A incoerência da esquerda: câmeras para policiais, mas não para professores

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Por Sandro Gianelli

A mesma esquerda que exige transparência e vigilância nas fardas da polícia rejeita a presença de câmeras nas salas de aula — e expõe um discurso marcado pela contradição e conveniência ideológica

A votação do projeto que autoriza a instalação de câmeras nas salas de aula da rede pública do Distrito Federal revelou mais do que um simples embate político. Escancarou a contradição de uma esquerda que, ao mesmo tempo em que clama por transparência nas ações policiais, rejeita a mesma transparência quando o palco é a escola.

Os mesmos partidos que exigiram o uso de câmeras nos uniformes de policiais — em nome da proteção dos cidadãos e da fiscalização da conduta das forças de segurança — agora se opõem ao monitoramento em ambientes escolares, onde professores e alunos convivem diariamente sob crescente tensão. O discurso muda de acordo com o cenário. A coerência, não.

Para a esquerda, o policial precisa ser vigiado; o professor, não. O argumento é que as câmeras na sala de aula “criminalizam” a categoria docente. Mas por que o mesmo raciocínio não se aplica aos agentes de segurança? Por que o policial com câmera representa “transparência e direitos humanos”, enquanto o professor com câmera passa a ser “vítima de vigilância e opressão”?

É um raciocínio seletivo — e perigosamente conveniente.

Ao contrário do que a oposição prega, o projeto não impõe vigilância cega. A decisão de instalar as câmeras caberá à direção de cada escola, e o acesso às gravações será restrito a decisões judiciais ou solicitações do Ministério Público, da polícia ou do próprio professor. Mais do que controle, trata-se de proteção — e proteção mútua.

Nos últimos meses, o Distrito Federal assistiu a uma escalada de violência dentro das escolas. Um professor trocou socos com um aluno em Taguatinga; outro foi filmado agredindo um estudante no Guará; e, em outubro, um pai espancou um docente dentro da sala de aula, diante dos colegas da filha. Casos assim não escolhem lado. Professores e alunos são vítimas do mesmo sistema falido — e a ausência de registro transforma a verdade em disputa de versões.

As câmeras, neste contexto, não são instrumentos de perseguição, mas de justiça. Servem para proteger o professor injustamente acusado e o aluno injustamente punido. São uma garantia de que a palavra de um não será automaticamente mais forte que a do outro.

É curioso notar que a esquerda, tão empenhada em defender o “direito à verdade” quando se trata da atuação policial, se recusa a aplicar o mesmo princípio à educação. Quando a câmera está no colete de um policial, é símbolo de democracia e controle social. Quando está em uma sala de aula, torna-se ferramenta de opressão. Essa é a contradição que enfraquece o discurso de quem se diz defensor da transparência.

Em vez de reconhecer que as câmeras poderiam evitar injustiças e proteger vidas — dentro e fora das escolas —, a esquerda preferiu o caminho da resistência automática, movida mais por ideologia do que por razão. Critica a violência, mas rejeita o instrumento que pode comprová-la. Prega a verdade, mas teme o registro que a revela.

No fim, o que o projeto das câmeras expôs não foi a fragilidade do sistema educacional, mas a incoerência de uma parte da política que escolhe onde a transparência serve — e onde incomoda.

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