso pode fazer as indústrias deixarem o DF”, prevê o vice-presidente do Sindicato da Indústria da Construção Civil (Sinduscon), Izídio Santos.
Memória
Em maio, o JBr. abordou o potencial mal aproveitado do polo industrial do Distrito Federal, que aguarda, há anos, por incentivos e políticas públicas eficientes, a exemplo do que acontece em Goiás. A diferença de estar no Polo Industrial JK e se mover poucos quilômetros para Valparaíso ou Luziânia é toda uma gama de oportunidades e facilidades ao crescimento do negócio.
Êxodo de empresas será acelerado
A presidente do Sindicato das Indústrias Fabricantes e de Reparação e Manutenção de Máquinas, Aparelhos e Equipamentos Industriais, Elétricos e Eletrônicos do DF (Sindeletro), Maria de Lourdes da Silva, revela que muitas empresas de pequeno e até médio porte têm cancelado os CNPJs e passado a atender a domicílio, para cortar os custos de aluguel.
Despesa acumulada
Ela diz que o aumento da energia pode intensificar esse fenômeno e também contribuir para empreendedores saírem do Distrito Federal. “Se uma empresa menor deixa de pagar a fatura, tem de arcar com multa. No mês seguinte, a despesa acumula”, exemplifica a sindicalista. “Já está tudo muito difícil e agora só vem aumento. Não temos como tomar providências”, critica.
No setor de Maria de Lourdes da Silva, a solução têm sido investir em placas solares, mas a tecnologia, apesar de limpa, ainda é cara e com retorno de médio a longo prazos. Assim, o jeito é apertar o cinto e esperar os próximos capítulos. Podemos ver a gênesis de uma solução, ou o êxodo de capital do Distrito Federal.
Saiba mais
A conta de energia para os altos consumidores (basicamente, indústrias) é mais alta, em relação às tarifas para residências e comércio, devido à Conta de Desenvolvimento Energético (CDE). É uma maneira de compensação para equilibrar eventuais descontos e sistemas elétricos isolados pelo país.
De acordo com informações do anuário da Confederação Nacional da Indústria (CNI), o Produto Interno Bruto (PIB) industrial do Distrito Federal representa 5,6% do total, três quartos menor do que a média nacional. A variação das indústrias no PIB local registrou variação negativa de 2002 a 2012.