Planejada para ser modelo de ocupação, a região de Águas Claras, no Distrito Federal, completa 12 anos nesta quarta-feira (6) com pouco investimento em infraestrutura pelo poder público. Das 93 áreas da região destinadas a serviços públicos, como delegacias, hospitais e praças, apenas 36 foram ocupadas. Nos terrenos ainda sem ocupação não há previsão para obras no curto e médio prazos.
VEJA A DESTINAÇÃO DAS ÁREAS PÚBLICAS DE ÁGUAS CLARAS | ||
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Setor | Nº de lotes | Situação |
Educação | 24 | Uma creche construída |
Delegacia | 1 | Não construída |
Saúde | 4 | Nenhum obra feita |
Polícia Militar | 2 | Obras prontas |
Bombeiros | 1 | Em construção |
Templos religiosos | 6 | Todos construídos |
Caesb | 5 | Em funcionamento |
Metrô | 1 (sede) | Em funcionamento |
Administração regional | 1 | Não construído |
Praças | 43 | 20 prontas e as outras em fase de projetos |
Parque ecológico | 1 | Em funcionamento |
Parque Central | 1 | Projeto pronto, esperando recursos para licitação |
Parque Sul | 1 | Projeto pronto, esperando recursos para licitação |
Tribunal Regional Eleitoral | 1 | Em funcionamento |
Fórum do Tribunal de Justiça do DF e Territórios | 1 | Não construído |
Fonte: Administração de Águas Claras |
A única construção em andamento é o quartel do Corpo de Bombeiros, na avenida Sibipiruna, que tinha previsão de entrega em 1º de janeiro de 2016, mas que será adiada para o segundo semestre de 2016. Devido à falta de serviços públicos, moradores da região reclamam de ter de procurar atendimento em outros locais do DF.
A comerciante Gizelle Soares mora na região há quatro anos e diz que a infraestrutura é “péssima”. “Não tem nem hospital. Se você quiser e precisar de alguma coisa desse tipo, tem que ir para Taguatinga. Se tivesse aqui, ficava perto da gente, dividia o povo e não deixava tudo tão sobrecarregado. Como é que fazem um planejamento assim? Só querem prédio e só pensam nisso tudo depois.”
A professora Patrícia Gomes mora em Samambaia, mas passa o dia em Águas Claras, onde trabalha. Ela reclama que a maioria das regiões conta pelo menos com Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). “Nem isso aqui tem.”
O administrador de empresas Donny Mendoza, morador do local há sete anos, acredita que as áreas mais carentes sejam as de saúde, educação e transporte. “São as que mais precisamos hoje. Minha esposa teve de ser vacinada em Taguatinga, uma coisa tão simples. Aconteceu tudo isso, essa bagunça, porque não respeitaram o Plano Diretor. Cada construtora foi avançando e o governo deixou.”
Sem previsão
A administradora regional de Águas Claras, Patrícia Fleury, afirmou ao G1 que a falta de orçamento é o principal entrave para novas obras. “Eles têm a destinação prévia, mas a priorização e a competência de cada projeto são das respectivas secretarias. Todos estão sinalizando positivamente e se esforçando para tirar as obras do papel.”
Para Patrícia, a causa de tanto atraso se deve a questões políticas e ao ‘boom’ imobiliário vivido há alguns anos. Atualmente, a chamada Águas Claras vertical – que exclui Arniqueiras, Areal e a Área de Desenvolvimento Econômico – conta com 30% dos lotes residenciais disponíveis para construção.
“Claro que teve interesse político, mas acho que se deve mais ao crescimento muito rápido da região. Não tínhamos essa demanda há quatro anos. Todos do governo trabalham com especulações populacionais e não previam isso.”
A administradora falou que há dois projetos de mais creches e escolas em estudo pela Secretaria de Educação. Já a pasta de Saúde percebeu que deve priorizar unidades básicas de saúde, pois ainda não há demanda suficiente para um hospital, informou.
‘Desordem urbana’
O professor de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de Brasília (UnB) Frederico Flósculo afirma que Águas Claras vive uma “desordem urbana”, porque os governos das últimas duas décadas diminuíram de maneira substancial os investimentos em equipamentos públicos.
“Águas Claras virou vítima dessa omissão do Estado. O urbanismo é feito de gente. Ele tem que pensar no abrigo para as pessoas e na qualidade de vida delas, coisa que não se tem lá agora. Há solução técnica para tudo.”
Águas Claras foi baseada em um projeto formulado pelo ex-professor da UnB e urbanista Paulo Zimbres, realizado como um exercício acadêmico com apoio do GDF na década de 1980, e pretendia institucionalizar o sistema metroviário na capital federal.
“A situação era muito diferente da atual. Era o melhor projeto que tinha saído dessa faculdade na UnB, tinha várias tipologias. Começaram a construir no início de 90 com a promessa do metrô, mas depois foram alterando o projeto original com ampliações impactantes. Foi a maior especulação da história do DF.”
Quartel dos bombeiros em Águas Claras, que está em construção e deve ficar pronto no segundo semestre de 2016 (Foto: Luciana Amaral/G1)