Ano começa com 5 presidenciáveis e 4 correndo por fora para a eleição

Bolsonaro, Lula e Moro aparecem como pré-candidatos a presidente neste ano / Imagem: Reuters/Folhapress/AFP

As cartas para a eleição presidencial, em outubro deste ano, já estão sendo dadas. Por enquanto, há nove pré-candidatos para o cargo de presidente da República. Mas, até o dia 2 de outubro, esse número —e até os próprios presidenciáveis— deve mudar. Conversas para alianças e o surgimento de federações devem influenciar no xadrez político.

O presidente Jair Bolsonaro (PL) busca a reeleição com a vantagem de uma base fiel, mas a maior rejeição entre os pré-candidatos. Já o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) mantém-se favorito, de acordo com as pesquisas —algumas indicam a possibilidade de vitória dele no primeiro turno.

Coordenadora da pós-graduação de ciência política da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), Maria do Socorro Sousa Braga diz acreditar que “ainda é cedo para trazer um quadro mais preciso” para a eleição.

Para ela, tudo vai depender dos movimentos em torno de Lula e Bolsonaro. “São eles que estão atraindo e afastando as forças.”

Cientista político e professor do Insper, Carlos Melo concorda que é prematuro fazer previsões. “Me parece cedo. Ainda que me pareça que Lula tenha se consolidado. Bolsonaro está em risco, mas até aqui nenhum outro disparou para chegar a ele.”

Nessa caminhada, em busca da chamada terceira via, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), o governador paulista João Doria (PSDB) e o ex-ministro Sergio Moro (Podemos) tentam se apresentar como uma alternativa viável.

Braga e Melo concordam que as definições sobre federações —que devem estar prontas até o começo de abril— terão impacto nas conversas.

“Acho que elas devem acompanhar a lógica desses candidatos: Lula, Bolsonaro, Doria, Moro. Talvez Ciro tenha maiores dificuldades, com certo isolamento do PDT”, diz o professor do Insper. “Mas penso que o grid de largada seja com esses cinco. Os demais podem desaparecer naturalmente, ou servirem para coligações.”

Correm por fora, ainda sem grande popularidade —ou expressividade nas pesquisas— os senadores Alessandro Vieira (Cidadania-SE), Rodrigo Pacheco (PSD-MG) e Simone Tebet (MDB-MS), e o cientista político Luiz Felipe d’Avila (Novo).

Para Braga, esses são “balão de ensaio”, nomes que aparecem para a disputa mais “tentando se cacifar para aumentar a visibilidade em nível nacional”. Vieira e d’Avila, por exemplo, já se mostraram mais próximos de Moro, e Tebet teve um encontro recente com Doria.

Confira como estão as candidaturas para as eleições de 2022:

Ciro Gomes (PDT)

O ex-governador do Ceará tentará, pela quarta vez, chegar ao Planalto. Depois de ficar também em terceiro lugar em 2018, atrás de Bolsonaro e Fernando Haddad (PT), com 12%, tem dedicado os últimos três anos a rodar o país e divulgar seu plano econômico.

Em abril, contratou o marqueteiro João Santana, vitorioso com o PT, para tocar sua campanha com cifras milionárias —R$ 250 mil por mês. Crítico de Bolsonaro e Lula, ele tem focado suas cutucadas em Sergio Moro (Podemos), com quem disputa a terceira colocação nas pesquisas.

Jair Bolsonaro (PL)

Após finalmente escolher um partido para disputar a reeleição —o PL—, o presidente enfrenta hoje o pico da rejeição de seu governo, com má avaliações de gestão da pandemia e da economia.

Com laços estreitos com o PP —de Arthur Lira, presidente da Câmara, e do ministro Ciro Nogueira—, sua chapa deverá unir bolsonaristas e centrão. Apesar da alta rejeição (60%), tem um núcleo duro de apoiadores (cerca de 20%) que pode garanti-lo no segundo turno.

Para Braga, o apoio do centrão ajuda a pré-candidatura de Bolsonaro em um momento de baixa. Mas o presidente precisa ficar atento aos efeitos da crise econômica —principalmente os números do desemprego e da inflação. “Elas podem afetar a candidatura do atual presidente. E isso pode levar a saída desses partidos que hoje o apoiam.”

