Essa estratégia de negociação, inclusive, foi defendida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em conversa com correspondentes da mídia internacional.
O desembarque do PMDB, oficializado nesta terça-feira, já era esperado, mas a velocidade do anúncio — apenas três minutos — e os gritos de apoio ao vice-presidente, Michel Temer, registrados no evento, cristalizaram o caminho para o impeachment e passaram um recado ao governo, avaliam cientistas políticos consultados pelo Correio. Os especialistas avaliam que para salvar o mandato de Dilma Rousseff o único meio será a negociação no chamado “varejo”, ou seja, com pequenos partidos e dissidentes dos grandes.
“Com a saída dos ministros do PMDB, há uma sobra de espaço para negociar com partidos menores e tentar conseguir os 172 votos (necessários para barrar o impeachment) dando um poder desproporcional ao tamanho dessas bancadas”, avaliou o cientista político e professor da FGV (Fundação Getulio Vargas) Sérgio Praça.
Essa estratégia de negociação, inclusive, foi defendida pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em conversa com correspondentes da mídia internacional na segunda-feira. O ex-presidente comparou a situação de Dilma àquela que enfrentou no início de seu primeiro mandato, quando ainda não tinha apoio formal do PMDB. “Vamos ter uma espécie de coalizão sem a concordância da direção. Não sei se é possível, mas acho que é”, disse o petista na ocasião.
Para o cientista político Humberto Dantas, professor do Insper, essas negociações serão cada vez mais difíceis devido a sensação de esfarelamento da capacidade de condução do governo. “Aceitar cargos de governo combalido é um risco”, comentou. Além disso, essas negociações picadas não garantem a mesma estabilidade que um apoio em bloco, sendo mais voláteis a traições. Dessa forma, um dos riscos que o governo corre ao apostar as fichas nessa estratégia é a de firmar um acordo e ver os seus neoaliados desertarem à medida que o pêndulo do poder começar a apontar mais vigorosamente na direção oposta à presidente petista. “Esses políticos assumem, vez por outra, o papel de pivô. Querem sempre estar na melhor posição para usufruir de onde o poder se instalar”, prosseguiu Sérgio Praça.
Fonte: Correio Braziliense