Em entrevista, o ex-chefe da Casa Civil aponta falta de bases como maior problema.
Depois de mais de quatro anos empenhado no sucesso do projeto de governo liderado por Rodrigo Rollemberg, cinco meses no papel de secretário superpoderoso e os últimos dias na ressaca do pedido de demissão, Hélio Doyle viveu ontem o primeiro dia útil fora do Palácio do Buriti. Em entrevista ao Correio, o jornalista faz um balanço dos erros e acertos. Revela que foi alvo de intrigas e fogo amigo. Saiu para não atrapalhar o sucesso da gestão. O ex-chefe da Casa Civil evita comentários negativos — ou positivos — ao sucessor, que toma posse quinta-feira, mas avalia que o papel de Sérgio Sampaio, será diferente do que teve no governo. Para Doyle, sem a comunicação e sem o papel de porta-voz do governo, o ex-diretor-geral da Câmara dos Deputados ficará blindado dos desgastes e petardos dos adversários políticos. “Vão encontrar novos alvos. Uma das minhas funções era justamente ser um anteparo do governador”, acredita Doyle.
Como é passar cinco meses sendo considerado tão ou mais poderoso que o governador e ter que abandonar o projeto ainda no início?
Essa é uma imagem criada. Ninguém é mais forte que o governador. Isso é uma bobagem. Ele foi eleito, tem o poder da caneta. Eu apenas tinha uma posição de destaque, por conta do cargo que exercia. O que havia eram intrigas de pessoas que queriam me desgastar.
Quem fazia intrigas?
Vinha de todos os lados. Pessoas com projetos políticos diferentes, com interesses contrariados, com ciúmes, partidos descontentes, muito fogo amigo. Isso em governo acontece. Existe certa normalidade, mas tem limite. Nesse caso, acho que passou.
Isso abalou a sua relação com o governador?
Nunca senti nenhum abalo. A gente até conversava sobre isso e ele me dizia que isso não o atingia. Ele sabe que o governador é ele.
Com o Cristovam Buarque, o senhor passou por um episódio parecido. Era um secretário forte e saiu prematuramente. Que semelhanças observa nesses casos?
Nos dois casos, houve intrigas internas e na política. Mas o Rodrigo é muito mais seguro, muito mais firme e muito menos influenciável do que é o Cristovam.
Em que pontos errou?
Errei ao me intimidar. Parei de aparecer e deixei de ser tão porta-voz. Isso acabou prejudicando o governo. Poucas pessoas se dispõem a defender o governo. Outra coisa que não foi um erro, mas não teria feito de novo, foi a entrevista que dei sobre os efeitos da Lei de Responsabilidade Fiscal. Falei com transparência o que prevê a lei. Por interesses, essa declaração foi deturpada e passou-se a dizer que eu defendia a demissão de servidores públicos. Não é verdade.
Por que acha que a deputada Celina Leão praticamente pediu a sua cabeça?
Ela teve interesses contrariados no governo. Mas não fui eu que contrariei esses interesses. É fácil culpar o secretário. Não saiu a nomeação? A culpa é do Hélio Doyle. Vetaram fulano de tal? A culpa é do Hélio Doyle. Passei a ser o culpado de tudo. É mais fácil atacar o supersecretário. Quando ela começou a pressionar o governo, a partir da divulgação de notícias de ligações dela com o Luiz Estevão e do nepotismo do funcionário dela, o governador disse que a relação estava complicada. Ela pediu a cabeça do controlador-geral. Seria o fim da picada o governador demitir o controlador-geral por estar fazendo bem o seu trabalho.
Quais interesses foram contrariados?
Ela queria dominar determinar áreas do governo, como o Detran. Nunca tive uma única discussão com a Celina, nunca a impedi de fazer nada. Não deixou de dominar o Detran por culpa minha.
Há falhas na articulação política?
A articulação política e a relação com a sociedade são os pontos fracos desse governo. A articulação política partiu de uma premissa errada. Mas não é uma questão de pessoa. Eu e o governador tivemos uma reunião com um médico muito renomado e ele comentou que, por conta do sistema atual da saúde, você pode colocar a maior sumidade na secretaria que não vai resolver. Tem que fazer uma mudança radical, seria trocar seis por meia dúzia mudar o secretário. O mesmo vale para a articulação política, não é uma questão de pessoa, é uma questão de ter estratégia clara e definida.
Acha que os insatisfeitos vão buscar um novo culpado a partir de agora?
Certamente. Mas como a Casa Civil a partir de agora vai ter um perfil mais baixo, ele vai se blindar disso. Não vai ser porta-voz, não vai ter área de comunicação com ele. Vão encontrar novos alvos. Uma das minhas funções era justamente ser um anteparo do governador.
Fonte; Correio Braziliense