A decisão do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) de manter a condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelos crimes de corrupção e lavagem de dinheiro tem impacto direto sobre a disputa à Presidência da República nas eleições deste ano. Enquanto o petista é o pré-candidato mais prejudicado pelo julgamento, outros aspirantes ao cargo começam a traçar estratégias para a campanha de 2018 e tentam diminuir a rejeição do público quanto à classe política.
“Devemos ter uma campanha feroz neste ano. Mais ainda do que na corrida eleitoral de 2014”, avalia o cientista político e professor da Universidade de Brasília (UnB) Everaldo Moraes. Para o pesquisador, ainda é difícil determinar o que vai acontecer na próxima eleição, pois, com a condenação de Lula e o enfraquecimento de candidatos mais tradicionais, ainda não é possível perceber como as forças políticas vão se articular para a disputa.
No entanto, a esquerda e, principalmente, o Partido dos Trabalhadores, devem ter um trabalho árduo pela frente. “Temos hoje uma polarização do antipetismo, que se traduz mais claramente na figura do deputado federal Jair Bolsonaro [PSC-RJ, mas que deve entrar na corrida ao Planalto pelo PSL]”, explica o especialista.
Crítico ferrenho dos ex-presidentes Lula e Dilma Rousseff, o parlamentar carioca despontou como o segundo colocado ao Planalto nas pesquisas de opinião, atrás apenas do petista. Para Everaldo Moraes, parte do sucesso de Bolsonaro se deve especificamente à postura combativa que adota diante da esquerda.
“Eu arriscaria dizer que uma parcela considerável dos votos hoje destinados a Bolsonaro vem desta posição que ele tinha já há muito tempo, combater o petismo, quando o partido ainda tinha popularidade e força no governo”, considera Everaldo Moraes. Mas ele adverte: “O problema é que o deputado tem posições controversas e é uma figura mercurial. Age com muita truculência no debate e, para uma disputa à Presidência, isso pode ser prejudicial.”
Caminho do meio
Fora dos extremos entre Lula e Bolsonaro, figuram candidatos já conhecidos do público que arriscaram concorrer à Presidência da República em anos anteriores. Entre eles estão Geraldo Alckmin (PSDB-SP) e Marina Silva (Rede). Para Moraes, apesar de serem possibilidades, ambos se encontram “enfraquecidos”.
“Alckmin e o PSDB são muito criticados por não terem sido combativos o suficiente durante as gestões do PT e pelo suposto envolvimento em esquemas de corrupção. Já Marina é citada por não aparecer nos períodos entre eleições e só se pronunciar em ocasiões próximas à disputa política”, explica o pesquisador.
O diagnóstico de enfraquecimento é corroborado por analistas da empresa de consultoria em gestão e comunicação Llorente & Cuenca. Para os pesquisadores, “Geraldo Alckmin (PSDB) tem a estrutura nacional mais bem montada, mas falta força para subir nas pesquisas.” A análise política feita pela empresa também aponta que “a falta de votos do tucano e o seu ainda baixo desempenho nas pesquisas podem dar espaço para candidatos de centro-direita, como Henrique Meirelles (PSD-SP) e Rodrigo Maia (DEM-RJ).”
À esquerda
Diante do crescimento dos nomes de direita, a esquerda ainda define sua estratégia. Nessa quinta-feira (25/1), o PT anunciou oficialmente a pré-candidatura de Lula à Presidência da República, apesar de sua condenação em segunda instância, proferida na quarta (24), o que em tese o tornaria inelegível, de acordo com a Lei da Ficha Limpa.
A proibição não é imediata, e o ex-presidente pode recorrer a cortes superiores para manter-se na disputa e registrar sua intenção junto à Justiça Eleitoral até o dia 15 de agosto, data final para registro de candidaturas. No entanto, caso perca a batalha judicial, terá de ficar fora da disputa ao Planalto e estará livre para usar sua influência como cabo eleitoral e prestar apoio a algum candidato.
Resta saber, no entanto, se o PT apresentará alguma outra opção ou se vai apoiar a chapa de partidos de esquerda. O vice-presidente do PDT, Ciro Gomes, é um dos que poderiam receber a aprovação de Lula. Já a deputada estadual Manuela D’Ávila (PCdoB-RS), quem já havia se lançado pré-candidata, independentemente da condenação ou absolvição do ex-presidente, também ganharia um grande impulso caso fosse a escolhida do líder petista.
De acordo com a avaliação dos analistas da Llorente & Cuenca, “esse cenário de indefinição poderá favorecer um candidato outsider, como o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa, que vem negociando uma candidatura pelo PSD.”
Fonte: Metrópoles