Da redação do Conectado ao Poder
Ex-ministra participou de entrevista na rádio Atividade FM e reforçou que vizinhos e familiares têm papel fundamental na proteção das vítimas

A ex-ministra da Mulher, Família e Direitos Humanos, Cristiane Britto, destacou, em entrevista à rádio Atividade FM (107,1), a importância da denúncia e do envolvimento da sociedade no enfrentamento da violência contra a mulher. Durante o programa “Rota Atividade”, conduzido pelo jornalista Sandro Gianelli, ela ressaltou que a omissão e o medo impedem muitas vítimas de procurarem ajuda.
Segundo a ex-ministra, cerca de 70% das vítimas de feminicídio em estados como São Paulo e no Distrito Federal nunca acionaram os canais de denúncia. “Por que essas mulheres não acionam? Porque elas não confiam, porque acham que não serão bem atendidas, porque não sabem como funciona ou não conhecem esses canais”, afirmou. Ela explicou que, em situações de emergência, a orientação é acionar o 190 da Polícia Militar, enquanto o 180 é voltado para informações e denúncias após a agressão.
“Alô, vizinho” e a vigilância solidária
Cristiane Britto também ressaltou a importância da campanha “Alô, vizinho”, que incentiva a participação da sociedade na proteção das vítimas. “Sabe aquela história de que em briga de marido e mulher ninguém mete a colher? Ficou para trás. Você pode salvar uma vida”, disse. A ex-ministra contou um caso ocorrido em Chapecó (SC), onde uma mulher ameaçada conseguiu pedir socorro ao escrever uma mensagem com batom em uma toalha e jogá-la pela janela. Graças à atenção de um vizinho, ela foi salva.
A “vigilância solidária”, segundo Britto, é essencial para que mulheres em situação de violência consigam romper o ciclo de agressões. “Se a mulher não denuncia, ela demora a sair desse ciclo de violência. Muitas vezes, nem a família sabe o que está acontecendo dentro de casa”, alertou.
Impacto do feminicídio e a dependência emocional
A ex-ministra enfatizou que os casos de feminicídio não afetam apenas a vítima direta, mas toda a família, especialmente os filhos. Segundo ela, em 90% dos casos, as crianças presenciam a morte da mãe. “É um crime que destrói a vida de muitas pessoas que estão naquele núcleo familiar. A criança vai para um abrigo se não houver um familiar para acolhê-la. Muitas vezes, sente saudade do pai que está preso e fica confusa sobre como lidar com esse trauma”, explicou.
Ela também abordou a dependência emocional que muitas vítimas enfrentam, dificultando a formalização da denúncia. “A gente vê mulheres que, mesmo machucadas, pedem para soltar o agressor. Elas choram, batem no vidro da viatura, pedindo para ele não ser preso. É um crime complexo e exige que as redes de apoio estejam preparadas para lidar com essa situação”, pontuou.
Casos recentes reforçam a gravidade do problema
Durante a entrevista, foram citados episódios recentes que ganharam repercussão nacional, como o caso de um homem que espancou a esposa dentro de um supermercado em São Paulo e voltou para a prisão após ser flagrado por câmeras de segurança. Além disso, Cristiane Britto mencionou o aumento da violência contra mulheres idosas e a necessidade de ampliar a conscientização sobre esse tipo de crime.
Ela reforçou que a sociedade precisa atuar junto com o poder público para reduzir os índices de violência doméstica e feminicídio. “Esse não é um problema só do governo, é um problema de todos nós. Amanhã pode ser sua filha, sua irmã, sua esposa ou sua mãe. Precisamos agir agora”, concluiu.
A entrevista evidencia a necessidade de um esforço coletivo para garantir a segurança das mulheres e reforça a importância da denúncia como ferramenta essencial para a proteção das vítimas e a punição dos agressores.