“Atrai a mensagem quem responde as principais questões e anseios do eleitor”, avalia Fernanda Lambach

Por Sandro Gianelli

O Conectado ao Poder entrevistou a jornalista Fernanda Lambach, que estará no 15º Congresso Brasileiro de Estratégias Eleitorais e Marketing Político abordando o tema: A importância da oratória em tempos de comunicação digital. 

O que falar e como falar em reuniões políticas?

O conteúdo dependerá da pauta da reunião. O bom orador não se expõe em uma reunião sem antes estudar o tema e entender o contexto político-midiático em que o debate será travado.

Ouvir as mídias sociais, fazer o social listening, como dizem os especialistas, também é ponto crucial. Quais são as hashtags do momento sobre o tema? Ele perambulou pelos “assuntos do momento” do Twitter? Houve webinars recentes que abordaram o assunto sob outros ângulos?

Atualização é tudo.

O bom orador ouve mais do que fala. Ao ouvir, encontra brechas para estabelecer uma relação empática com o interlocutor.

O orador deve definir as mensagens-chave que pretende deixar. E aí, haja o que houver, atuará para que cada mensagem chegue de forma clara para todos. Para isso, precisa conhecer o público. Antes de uma reunião, ele deve entender quem são os interlocutores. Conhecer suas biografias, o viés político, e como já se pronunciaram ou votaram sobre o tema.

Conhecer muito bem quem está do outro lado da linha faz toda a diferença na hora de escolher o vocabulário, traçar a narrativa e estabelecer o tom que será usado.

O bom orador acredita plenamente na defesa que está fazendo. E esta certeza será confirmada pela linguagem não-verbal. A postura, o gesto, o sorriso, a testa franzida, tudo isso comunica o tempo todo.

Assim como porta-vozes passam por continuados coachings e media trainings, seus interlocutores estão cada vez mais preparados para ler gestos e microexpressões faciais. Daí a importância de se autoconhecer e treinar continuadamente a oratória.

Qual é a mensagem que atrai a atenção do eleitor?

Atrai a mensagem que responde as principais questões e anseios do eleitor. Daí a importância das pesquisas que ouvem como pensam e o que querem os eleitores, de preferência, com recorte regional. A partir dos achados, o candidato entenderá as mensagens que deve enfatizar.

Atrai a mensagem que responde ao problema de política pública que incomoda o cidadão. Mas tem de ser dita de forma clara, em tom seguro, sem rebuscamentos, tom demagógico, sem voltas.

O que atrai é a narrativa que não apenas fala do que o candidato, ou a candidata, pretende fazer, mas que mostra o caminho que seguirá para chegar lá. É preciso que o eleitor sinta confiança na resposta aos seus anseios: “Ele/Ela sabe o que vai fazer”.

Como ser um candidato diferente dos demais?

Cada candidato é um candidato. Eu diria: para ser diferente dos outros, seja você mesmo. Faça treinamentos de oratória, coachings, terapia, sessões de fonoaudiologia, mas nunca deixe que menosprezem a sua história de vida, que tentem mudar radicalmente seu estilo, que não considerem a sua trajetória pessoal, seu sotaque regional, a espontaneidade que faz seu olho brilhar. Seja sempre verdadeiro dentro da sua essência.

Não queira ser igual a outros políticos e discursar do mesmo jeito. Desenvolva um estilo próprio, aprendendo com os pontos fortes de quem você admira. Mas não queira copiar ninguém.

Como diminuir consideravelmente a hostilidade e a indiferença dos eleitores?

É preciso entender o que gera hostilidade e indiferença. A partir daí, tecer estratégia para a virada do jogo. A escuta ativa é uma competência que precisa ser melhor exercitada pelos oradores. Só ouvindo atentamente é que se encontrará a mensagem que precisa ser levada para apaziguar o interlocutor.

Como preparar o discurso certo para o público certo?

É preciso conhecer o público, ouvi-lo, entender suas dores, conhecer suas expectativas. Se for possível, vale a pena contratar instituto de pesquisa idôneo para apoiar na busca de respostas sobre o que o eleitor quer ouvir. Em campanha, não é possível se valer de “achismos”. É preciso sempre auscultar o cenário e atualizar estratégias. Inclusive de oratória.

