Enquanto o PT coloca Lula na corrida e tenta defender o governo da sua pior avaliação em quase cinco anos, PSDB busca desgastar Dilma Rousseff com vista às próximas eleições presidenciais. Outros partidos também estão no páreo.
Durante a discussão na Câmara sobre a MP 665, que restringe o acesso ao seguro-desemprego e ao abono salarial, o líder do governo da Casa, José Guimarães (PT-CE), deu uma estocada na oposição. Ao criticar a postura de partidos como PSDB e DEM, que em sua maioria votou contra a primeira parte do pacote de ajuste fiscal do Palácio do Planalto, ele externou um sentimento já bem conhecido nos corredores do Congresso: a corrida para sucessão presidencial de 2018 já começou.
“Nós não estamos discutindo um problema de governo. É claro que nós temos a responsabilidade de governar o Brasil, mas estamos tratando do futuro, da nossa previdência, estamos tratando da economia do futuro, ou vossas excelências não pensam em voltar a governar o Brasil um dia? Já se dão por derrotados em 2018?”, disparou o petista da tribuna da Câmara na quinta-feira (7). A declaração passou batida por parte dos deputados, que estava concentrada na votação, mas não escapou da observação de parlamentares mais próximos às cúpulas partidárias.
A discussão se torna inevitável, avaliam líderes, parlamentares e interlocutores do Palácio do Planalto, por conta da crise que o país atravessa. O governo Dilma Rousseff atingiu recordes históricos de má avaliação. O último levantamento feito pelo Ibope, a pedido da CNI (Confederação Nacional da Indústria), mostrou que a petista iniciou seu segundo mandato com os piores índices da sua administração: 78% desaprovam sua maneira de governar, e outros 74% não confiam na condução de Dilma à frente do Executivo brasileiro.
“O foco agora é causar instabilidade ao governo Dilma”Deputado Bruno Araújo, líder da minoria
Pesquisas internas encomendadas pelo Palácio do Planalto apontam para cenários semelhantes. Ou ainda mais pessimistas. Há alguns meses, o quadro de crise que atingia Dilma ainda preservava o ex-presidente Lula. Daí o governo e o PT terem optado por uma estratégia na qual Lula assumiria uma postura mais forte de defesa do partido, já que Dilma não tinha mais gordura para queimar. O ex-presidente assumiu, assim, um protagonismo maior, adotando uma postura mais próxima de pré-candidato. O vídeo em que aparecia fazendo exercícios numa academia foi o momento mais evidente dessa estratégia. Era Lula informando que estava com a saúde em dia e pronto para a batalha de 2018. Depois, assumiu a defesa do PT na propaganda divulgada em cadeia nacional de televisão na terça-feira (5) e criticou os deputados responsáveis por aprovar o projeto que regulamenta a terceirização no país. Ocorre que as pesquisas mostram que, a partir daí,a gordura do próprio Lula vem sendo queimada numa velocidade muito maior. Hoje, ele já não aparece como favorito na sucessão de Dilma nas pesquisas de que dispõe o Planalto.
“O desgaste do governo é muito grande. E a percepção é que o desgaste do PT é gigante”, avaliou um líder próximo ao Palácio do Planalto ao Fato Online sob condição do anonimato. Ele pondera que o conjunto de adversidades enfrentado pelo governo e pelo PT – institucional, social, econômica e política – dificultam muito a tarefa do partido em continuar no poder federal.
Uma outra fonte do próprio Planalto emenda que esse desgaste, que já chegou a Lula, transformou-o em alvo preferencial. “A partir do momento em que Lula passou a se expor mais, passou a ser mais atacado e entrou no mesmo redemoinho que já pegava o governo e o PT”, avalia.
Oposições
Se a situação desgasta o governo e seus planos eleitorais, as fileiras oposicionistas dividem-se quanto à melhor tática para se beneficiar da crise em 2018. Até porque, diante de uma perspectiva concreta de derrota petista, animam-se, do outro lado, possíveis candidatos. Por isso, nos bastidores, o PSDB tenta esfriar a discussão sobre quem será o candidato à presidência da República. O senador Aécio Neves (PSDB-MG), pelo seu desempenho no ano passado, quando ficou a 3 milhões de votos de ser eleito, é um nome natural. Mas outros políticos despontam, como o senador José Serra (PSDB-SP) e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB). “O foco agora é causar instabilidade ao governo Dilma”, afirmou o deputado Bruno Araújo (PSDB-PE), líder da minoria na Câmara e um dos vice-presidentes nacionais do partido.
Nas pesquisas, Aécio aparece em primeiro lugar, mas essa situação pode mudar. No encontro com os representantes dos movimentos sociais que comandam os protestos nas ruas, como o Vem Pra Rua, ele chegou a ser criticado. Terceira opção na linha sucessória tucana, Serra vem recebendo afagos do PMDB de Renan Calheiros, que não quer o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), como candidato do partido. Entre os peemedebistas, que estão longe de qualquer consenso no tema, o predileto é o prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Mas essa preferência pode mudar, dependendo do desempenho dos Jogos Olímpicos do próximo ano.
Serra foi questionado sobre isso durante entrevista à TV Fato. Ele não confirmou, mas também não desmentiu. Tem feito movimentos que demonstram que se encontra em plena campanha. Aceitando entrevistas, viagens e sendo muito simpático.
Outro presidenciável é o senador Álvaro Dias (PSDB-PR). De posicionamento independente e crítico ao governo, ele tem se mostrado distante da bancada tucana. Como ainda tem quatro anos pela frente, não tem pressa em deixar o partido, mas é uma opção que ele não descarta no futuro. Tem conversado com o PSB, mas está aguardando o resultado da fusão do partido com o PPS para saber qual será a orientação partidária no Paraná e nacionalmente.
Por sinal, a possível fusão do PPS com o PSB pode detonar o surgimento de uma terceira força na disputa eleitoral de 2018. Por enquanto, líderes avaliam que a união dos dois partidos tem como principal característica a sobrevivência político-partidária. Mas que, a depender das eleições de 2016, pode crescer a ponto de se tornar um destino viável para um candidato à presidência. No ano passado, os socialistas estavam vinculados à figura do ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos. A morte dele em acidente aéreo acabou levando Marina Silva a disputar o Palácio do Planalto, chegando novamente em terceiro lugar.
E a própria Marina ainda é outro nome no páreo. Acredita-se que seu partido, a Rede, consiga regularizar sua situação ainda nesta semana. Marina acabou tendo sua imagem desgastada na campanha presidencial. Mas já disputou duas eleições, e em 2018, pela primeira vez, estará como candidata de um partido que ela realmente comanda.
Fonte: Fato Online