Por Sandro Gianelli
O Conectado ao Poder entrevistou o cientista político Walton Pousa. Ele e a jornalista e publicitária Cassia Pires estarão no 15º Congresso Brasileiro de Estratégias Eleitorais e Marketing Político abordando o tema: Pesquisas eleitorais na pós-pandemia.
O que muda entre pesquisa eleitoral presencial, telefônica ou com robô?
Cada uma tem suas vantagens e desvantagens. A presencial sempre foi a mais utilizada. Em um período mais longínquo, nem todos tinham telefone e por isso não se conseguia atingir a essa classe social e, nessa época, não se pensava em robôs.
Com o avanço da tecnologia e a democratização do telefone, praticamente todas as classes tinham telefone e celular. Então, o telefone foi para nos ajudar nos estudos com essa metodologia. Hoje a gente vê que a maioria das pesquisas para presidente que estão sendo divulgadas estão senso realizadas pelo telefone. A pesquisa por telefone é mais barata, mas ela dificilmente é longa. Pra esse tipo de método, é preciso um banco de dados “quente”, real, a nível Brasil. Já a nível municipal a mais adequada é a feita presencial porque você está na cidade, sem grande distribuição geográfica. O que ocorre nas pesquisas municipais é de haver uma mescla entre as duas.
Já as pesquisas para robô são mais usadas para intenção de votos, tipo aquelas “digite 1 para candidato A, 2 para candidato B”, com uma ou duas questões fechadas, as outras possibilitam questões um pouco mais aprofundadas, sendo que na presencial você ainda pode se utilizar de recursos como imagem, cartões, tornando ainda mais aprofundada.
Por que as pesquisas eleitorais tem divergido tanto?
São vários os motivos mas eu quero acreditar que todas elas são feitas com metodologia correta, seja presencial ou por telefone, sem nenhum tipo de fraude. Os motivos estão associados à distribuição, algumas empresas quando fazem pesquisa presencial fazem somente domiciliar, outras somente fluxo. Pesquisa por telefone, mesmo com a democratização dos celulares, a pesquisa pode abordar uma classe um pouco maior, deixando de lado alguns perfis. Também tem a questão das recusas, tanto na presencial quanto por telefone. A elaboração do questionário, com a ordem das questões também podem influenciar.
Você acredita que o eleitor tem definido o voto cada vez mais em cima da hora?
Eu tenho cada vez mais certeza disso. Acompanhamos bastante eleições por aí, em 2020 para prefeitos e observamos o índice de indecisos alto em até sete, dez dias antes das eleições. O povo tem outras preocupações, outras responsabilidades e por isso vai parar para pensar na última semana (isso é maioria, não os torcedores fanáticos).
E como é a sequência da decisão do eleitor?
A primeira decisão é em quem ele não vota. Então, quanto mais candidatos tiver para o cargo que ele tem que votar, mais ele vai decidir em cima da hora. É uma decisão por exclusão, até que em três, quatro dias, até no dia da eleição, ele toma a decisão, chegando a casos decididos até mesmo na cabine de votação.
As pesquisas são confiáveis?
Se ela for feita de forma correta, como espero que todos os institutos façam, trabalhando todas as variáveis corretamente, é confiável.
Mas o que acontece que muitas vezes há desconfiança?
Uma pesquisa de um mês antes da eleição não deve bater com o resultado e não dá pra se esperar isso. Temos que ter em mente que a pesquisa eleitoral é um retrato do momento, estamos lidando com a opinião das pessoas. Existe toda uma campanha, estratégias de marketing utilizadas para fazer a pessoa mudar de opinião. Fazendo um paralelo com a questão anterior – da decisão do eleitor próxima à eleição – por isso que existem essas mudanças de pesquisa que difere entre uma semana e três dias da eleição, por exemplo.
Então, a pesquisa é confiável para aquele momento. Em uma semana, por exemplo, o cenário muda bastante, pessoas mudam de opinião, eleitores indecisos que começam a decidir. Então dez dias, uma semana, o eleitor começa a se envolver mais, pesquisar mais.
O que temos que ter em mente é que a pesquisa eleitoral é uma fotografia da realidade do momento. Aí, vem a comunicação política – e o Congresso de Estratégias Eleitorais e Marketing Político será extremamente importante pra isso, com diversos profissionais de diversas áreas que trabalham no processo – serve justamente para tentar fortalecer o candidato para quem se está trabalhando ao mesmo tempo que para mudar a opinião de quem opta pelo candidato adversário.