Ela ainda avalia que, se o nome de Bolsonaro for se desidratando para o pleito de outubro, a tendência é que surjam mais nomes de concorrentes. “Haja visto que a direita está muito fragmentada.”

João Doria (PSDB)

O governador paulista saiu fortalecido das prévias que o alçaram a pré-candidato tucano ao derrotar o governador gaúcho Eduardo Leite. A seu favor, tem a máquina do maior estado do país e a CoronaVac, primeira vacina contra covid-19 usada no Brasil.

Por outro lado, como ex-apoiador de Bolsonaro e crítico da esquerda, o hoje opositor do governo tem compilado também a antipatia dos dois lado, com 34% de rejeição no último Datafolha —segunda maior entre os pré-candidatos, empatado com Lula.

Lula (PT)

Após ter de retirar a candidatura em 2018 por causa de condenação criminal, o ex-presidente Lula chega a 2022 com um cenário totalmente diferente: suas condenações na Lava Jato foram suspensas e seu nome desponta em primeiro lugar nas pesquisas, com indicação de vitória no primeiro turno no último Datafolha.

Com aliança apalavrada com PSB e PCdoB, Lula poderá ganhar o reforço do ex-governador paulista Geraldo Alckmin (ex-PSDB) para vice. A chapa, até há pouco tempo improvável, tem tomado corpo e já é aceita por muitos quadros do PT. Isso, porém, deve ter outras consequências, como perder o PSOL na aliança, refratário a uma aliança com o ex-tucano.

O próprio PSOL já tem dialogado com a Rede para formar uma federação, o que pode mudar o cenário de apoio a Lula. “Pode impactar na apresentação de uma outra candidatura à esquerda. E isso pode reduzir a votação no ex-presidente”, analisa Braga.

Sergio Moro (Podemos)

Depois de negar envolvimento com a política em diversas ocasiões, Moro desembarcou dos Estados Unidos para se filiar ao Podemos em novembro. Estreou em terceiro lugar nas pesquisas como aguardado nome forte da terceira via, olhado com atenção pelos outros candidatos, mas a pré-candidatura ainda não decolou e ele enfrenta 30% de rejeição, segundo Datafolha.

Ex-juiz da Lava Jato, ele se afastou do bolsonarismo ao deixar o governo e tem focado no discurso anticorrupção e nos bolsonaristas arrependidos para crescer. Há também a dúvida se, ao longo do primeiro semestre, Moro e Doria, que são próximos, não irão decidir que apenas um irá efetivamente participar da disputa.

Correm por fora

  • Alessandro Vieira (Cidadania)

Saído da Rede em meio à eleição de 2018 por querer apoiar Bolsonaro, o senador eleito por Sergipe em primeiro mandato desponta entre grupos anticorrupção e de renovação política, mas, pouco conhecido, ainda não pontua nas pesquisas.

  • Luiz Felipe d’Avila (Novo)

O cientista político se tornou o nome do Novo no momento mais delicado da curta história do partido. Em meio à briga de bolsonaristas com o fundador João Amoêdo, ele participado do diálogo da chamada “terceira via” e não descarta retirar a candidatura.

  • Rodrigo Pacheco (PSD)

O presidente do Senado chegou ao PSD, saído do DEM, em outubro a convite do ex-ministro Gilberto Kassab. Alçado a presidenciável, sua candidatura ganha destaque pela posição no Congresso, mas ainda não ganhou engrenagem popular, com cerca de 1% nas pesquisas. Para lideranças de outros partidos, porém, a pré-candidatura pode servir como moeda de troca para articulações de Kassab.

E é esse ponto que pode ter peso na eleição do ano que vem. “Fica uma questão em razão da postura de Kassab: que insiste em candidatura própria e não fazer federação. Teremos que esperar para verificar se ele mantém essa posição. Hoje, ele afirma que sim, mas a realidade é sempre soberana”, analisa Melo. “Político profissional não briga com os fatos. Kassab é profissional. Vamos ver.”

  • Simone Tebet (MDB)

A senadora ganhou destaque nacional por sua atuação na CPI da Covid no segundo semestre. É tida como um nome que circula bem entre liberais e conservadores e tem sido cortejada para composição de chapa por Doria e Moro —o que o MDB diz não estar na mesa, ainda.

Fonte: UOL

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