Por Sandro Gianelli
Nas eleições de 2010, o então deputado federal Alberto Fraga, um dos secretários mais fortes do governo Arruda, tentou uma cadeira no Senado Federal. Fraga obteve mais de meio milhão de votos, no entanto ficou sem mandato. Naquela eleição foram eleitos Cristovam Buarque (então no PDT, hoje PPS), e Rodrigo Rollemberg (PSB). Foi a primeira vez na história política do DF que a esquerda elegia dois senadores.
Fidelidade
Fraga sempre se orgulhou de sua fidelidade política. Afirma que foi um dos poucos a permanecer ao lado do ex-governador Arruda quando ele foi preso na Caixa de Pandora. “Fui um dos poucos a ir visitá-lo na cadeia” afirma o parlamentar.
Abandonado
Sem mandato, mas com a presidência do Democratas do DF, partido que elegeu dois deputados distritais em 2010: Eliana Pedrosa e Raad Massouh. Pouco depois, Fraga teve que lidar com o abandono de assessores e filiados com expressão nas urnas, incluindo os dois parlamentares.
Faltou fazer política
Nas eleições de 2014, o Democratas não conseguiu eleger nenhum distrital. Apesar de ser bom de voto e um parlamentar combativo, Fraga não conseguiu sucesso como presidente de partido e nem na articulação política.
Indeciso 1
Fraga emplacou um bordão que custou caro ao governo Agnelo (PT): “Governador, respeite o povo”. Em vários momentos seu nome foi cogitado para disputar o Governo do Distrito Federal. Com a confirmação de Arruda como candidato, Fraga pleiteou uma vaga ao Senado, em seguida abriu mão para o senador Gim Argello concorrer a reeleição. Quando Gim foi indicado para uma vaga no Tribunal de Contas da União, Fraga voltou a se posicionar como candidato ao Senado. Sob protestos, Gim perdeu a vaga no TCU e Fraga acabou concorrendo à Câmara dos Deputados. Quando Arruda saiu da disputa ao Buriti, Fraga ainda ensaiou substituí-lo, mas a indicação ficou mesmo para Frejat.
Indeciso 2
Nas eleições de 2018, estamos assistindo o mesmo comportamento. Uma hora Fraga diz que é candidato ao governo, outra hora diz que gosta do Legislativo e por isso prefere concorrer ao Senado. A última declaração foi para o portal Extra Pauta. Fraga afirmou que concorreria ao Senado.
Pegou mal
No mesmo dia, Fraga grava um vídeo e desmente o portal, afirmando que será candidato ao GDF. O vídeo pegou mal nas redes sociais. A gravação foi feita na varanda de sua casa, de camiseta, em plena luz do sol, numa quinta-feira que, além de ser o Dia Internacional da Mulher, estava acontecendo a Convenção Nacional do seu partido em Brasília.
Sem articulação
Fraga poderia estar fazendo política e participando ou promovendo um evento em comemoração as mulheres ou estar na Convenção de seu partido. Recentemente o parlamentar tentou sem êxito ser eleito líder do Democratas na Câmara. Pesou contra o deputado seus adversários terem melhor articulação política. Nesse quesito, Fraga tem dificuldades tanto no DF, quanto em nível nacional.
Proposta segmentada
Nas eleições de 2018, Fraga pecou em não usar do mandato para fazer sua pré-campanha. O Democratas não possui uma nominata forte para nenhum cargo proporcional. Além disso, tem realizado um mandato com um único tema, a segurança pública, o que é pouco para governar o Distrito Federal.
Falha geral
Nas eleições de 2006, na pré-campanha, Arruda e Paulo Octavio tinham seus nomes espalhados por todo o Distrito Federal. Quem não se lembra do adesivo do “A”, de Arruda, e do “P.O.”, de Paulo Octavio? Justiça seja feita: todos os pré-candidatos estão falhando nesta estratégia, e não apenas o Fraga.
Debater Brasília
Nas redes sociais, Fraga tem muitos seguidores e poderia realizar transmissões ao vivo para debater os temas de interesse da população. O que notamos é a mesma pauta: Segurança Pública. No Democratas, poderia haver reuniões com grupos temáticos de especialistas debatendo e montando seu plano de governo.
Abandono
Após 2014, Fraga foi perdendo aliados históricos. Um deles, Tatu do Bem, afirma que foi em Samambaia que Fraga obteve sua maior votação proporcional em todo o DF. Abandonado, Tatu se lançou pré-candidato a deputado federal e espera que Fraga seja candidato a reeleição para tirar votos dele em sua cidade. Outros aliados nos momentos difíceis também foram esquecidos. Um deles é o Tenente Poliglota, vice-presidente do partido, que avalia uma saída da sigla.
Liderança
Nem o Fraga e nem nenhum outro político precisa ter excelência em todas as áreas, mas cabe à lideres reconhecerem suas fraquezas e se cercar de pessoas capazes de somar onde não se tem conhecimento. Presidir um partido e fazer articulação política são dois exemplos necessários de serem preenchidos. Como coronel da Polícia Militar, Fraga precisa deixar a farda e se cercar de assessores e não de soldados. “Sim, senhor” e “não, senhor” na política não soma.
Esperando
Enfim, Fraga tem dificuldade de passar credibilidade para governar o Distrito Federal. Enquanto outros candidatos oficializaram suas candidaturas, Fraga aguarda uma pesquisa, que não contará apenas com a intenção de votos, mas a rejeição, capacidade de articulação política, financeira e jurídica. Essa análise mostra que Fraga não é perito em todos estes aspectos.
Sola de sapato, santinho e saliva
Se outros políticos como Frejat ou Paulo Octavio pleitearem a vaga ao Senado, Fraga será candidato a reeleição. Se o cenário ficar propicio, ele até poderá concorrer ao Senado. Agora para o Palácio do Buriti, Fraga terá que colocar seus assessores, filiados e pré-candidatos para trabalhar, invadir as ruas de todo o DF e bater no peito com sua frase mais conhecida: “Estou aqui, quero ser governador, e vou respeitar o povo”. Assim, quem sabe, políticos e eleitores passem a acreditar na viabilidade de Fraga ser governador.
Ainda está em tempo
Nem tudo está perdido, mas cada dia desperdiçado afasta ainda mais Fraga do Palácio do Buriti, capacidade para isso ele tem, afinal, seu histórico no Executivo foi de pulso firme, captação de recursos e muito trabalho.
* A Coluna é escrita por Sandro Gianelli e publicada de segunda a sexta no Portal Conectado ao Poder, no Jornal Alô Brasília e no Portal Alô Brasília