Com a pesquisa pronta é importante saber ler os dados. Ouça especialistas neutros, que não estejam apaixonados por ideias, capazes de exercer o senso crítico e que possam ler os dados sem filtro.

Para além do conteúdo, o discurso certo tem de ter o tom mais adequado para cada público, as figuras de linguagem que melhor falem com o eleitor da região “x”, os exemplos que tragam as palavras para a concretude do dia a dia do eleitorado.

O quanto os gestos e comportamentos ajudam durante sua fala?

Os grandes oradores acreditam plenamente na defesa que estão fazendo. Essa certeza, entretanto, precisa ser confirmada pela linguagem não-verbal. A postura, o gesto, o sorriso, a testa franzida, tudo isso comunica. Na maioria das vezes, comunica mais do que muitas palavras pronunciadas. A mão que passa por detrás da nuca, por exemplo, pode mostrar ao eleitor que o candidato não acredita no que diz. Estaria ele mentindo? Por que está tão desconfortável?

Para melhor unir verbal e não-verbal é importante ter consciência corporal. Assim, manter a rotina de exercícios e experimentar aulas como as de canto e teatro ajudam muito.

O candidato precisa estar no controle das emoções, gestos e expressões faciais o tempo todo. Uma dica é destinar um tempo todos os dias, 20 minutos que sejam, ao feedback da equipe, revisão das técnicas e realização de breves exercícios preparatórios.

De que forma a postura e a oratória ajudam a conquistar os eleitores indecisos?

Os filósofos gregos falavam para seus discípulos na ágora, em praça pública. Convenciam sobre suas mensagens com raciocínio perspicaz, mas também com vocabulário adequado aos ouvintes, voz e gestos que vinham para potencializar suas defesas. Até hoje, a postura, os jogos de retórica, as perguntas que arrancam novos raciocínios, são ferramentas para a conquista, o convencimento, a persuasão via oratória.

O bom orador não precisa investir em alta tecnologia, metaverso, gameficação. Basta a presença, a força da verdade defendida pelo candidato, a coerência da narrativa, a habilidade em ajustar o vocabulário para cada público, a voz bem projetada e modelada, o tom adequado, a postura corporal correta e PRONTO! O corpo realmente fala!

Veja: o eleitor indeciso ainda não foi conquistado definitivamente por nenhum dos milhares de discursos postos na rua. Não foi convencido. Cabe a você tentar convencê-lo estabelecendo algo tão em moda modernamente, mas que poucos sabem como desenvolver: a empatia. Seja empático. Não traga suas ideias como uma chuva de imposições, mas como resposta ao anseio do eleitor que você, antes de qualquer coisa, ouviu com atenção. Mesmo que por meio de pesquisa.

Titubear durante um debate, reunião ou entrevista pode atrapalhar no resultado de uma eleição?

Vai atrapalhar. Nunca se participa de uma reunião sem a devida preparação. Existem treinamentos de alto risco reputacional que ajudam muito a evitar que o candidato saia surpreendido e titubeie.

Como vencer a timidez de falar em público?

Falando em público. É a melhor forma. Aceitar os convites e enfrentar a timidez é o primeiro passo. Grandes oradores começaram a falar para pequenas assembleias: dando palestras em reuniões da igreja, aula para crianças, participando de grupos comunitários. Vale se apresentar em reuniões familiares também. Repassar o texto com os filhos, com o marido ou a mulher.

Dependendo da intensidade desta timidez, vale pedir ajuda a profissionais. Para entender possíveis bloqueios, vale marcar consultas com psicólogos ou coaches certificados, que tenham formação em Psicologia. Cursos de oratória, sessões de fonoaudiologia, media trainings, aulas de teatro são bem-vindos na busca da extroversão.

Qual é o vocabulário ideal para o sucesso na campanha?

Vocabulário rebuscado, erudito, com expressões emprestadas do “juridiquês” ou qualquer outro “tecniquês” atrapalham a comunicação.

