Desde Collor, 10 chefes de governo deixaram o mandato antes do previsto

20151206220756322989eNo Equador, foram três os presidentes depostos desde 1997.

A interrupção do mandato de um presidente eleito pelas urnas não é novidade na história da América Latina. Além do senador Fernando Collor de Mello, impedido de governar o Brasil em 1992, após dois anos de mandato, ao menos outros 10 foram depostos por impeachment ou forçados a renunciar desde 1990. Cada um deles, sob motivos e cenários diversos. O primeiro a ser destituído na década de 1990, Collor foi alvo do processo de impeachment acusado de receber dinheiro arrecadado de forma ilícita pelo ex-tesoureiro de campanha Paulo César Farias. O ex-presidente chegou a renunciar, mas o Congresso decidiu manter o impedimento. Diante do processo, Collor passou oito anos inelegível, o que não teria ocorrido com a simples renúncia.
No Equador, foram três os presidentes depostos desde 1997. O primeiro deles foi Abadlá Bucaram, alvo de um processo de impeachment. O governo do equatoriano durou menos de seis meses. Bucaram foi acusado de corrupção e impedido por “incapacidade mental”. Mais tarde, em 2000, o presidente Jamil Mahuad foi deposto, acusado de abuso de autoridade e corrupção. No ano passado, a Justiça equatoriana o condenou a 12 anos de prisão por peculato, cometido em 1999. A crise no Equador continuou, com a aprovação, pelo Congresso, em 2003, de uma resolução que culminou na saída do presidente, o coronel Lucio Gutiérrez, acusado de articular pela absolvição de Bucaram, além de provocar uma séria crise no país.
No mesmo ano, foi a vez do presidente da Bolívia, Gonzalo Sánchez de Lozada, renunciar ao mandato após pressões populares. A decisão de exportar gás boliviano à América do Norte por um porto chileno a preços baixos motivou uma série de manifestações. Cerca de 80 pessoas teriam sido mortas nos atos, que foram fortemente reprimidos pela polícia. O mesmo processo ocorreu com Carlos Mesa, que assumiu a presidência depois de Losada, em 2005, sob a mira de uma onda de protestos semelhantes. As manifestações pediam nacionalização de hidrocarbonetos e a convocação de uma Assembleia Constituínte.
Revolta e fuga
Já no Paraguai, em 1999, o então presidente Raúl Cubas Grau fugiu do país, alvo de uma revolta cujo estopim foi a morte do vice-presidente Luis María Argaña. Um ano depois, foi a vez do então presidente do Peru, Alberto Fujimori, renunciar ao mandato. Acusado de uma série de crimes, como corrupção e até sequestro, ele renunciou ao cargo em viagem ao Japão, onde pediu refúgio político. Estava no terceiro mandato. No ano seguinte, em 2001, o presidente argentino, Fernando de La Rua, renunciou ao mandato após uma série de protestos que culminaram na morte de mais de 30 pessoas. O país estava em recessão havia três anos e a população exigia mudanças no rumo da economia.
O último presidente deposto na América Latina foi o presidente do Paraguai, Fernando Lugo, cujo impeachment foi aprovado pelo Senado, em 2012. A destituição dele foi considerada golpe por muitos países da América Latina. O gesto levou à suspensão do país do Mercosul. Na maioria dos casos, a destituição ocorreu depois de muitas manifestações sangrentas. Professor de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), Antonio Gehre, diz que a maioria dos casos de destituição na América Latina tem a ver com casos de corrupção e má gestão dos recursos públicos. “É um sinal favorável do fortalecimento da democracia na região”, disse. Ele acredita, no entanto, que o afastamento da presidente no Brasil colocará o país em um terreno perigoso. “O impeachment piora o quadro de instabilidade social e política. É muito ruim para o Brasil e para a região. Se o Brasil entra em processo violento de instabilidade, é um impacto negativo, porque o Brasil é o principal investidor da região”, diz.
“O impeachment piora o quadro de instabilidade social e política. É muito ruim para o Brasil e para a região” 
Antonio Gehre, professor de relações internacionais da UnB
Mandatos encurtados
Confira quem  foram os presidentes que deixaram mandato antes
do tempo na América do Sul, desde 1992:
1992 – Brasil: Fernando Collor de Mello (impeachment)
1993 – Venezuela: Carlos A. Pérez (impeachment)
1997 – Equador: Abdalá Bucaran (impeachment)
1999 – Paraguai: Raúl Cubas (sofreu processo de impeachment, mas renunciou)
2000 – Equador: Jamil Mahuad (renúncia)
2000 – Peru: Alberto Fujimori (renúncia)
2001 – Argentina: Fernando de La Rua (renúncia)
2003 – Bolívia: Gonzalo Sánchez de Losada (renúncia)
2005 – Bolívia: Carlos Mesa (renúncia)
2005 – Equador: Lucio Gutierrez (destituição por abandono de cargo)
2012 – Paraguai: Fernando Lugo (impeachment)
Fonte: Correio Braziliense
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