Todo político sabe que a palavra é uma das principais armas de persuasão. Conhecendo algumas dicas práticas, fica muito mais fácil potencializar sua força, convencendo o eleitor de que você é o melhor candidato para o cargo em disputa
Falar em público não é apenas falar alto para todos ouvirem. Falar em público é sustentar um outro tipo de comunicação, diferente da maneira usual. Não é por outra razão que desde os clássicos gregos a oratória foi tratada como uma disciplina a ser ensinada e uma arte a ser praticada pelos políticos. Trata-se da produção de um ato que, mesmo na sua forma mais simples, envolve uma certa dramaturgia. Na representação teatral, o texto é fixo, pré-determina o comportamento dos atores e a relação ator/platéia é previsível, porque parte do pressuposto do interesse que a platéia tenha pelo ato.
O que torna o ato de falar em público uma arte é que nele, contrariamente à representação teatral, o conteúdo da comunicação é variável, de livre determinação do orador e o interesse da platéia não está previamente assegurado por sua mera presença. Conseguir ser ouvido, reter a atenção, emocionar pessoas e persuadí-las com argumentos são desafios que se renovam sempre, na medida em que muda a platéia. Alguns conselhos básicos, extraídos da experiência prática são sempre úteis:
Saiba o que quer falar: Decida antes exatamente o que você quer dizer para aquele público. Essa será a mensagem que você deseja que eles levem na cabeça depois que terminar o ato. Organize o discurso mentalmente em torno daquela idéia e apresente-a clara e convincentemente. Ela deve receber um destaque no discurso equivalente à força persuasiva que você deseja que ela tenha a seus ouvintes.
Seja relevante para o público que o ouve: Um político em campanha fala para múltiplos públicos. E cada um é sempre diferente do outro. Isto não significa que você deva mudar a sua mensagem, o seu discurso básico (Atenção: a repetição é um defeito na comunicação pessoal, mas uma qualidade na comunicação política). Significa, isso sim, que você deve adaptar seu discurso – relevância dos assuntos que vai abordar, tempo, eloqüência, tipo de linguagem, recursos de oratória (humor, narrativa, dramaticidade) para aquele público específico e real diante de você.
Crie o clima para lançar sua idéia ou argumento: A idéia central não pode ser tratada de golpe, subitamente. Ela exige que você faça uma preparação prévia, crie o clima para que ela seja apresentada no momento certo para produzir o efeito desejado. A criação do clima pode ser feita apresentando estatísticas – poucas, simples de lembrar e contundentes – ou contando uma história, usando um fato recente de conhecimento do público ou, ainda, dramatizando o problema para dar atrativo à solução.
Apresente sua solução: Se você pretende falar sobre um problema, comece relacionando-o com a vida das pessoas que estão na platéia; valorize o problema – descreva-o, ilustre-o, apresente exemplos (as pessoas tendem a dar mais atenção à doença e aos seus sintomas do que à cura). A seguir, faça um diagnóstico preciso para só depois apresentar a sua solução, da forma mais atraente, resolutiva, viável e realista que conseguir. Não esqueça de levar as pessoas a visualizarem os benefícios concretos que advirão da solução que propõe.
Crie uma relação com sua audiência: O ritmo que você der à sua fala, a repetição de uma expressão ou frase em seqüência para abordar diferentes temas e as pausas que você deve fazer no discurso devem articular-se com reações do público, acima de tudo com os aplausos, criando um diálogo entre você e sua audiência.
Fale olhando para as pessoas: É importante para criar a relação com a audiência. Alterne o olhar de conjunto com o olhar para diferentes lados da sala, concentrando em grupos de pessoas e, até, numa delas de maneira focada. Estes grupos que recebem o seu olhar direto tendem a reagir primeiro à sua fala e responder com reações que se estendem para o conjunto.
Seja flexível e esteja preparado para surpresas: Toda reunião está sujeita ao imponderável. O som falha, o público é maior ou menor do que o previsto, o clima muda, a luz falta, as manifestações da audiência – como brigas e discussões, o bêbado de plantão, as provocações de adversários etc. Tenha bom humor, paciência e serenidade. O objetivo é transmitir sua mensagem, mesmo diante do inesperado.
Seja ouvido: Parece óbvio, mas não é. Reuniões políticas são também reuniões sociais, nas quais conhecidos se encontram e aproveitam a oportunidade para conversar. A menos que seu discurso seja feito num contexto de maior formalidade, a regra será o ruído e a movimentação de pessoas. Gradue o tom e a intensidade de sua voz de acordo com ele. Mas isso não basta. Se você falar mais alto, a ponto de as pessoas não se ouvirem quando conversam, elas também aumentarão o tom. Só há uma saída: você precisa de um mínimo de silêncio inicial para conquistar a atenção deles. Por isso, encontrar um vínculo emocional é tão importante. Atenção! Emocionar não significa ser piegas. Se você iniciar seu discurso falando sobre um assunto relevante para eles e que vá ao encontro de um sentimento forte que nutrem (temor, preocupação, indignação, desejo, esperança etc), você terá maiores chances de conseguir conquistar a atenção do seu público e ser ouvido.
Procure ser pontual: Pontualidade não tem a ver diretamente com o discurso em si, mas muito com o estado de espírito do seu público. Pessoas reunidas por muito tempo, esperando pelo orador tendem a desenvolver uma má-vontade para com ele. Não é necessária, no caso brasileiro, uma pontualidade britânica, mas o atraso não deve exceder 30 minutos.
Faça referência pessoal a todos os líderes locais: As pessoas que se reuniram para ouví-lo foram, na sua maioria, trazidas por lideranças locais. O momento do encontro com o candidato é também, para tailideranças, o momento de provar que são figuras conhecidas, respeitadas e possuem acesso ao candidato. Sua referência a eles – todos, se algum for omitido ele não esquecerá – é indispensável para que continuem trabalhando na campanha com entusiasmo.
Cumprimente todas pessoas que conseguir, tanto na entrada, como na saída
Finalmente, a entrada e saída do candidato são também parte do ato público. Cumprimente o máximo de pessoas ao entrar, sem deixar de avançar em direção ao local do discurso. Tenha sempre a seu lado um ou mais assessores para receber bilhetes, pedidos, convites etc. À saída, dependendo do tempo disponível, volte a cumprimentar todas pessoas que conseguir.
Entregue aos assessores a tarefa de interromper suas conversas, insistindo que você está atrasado para o próximo compromisso. Instrua-os para que peçam às pessoas que colaborem, para que você possa cumprir agenda. Você deve dar a impressão de que tem todo o tempo do mundo para os interlocutores. São seus assessores que, queixando-se de você (“Se a gente não forçar, ele não sai daqui, é sempre assim”), conseguirão tirá-lo da situação, deixando ainda a sensação de que você queria continuar lá, conversando.
Fonte: Política para Políticos