A comunicação entre candidato e eleitor é uma comunicação olho no olho. É uma conversa. Mesmo que intermediada por uma câmera. O vocabulário simples favorece esse olho no olho, essa conversa agradável que conquista.

Quanto mais simples o vocabulário, mesmo que mantenha certa formalidade, melhor será a comunicação. Frases na ordem direta, narrativas curtas, construções frasais fortes, mas sem excesso de adjetivação sempre vão bem.

Evite estrangeirismos, siglas que outros não conheçam, e tente ser cada vez mais empático.

Não seja verborrágico. Seja preciso. Em campanha, não se vence o outro pela exaustão.

Existem técnicas para elaborar um discurso escrito? Quais?

Existem metodologias e inúmeras técnicas, mas, no fundo, cada orador acaba desenvolvendo a sua própria. Uma técnica sugerida é a que eu chamo de “lista cruzada”:

Monta-se um diagrama com o grande tema no centro da figura: pode ser num papel, num quadro branco ou de vidro, usando um programa de computador. Não importa. Embaixo, o orador lista até três mensagens que quer deixar ao discursar. São os grandes eixos do discurso. Modernas técnicas de storytelling dizem que o cérebro humano apreende bem até três mensagens. Depois, a atenção vai embora.

Do lado esquerdo do diagrama, deve-se escrever todos os argumentos contrários à tese que o orador quer sustentar. Esses argumentos não devem ser inventados, nem ser fruto de achismos. Devem ser pesquisados em falas de opositores, as quais tenham sido publicadas em jornais, que estejam em notas taquigráficas das casas legislativas, etc.

Do lado direito, serão listados os argumentos que desconstruirão as mensagens listadas do lado esquerdo.

Com o diagrama posto, o orador deverá testar as três mensagens centrais. Devem mudar? Alguma deve ser eliminada? Alguma deve ser substituída por nova mensagem?

A partir dos achados, é possível desenvolver o discurso, consultando, quando necessário manuais de redação como o da Presidência da República. Sempre evitar discursos grandes que passem do tempo proposto para a ocasião. No mundo dos “leitores scanners” e dos contos em 140 caracteres não se deve abusar da boa vontade do público.

Quais as melhores dicas para uma apresentação em público?

Treinar, treinar, treinar.

Qual é a importância do media training para os políticos?

No mundo conectado todos somos mídias. Então os media trainings não tratam mais apenas do relacionamento com a imprensa, mas também com outras mídias. Ao entrar em um elevador, em um táxi, no supermercado, podemos estar sendo filmados ou fotografados. Essas imagens, em segundos, vão para as redes sociais, podendo detonar grave crise reputacional.

Leva-se anos para construir uma reputação, que pode ser destruída em um segundo.

O media training preparará o político para diferentes cenários político-midiáticos, inclusive os de altíssimo risco reputacional. Fará com que ele entenda a imprensa, o objetivo dos repórteres, dos influenciadores digitais, o papel relevante da assessoria de imprensa, a importância de se tornar uma fonte de credibilidade.

Durante o treinamento ele compreenderá riscos e oportunidades do relacionamento com as mídias. Há técnicas específicas para falar numa rádio, numa TV, em uma videochamada com vários jornalistas.

Além da teoria, a prática durante o media training permitirá que o político conheça melhor suas forças e pontos a serem trabalhados.

Cite algumas dicas para a realização de uma live política?

Nos últimos quatro anos, as lives tornaram-se cada vez mais comuns, principalmente por causa da pandemia e do respeito ao distanciamento social. Diferentemente das grandes coletivas de imprensa presenciais, as lives permitem que o porta-voz tenha maior controle do ambiente, imprima seu estilo, com mais espontaneidade, e converse com cada eleitor, olho no olho. Daí a importância de olhar para a câmera e não para a tela.

Se o candidato estiver no próprio notebook, deve ajustar a câmera do note na altura de seus olhos. Assim, por exemplo, não parecerá arrogante, olhando de cima para baixo. Ou pouco confiante, olhando de baixo para cima.

