PMDB e oposição querem manter a comissão para criar constrangimentos ao governo. Muitos cobram a convocação de políticos investigados pelo Supremo.
Na noite desta quinta-feira (28), a CPI da Petrobras foi prorrogada, num momento em que enfrenta cobranças, dilemas e baixa produtividade. Muitos exigem que sejam ouvidos os políticos investigados pelo STF (Supremo Tribunal Federal), mas não há consenso entre os líderes dos principais partidos. Ainda assim, para o PMDB e para a oposição, manter a comissão em funcionamento é politicamente interessante porque, a qualquer hora, ela pode impor algum tipo de constrangimento ao Palácio do Planalto.
Nas duas últimas semanas, os deputados que a integram tentaram, em vão, ouvir os empresários investigados pela Operação Lava-Jato. A maioria se recusou a falar, recorrendo ao direito constitucional de ficar calado.
Quem falou, caso de Eduardo Leite, ex-vice-presidente da Camargo Corrêa, repetiu o que confessara aos procuradores da República no Paraná. Leite é um dos delatores da Lava-Jato. E quando indicou que poderia revelar alguma novidade, por exemplo o envolvimento de mais gerentes da Petrobras nas falcatruas, o empreiteiro explicou que não poderia dar detalhes porque são situações que ainda estão sob análise do Ministério Público Federal.
Assim tem sido a CPI, convivendo com as restrições impostas pelo juiz Sérgio Moro e pelo Supremo. Numa só tacada, o STF concedeu habeas corpus a cinco executivos do grupo Schahin, permitindo que ficassem em silêncio na comissão. Na vez de Milton Schahin, presidente do grupo, mais de 100 perguntas lhe foram feitas, e a todas repetiu que não responderia.
Quebra de sigilos
Além de lidar com essas dificuldades, há variados entendimentos sobre como deve ser conduzida a investigação daqui para frente. A deputada Eliziane Gama (PPS-MA) faz parte do grupo que tem insistido na quebra de sigilos bancário, fiscal e telefônico de investigados e na convocação dos políticos. Júlio Delgado (PSB-MG) tem reivindicado a realização de acareações.
Ivan Valente (Psol-SP) tem questionado o trabalho da Kroll, empresa internacional contratada para investigar ativos nos exterior dos envolvidos. Valente exige transparência nas tarefas da Kroll que, no passado, teve o nome envolvido em denúncias de espionagem no Brasil. Daqui a duas semanas, a empresa apresentará o resultado do trabalho, e o contrato com a Câmara poderá ser renovado.
Horas antes de o plenário decidir pela prorrogação, a cúpula da CPI, formada pelos deputados Hugo Motta (PMDB-PB), Antonio Imbassahy (PSDB-BA) e Luiz Sérgio (PT-RJ), fez reunião com outros integrantes para tentar chegar a algum acordo sobre o futuro dos trabalhos.
Motta defendeu a comissão que preside e rebateu as críticas. Ele afirmou que não é o momento de ouvir políticos. “Qual a contribuição que esses políticos vão trazer neste momento? Eles estão sendo investigados e nada vão falar nessa CPI”, disse. “Os requerimentos para ouvi-los estão na pauta, se plenário da comissão entender que é este o momento, que sejam ouvidos.”
Ficou acertado que, até o final da primeira quinzena de junho, continuarão a ser interrogados os empreiteiros, ainda que viajem a Brasília para dizer que permanecerão calados. Em seguida, começam as acareações. A ideia é colocar frente a frente, por exemplo, o ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro Barusco e o tesoureiro afastado do PT João Vaccari Neto. Nada ficou combinado sobre ouvir os políticos.
Fonte: Fato Online