Por Marcelo Senise
Uma jornada de superação, dedicação e o inabalável propósito de proteger o alicerce democrático na era da Inteligência Artificial.

A abertura do 1º Simpósio Internacional sobre Inteligência Artificial e Democracia, ecoando pelos salões da Câmara dos Deputados em Brasília, não foi um mero evento; foi a concretização de um esforço colossal, a culminância de uma visão ousada do Instituto de Regulamentação da Inteligência Artificial (IRIA). Meu discurso inaugural, proferido neste palco tão significativo, não foi apenas uma formalidade, mas um brado que posicionou a intersecção crucial entre a IA e os pilares democráticos no epicentro das discussões sobre regulamentação no Brasil. Sabíamos que não seria fácil; o caminho estava repleto de ceticismo e ventos contrários, e a magnitude da nossa ousadia parecia, por vezes, maior que as nossas forças. Horas intermináveis de trabalho, noites insones, e obstáculos intransponíveis foram a medida do nosso compromisso, mas a fé inabalável na urgência de romper o silêncio e trazer à luz o debate mais crucial de nossa era foi o motor que nos impulsionou. O que se viu neste simpósio, e o que foi a espinha dorsal da mensagem proferida na abertura, foi a manifestação concreta de um compromisso intransigente: o de não permitir que a corrida tecnológica ofusque a reflexão ética e social sobre seus impactos, um chamado à responsabilidade coletiva, articulado com a plena consciência do enorme desafio que representou tirar essa visão do papel. A realização deste evento, com sua programação robusta e o calibre de seus participantes, é o reflexo da persistência de uma equipe apaixonada e da convicção de que certos debates não podem mais ser adiados.
No cerne do discurso de abertura, ressoou a convicção de que a Inteligência Artificial não é apenas uma ferramenta de inovação e progresso econômico; ela é, fundamentalmente, uma força capaz de redefinir as estruturas sociais, econômicas e, crucialmente, políticas de uma nação, tocando em questões existenciais para a democracia: desde a formação da opinião pública e a integridade dos processos eleitorais até a garantia dos direitos civis e a promoção da equidade. O simpósio nasceu da premissa de que o Brasil não pode se dar ao luxo de esperar que os desafios se tornem crises irreversíveis, e que a regulamentação da IA não é um luxo, mas uma necessidade estratégica para proteger a soberania e a resiliência democrática. Meu discurso sublinhou que, ao invés de meramente reagir a disfunções, precisamos antecipar e construir arcabouços legais e éticos que permitam o florescimento da IA de forma benéfica e segura para todos os cidadãos.
Um dos temas mais enfaticamente sublinhados em minha fala, e que perpassou toda a programação do simpósio, foi o uso da Inteligência Artificial na comunicação política. Este é um campo de batalha crucial para a democracia contemporânea, onde a capacidade da IA de gerar e disseminar desinformação em escala massiva, de manipular narrativas através de deepfakes e bots, e de microsegmentar eleitores com mensagens personalizadas, representa uma ameaça sem precedentes à integridade do debate público e à formação da vontade popular. O discurso de abertura não hesitou em apontar os riscos inerentes a essa nova paisagem: a polarização crescente, a erosão da confiança nas instituições e o potencial de subversão dos processos democráticos. Ao dar destaque a este tópico específico, o IRIA não apenas o trouxe à tona, mas o elevou a uma prioridade máxima dentro da agenda de regulamentação, declarando claramente que qualquer marco regulatório para a IA no Brasil será incompleto e ineficaz se não abordar de forma contundente e preventiva os perigos que essa tecnologia representa para o processo eleitoral e para a livre manifestação do pensamento.
Olhando em retrospecto para a abertura e para a realização do simpósio, o sentimento que predomina é um orgulho imenso. Orgulho por termos ousado sonhar alto e, mais importante, por termos mobilizado as forças necessárias para transformar esse sonho em realidade. Não foi uma jornada solitária. Meu discurso fez questão de estender um agradecimento profundo a todos que, de forma incondicional, acreditaram e contribuíram para o sucesso dessa empreitada. A equipe e diretoria do IRIA, cuja dedicação e paixão foram a força motriz por trás de cada detalhe, merecem todo o reconhecimento. Da mesma forma, o apoio fundamental das Fundações Francisco Dornelles e Fundação Republicana Brasileira foi o alicerce que nos permitiu construir este evento. E, de forma crucial, a parceria incansável dos Deputados Ricardo Barros, Celso Russomanno e Áureo Ribeiro demonstrou a capacidade de articulação e o compromisso político necessários para trazer um debate tão técnico para a esfera legislativa. Este simpósio não foi apenas um conjunto de palestras; foi um catalisador que legitimou a pauta, trouxe a discussão para dentro do Congresso Nacional e engajou figuras-chave do poder público, do setor privado e da sociedade civil. O balanço é que conseguimos, com êxito, colocar a Inteligência Artificial e a defesa da Democracia no centro da pauta dos debates sobre regulamentação, especialmente no que tange à comunicação política. O que se iniciou com o discurso de abertura no Simpósio Internacional de IA e Democracia não foi o fim de uma discussão, mas o início de uma nova fase, a consolidação de um compromisso permanente do IRIA em liderar, promover e fomentar o debate para que o Brasil construa um futuro digital que seja intrinsecamente democrático, ético e justo. O desafio foi gigantesco, mas a conquista de ter imposto essa pauta no centro do debate nacional é, sem dúvida, o nosso maior legado e motivo de um orgulho que nos impulsiona adiante.
*Marcelo Senise – Presidente do IRIA (Instituto Brasileiro para a Regulamentação da IA. Sociólogo e Marqueteiro Político, especialista em IA aplicada em Política