Para obter o melhor resultado, vale a pena investir numa iluminação adequada e cuidar com detalhes da maquiagem leve, que proteja a pele de brilho, o que dá a impressão de que há excesso de oleosidade.

Evitar roupas muito estampadas, listras, bolas. Joias e outros acessórios devem ser discretos.

Quanto mais clean e sóbrio o fundo, melhor. Assim, não tirará a atenção do eleitor. Ele pode, por exemplo, ficar tentando ler os títulos do livro na estante, descobrir o autor do quadro na parede, entender que enfeite é aquele na mesa e não prestar a atenção na mensagem.

Qual é a expectativa da sua palestra no 15º Congresso Brasileiro de Estratégias Eleitorais e Marketing Político?

Expectativa de movimentar muito o congresso no dia 27/5 pela manhã e de colaborar com novos insights que apoiem o desenvolvimento da oratória de cada um. Estou reservando algumas surpresas para a Sala de Consultoria em Oratória. A ideia é ter mais dinâmicas do que falação minha e que a teoria seja dada a partir dos resultados de cada simulação prática.

Serviço:

15º Congresso Brasileiro de Estratégias Eleitorais e Marketing Político

Local do evento: Faculdade Republicana, SEP Sul, Trecho 713/913 Edifício CNC Trade Térreo – Asa Sul, Brasília – DF

Data: 26, 27 e 28 de maio de 2022

Tíquete padrão: participação presencial – R$ 1.700,00/ participação virtual – R$ 900,00

Inscrições: estrategiaseleitorais.com.br

Fernanda Lambach é jornalista com especialização em Jornalismo e Sociedade pela Universidade de Brasília (UnB). É Gerente de Comunicação Corporativa da Sociedade Beneficente Israelita Brasileira Albert Einstein. Foi diretora de Relacionamento com o Poder Público da In Press Oficina desde 2019 a 2021; Diretora de Atendimento da FSB Comunicação entre 2009 e 2018 e diretora do escritório da Imagem Corporativa em Brasília em 2018. Tem expertise em Relações Institucionais e Governamentais; Comunicação em Ambiente de Poder; Planejamento Estratégico em Comunicação; Gestão de Imagem e de Crise; Media Training e Coaching Político. 

A jornalista também trabalhou na Gazeta Mercantil e no Correio Braziliense, onde ganhou o Prêmio Ayrton Senna de Jornalismo. Atuou como assessora parlamentar no Congresso Nacional e foi responsável pelo conteúdo do site Plenarinho.leg da Câmara dos Deputados. Coordenou as assessorias de Comunicação do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios e do Ministério do Turismo. 

Fernanda foi, ainda, professora nos cursos de Jornalismo da UnB, Iesb e Alvorada. Atualmente ministra disciplinas de Gestão de Crise e Media Training no curso de Pós-Graduação em Análise e Marketing Político da Faculdade Republicana. Sócia-fundadora do Brasil Equus Coaching, programa de desenvolvimento de competências pessoais e profissionais por meio de dinâmicas de Coaching, Psicologia, Comunicação e Hipismo. 

Fernanda Lambach tem perfil criativo, articulador e inovador. Destaca-se no desenvolvimento de estratégias para o ambiente de poder. Faz leitura de cenários político-midiáticos, construindo narrativas e encontrando oportunidades para fazer valer a argumentação do cliente. Grande habilidade para gerir crises. Sempre em busca de novos desafios, é flexível e conhecida por gerenciar com competência as equipes que coordena. Prima por entregas de qualidade aos clientes que atende.

Envie uma mensagem para o WhatsApp (61) 98406-8683 caso você tenha alguma notícia relacionada aos bastidores da política e queira vê-lá na Coluna do Gianelli.

*Sandro Gianelli é consultor em marketing político, jornalista, colunista e radialista. Escreve a Coluna do Gianelli, de segunda a sexta, para o portal Conectado ao Poder e para o Jornal Alô Brasília e apresenta um programa de entrevistas, aos domingos, das 9h às 11h, na rádio Metrópoles – 104,1 FM. 

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