A desocupação da orla, que gerou impasse entre o governo e a Associação dos Amigos do Lago Paranoá (Alapa), continua dividindo opiniões.
A desocupação da orla do Lago Paranoá já tem data e local para começar, como mostrou a matéria do Jornal de Brasília publicada ontem. Marcada para a próxima semana, inicialmente, na QL 12 do Lago Sul – onde está localizada a Península dos Ministros – e na QL 2 do Lago Norte, a desobstrução da margem, no entanto, ainda é motivo de dúvidas. Na prática, o que muda? O que será retirado e o que permanece são alguns dos questionamentos da população.
A Agefis detalha as mudanças previstas pelo Governo do Distrito Federal (GDF) para as primeiras áreas a serem modificadas na próxima semana. “Além da retirada de cercas e muros, a ciclovia que existe na Península será ampliada até o Parque da Asa Delta”, afirma a assessoria. Todas as alterações estão no plano de fiscalização e remoção de construções e instalações erguidas na Área de Preservação Permanente (APP) do Lago Paranoá, que prevê a remoção de obstáculos da margem em três etapas.
Diante disso, a desocupação foi definida da seguinte maneira: a primeira etapa abrange as áreas que já são, quase que totalmente, ocupadas pelos brasilienses, facilitando a intervenção da Agefis, que terá 120 dias para concluir essa fase. Em seguida, será a vez das áreas parcialmente ocupadas e, por fim, o restante da orla, ou seja, os locais com o menor acesso dos visitantes. Na segunda etapa, a autarquia terá 240 dias para finalizar toda a ação e, na terceira, 480.
Polêmica
A desocupação da orla, que gerou impasse entre o governo e a Associação dos Amigos do Lago Paranoá (Alapa), continua dividindo opiniões. O professor Carlos Fernando Oliveira, 50 anos, morador do Lago Sul há mais de 30, é absolutamente contrário à mudança.
Segundo ele, a preservação da margem e a segurança dos moradores são algumas das preocupações. “No fundo da minha casa está o Parque da Asa Delta, que está super conservado. Acredito que se, de fato, houver a desocupação teremos uma grande devastação de toda a margem. As residências sujam muito pouco em relação ao que podem fazer com a orla se não houver fiscalização, cuidado e educação da população”, afirma o professor.
Opiniões se mantêm divididas
O morador do Lago Sul Carlos Fernando Oliveira ressalta o possível aumento da violência. “Uma orla toda aberta é um prato cheio para os bandidos, pois as casas são muito visadas devido ao alto poder aquisitivo dos moradores da região”, completa Carlos, questionando a intenção do governo.
“As regras precisam valer para todo mundo, inclusive, para os clubes e o Pontão. Por que só os moradores precisam perder tudo o que construíram? E o governo vai conseguir conservar a orla e fazer a manutenção das construções que passarão a ser públicas?”, finaliza ele, ressaltando ainda a falta de estrutura, como banheiros, em locais que já são abertos ao público.
Casal a favor
Por outro lado, o casal de moradores do Lago Norte César Munhoz, 53 anos, e Cristina Vieira, 58, afirma estar feliz com a desocupação. “Nós sempre caminhamos no parque do Lago Norte e gostamos disso, mas, de repente, a calçada acaba em um muro particular. Sentimos falta dessa continuidade na orla”, afirma o empresário.
Cristina concorda que serão necessárias regras. “A fiscalização será fundamental, principalmente, em relação ao lixo”, conclui a aposentada.
Restrições à beira-lago
Procurada pelo JBr., a Agefis explicou que serão removidos muros e cercas, inclusive as vivas, cobertas por algum tipo de arbusto, construídos em uma faixa de 30 m a partir da orla. O restante, acrescenta a assessoria do órgão, será mantido e passará a ser público. Portanto, píeres, quadras esportivas, piscinas ou outra benfeitoria feita na área poderão ser de uso de todos os brasilienses até que o Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos do DF (Ibram) decida o que será feito com as edificações.
“A intenção é que toda a orla seja desocupada”, ressalta a Agefis, por meio da assessoria. A autarquia alerta que a margem das quadras da ML do Lago Norte, do Setor de Clubes Esportivos Sul e Norte e do Pontão do Lago Sul não será modificada. De acordo com a agência, o acesso da população ao espelho d´água será por dois pontos: Península dos Ministros e Parque da Asa Delta. “A ideia é que as pessoas possam usufruir de toda a margem. Vale lembrar que, em alguns pontos, com vegetação nativa, serão restritos”, completa o órgão.