Como diferenciar uma pesquisa fraudulenta de uma confiável?
Como eu disse, eu sempre quero acreditar que todos institutos trabalham de maneira confiável. Mas você consegue observar por meio de detalhes se a entrevista foi bem feita ou não. Se ela foi fraudada é mais difícil sem ter acesso a gravações e documentos daquele estudo. Mas você percebe os erros pela metodologia, distribuição da amostra, se ela está seguindo a proporção da cidade e do país, de acordo com o que o IBGE nos aponta e por aí vai. Também há a questão da ordem do questionário que pode interferir no resultado. Então você faz várias perguntas positivas sobre o candidato e depois faz a pergunta espontânea. Neste caso, com toda certeza você vai estar influenciando a resposta do entrevistado. O correto seria você fazer a pergunta espontânea de intenção de voto, ou estimulada, sem avaliação de governo, para que não tenha influência.
As pesquisas ainda influenciam o eleitor?
Esse é um debate que existem divergências. Há teóricos que dizem que sim, outros, que não. Não há estudo definitivo se influenciam ou não. Na minha opinião, eu entendo que as pesquisas podem influenciar de algumas maneiras. Primeiro sobre a questão do voto útil, por exemplo: eu me simpatizo com o candidato C, mas eu estou vendo que a disputa está entre o A e o B, e eu vou mudar para o A para o B não ganhar. Isso de fato pode ocorrer. Uma outra forma de influência é aquela: Eu voto no candidato A, ele está ganhando com 20%, então não vou nem votar. Essa situação eu percebi na eleição passada, em pesquisas divulgadas. Ainda assim, não há nada que comprove.
Qual é a expectativa da sua palestra no 15º Congresso Brasileiro de Estratégias Eleitorais e Marketing Político?
Nossa ideia, tanto minha como da Cássia, é realmente de mostrar a importância da pesquisa para os candidatos, para as campanhas, para toda estratégia de comunicação, campanha e principalmente mostrar o que se consegue com uma pesquisa eleitoral, não se restringindo somente na intenção de votos. Porque na maioria das vezes as pessoas entendem que uma pesquisa foca somente na intenção de voto, quando na verdade, ela é somente a ponta do iceberg. A gente consegue diversas informações importantes para estratégia de conhecimento, como grau de conhecimento do candidato, o que o eleitor pensa sobre ele, pontos positivos e negativos. O que o eleitor pensa sobre diversos temas. Então existem inúmeras questões que devem ser feitas em uma pesquisa.
Desta forma, a gente vai mostrar aos participantes que a pesquisa serve de base para a formulação das estratégias corretas. Uma outra coisa que estaremos apresentando é a pesquisa de neuromarketing, uma nova ferramenta pela qual a gente consegue observar o rosto do eleitor e apresentar a ele vídeos da campanha, peças da campanha e então observar as reações do eleitor, por meio de sua fisionomia, reação e expectativa. Com isso, os profissionais da campanha conseguem perceber o que dá resultado, o que deixa o eleitor empolgado, o que o deixa cansado, irritado etc. Então vamos também apresentar essa nova ferramenta, que está sendo muito utilizada na Europa e que estamos implementando no Brasil.
Serviço:
15º Congresso Brasileiro de Estratégias Eleitorais e Marketing Político
Local do evento: Faculdade Republicana, SEP Sul, Trecho 713/913 Edifício CNC Trade Térreo – Asa Sul, Brasília – DF
Data: 26, 27 e 28 de maio de 2022
Tíquete padrão: participação presencial – R$ 1.700,00/ participação virtual – R$ 900,00
Inscrições: estrategiaseleitorais.com.br
Walton Pousa é diretor da CW7 Pesquisas. Formado em Administrador de Empresas, pela UNIMEP, pós-graduado em Pesquisa de Mercado, pela FESP/SP. Cientista Político, pela UNINTER. Professor universitário na disciplina de Pesquisa de Opinião Pública e Marketing da FATEP. Sua trajetória lista a participação em diversos congressos na América do Norte, América Latina e Europa.
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*Sandro Gianelli é consultor em marketing político, jornalista, colunista e radialista. Escreve a Coluna do Gianelli, de segunda a sexta, para o portal Conectado ao Poder e para o Jornal Alô Brasília e apresenta um programa de entrevistas, aos domingos, das 9h às 11h, na rádio Metrópoles – 104,1 FM.