Brasilienses apoiam decisão de não financiar escola de samba e querem que dinheiro do Buriti custeie Saúde.
Os brasilienses preferem que o Governo do Distrito Federal não gaste um centavo dos recursos públicos com o Carnaval neste ano. Foi o que constatou pesquisa do Instituto Exata de Opinião Pública (Exata OP). Em linhas gerais, 92% dos brasilienses defendem que o dinheiro aplicado na folia fosse destinado para remediar as graves carências na Saúde, Educação e Segurança.
De cada 10 cidadãos, nove esperam que o Buriti investa na solução dos problemas que torturam os contribuintes diariamente.
“A população não está para festa. Para o brasiliense, o governo deve investir em benefícios nos serviços públicos e não no Carnaval”, afirmou o diretor da Exata OP, Marcus Caldas. A postura popular é consequência da grave crise financeira nacional e local. O estudo colheu a opinião de 600 cidadãos, em 21 de janeiro deste ano.
“De cara, o cidadão prefere principalmente o investimento dos recursos públicos na Saúde. Esta área não sai da cabeça do brasiliense. Afinal, é uma agonia sem fim”, explicou Caldas.
Sem repasses diretos, o governo investirá R$ 800 mil no apoio dos blocos de rua. O gasto poderia ser ainda maior, pois as escolas de samba batalharam para conseguir R$ 13 milhões para a realização do desfile neste ano. O governo não liberou os recursos, alegando falta de verba. Segundo Caldas, está claro que o GDF fez sacrifícios e cortes, mas em contrapartida o Buriti não deixou claro o que fez ou fará com dinheiro poupado.
Erro estratégico
“É um erro estratégico do governo. Deveria ter mais transparência neste ponto. Até porque o estudo mostrou que 73,7% foram a favor de que o GDF não patrocinasse as escolas de samba”, completou. A pesquisa também levantou os planos do brasiliense para o feriado. A maior parte das pessoas não está pensando em sambar ou cantar, mas sim em descansar. Este grupo é formado por 45% da população. Na sequência, os principais projetos são viajar e participar de retiros religiosos, com respectivamente 20,3% e 18,7%. “O retiro em terceiro lugar confirma o crescimento da religiosidade no DF, principalmente da comunidade evangélica”, avaliou.
Mas há futuro para o Carnaval no DF, caminho que segue pela irreverência popular dos blocos de rua. “A maioria da população não vai pular nas festas. Mas temos 30% que acham que os blocos podem se consolidar como opção de folia. Isso é muito expressivo e mostra que os blocos de rua estão no nosso DNA”, apontou. Para Caldas, a consolidação da folia dos blocos não deve ser custeada pelo governo e sim com parcerias com a iniciativa privada.
Secretário acha “natural” a preocupação
“Neste momento de crise, entendo a percepção da população. Por outro lado, o Carnaval é uma festa popular, tradicional e histórica. É uma das grandes festas do povo brasileiro. O estado não poderia estar ausente. É natural que as pessoas tenham essa posição e compartilho dessa preocupação”, disse o secretário de Cultura, Guilherme Reis, após conhecer as linhas gerais da pesquisa do instituto Exata OP.
O secretário explicou que o governo precisa estar presente na organização do Carnaval, seja para preservar os direitos dos foliões, seja para assegurar a tranquilidade de quem deseja descansar. Segundo Reis, os recursos públicos investidos neste ano são da Secretaria de Cultura e não poderiam ser investidos em outras áreas.
“Se estivéssemos em uma situação financeira mais confortável, iriamos investir mais em cultura. Hoje os investimentos estão aquém do necessário e isso está gerando problemas para o DF. Sem cultura, vemos crescer uma sociedade consumista, individualista e educada pela TV. Nossas cidades, estão desassistidas culturalmente. Cultura também é cidadania, também é desenvolvimento”, argumentou.
O governo prometeu que, neste semestre, buscará ajudar os blocos de rua e as escolas de samba a selar parcerias com empresas para que elas financiem o Carnaval 2017.
Ponto de Vista
O debate sobre a Lei do Silêncio ganhou destaque no DF. Segundo Guilherme Reis, a discussão não impedirá a folia carnavalesca. “Há quem goste e quem não goste. Isso é normal em qualquer cidade brasileira. Agora isso gera um pequeno impacto na Cultura, na medida em que desemprega músicos. O governo montou um grupo de trabalho para rever essa lei. Devemos mandar uma proposta para a Câmara Legislativa”, explicou. Neste sentido, existe uma chance de parceria com o deputado Ricardo Vale (PT), que já tem um projeto em andamento na Casa.