Quinta substituição de ocupante de cargo de primeiro escalão acende a luz amarela no governo Rollemberg.
Com a saída de Georges Michel da pasta do Trabalho, a gestão de Rollemberg perde força. Presidente do PDT-DF, Michel é o quinto secretário a deixar o cargo e o nono titular de posto elevado, considerando autarquias, subsecretarias e Polícia Militar, a ser substituído desde janeiro.
No caso de Michel, conhecido por colegas como um grande brizolista, o pedido de exoneração partiu dele próprio, após recuo do Buriti na construção do memorial João Goulart. No entanto, a pressão política e a acusação de má gestão costumam ser associadas à queda dos membros do secretariado.
“Isso demonstra erro nas escolhas de quem ele colocou para estar à frente do governo”, simplifica o deputado Bispo Renato Andrade (PR). Apesar de considerar que mudanças são comuns no cumprimento de um mandato, ele culpa a falta de indicações com respaldo da Câmara e a presença, no alto escalão, de pessoas pouco envolvidas mo dia a dia do Distrito Federal. Andrade cita, como exemplos, o atual diretor do DFTrans, Léo Carlos Cruz, vindo do Espírito Santo; o novo secretário da Saúde, Fábio Gondim, candidato a deputado no Maranhão em 2014; e o secretário de Fazenda Leonardo Colombini, vindo de Minas Gerais.
Fora da reta
Com média de uma exoneração significativa por mês, os rumos do governo criaram desconfiança na Câmara Legislativa. Muitos deputados relutam em propor nomes para cargos públicos ou mesmo em se disponibilizar para assumir uma pasta. O bispo Renato Andrade, que criticou a falta de gestores experientes, revelou não querer fazer indicações no momento, mesmo entendendo que os políticos devem contribuir em tempos conturbados.
O próprio líder do governo na Casa, deputado Júlio César (PRB), admite “não ter nenhuma vontade” de se tornar secretário. “O momento é difícil, mas encaro as mudanças de forma natural”, emenda. “Nunca vi um governo iniciar o mandato com um time e permanecer com ele por quatro anos”, completa.
Michel protesta por memorial de Jango
Georges Michel não esconde sua contrariedade com a retirada de apoio, por parte do governo Rollemberg, à construção de memorial destinado ao ex-presidente João Goulart. Nega que tenha sido esse o motivo de sua saída, embora ontem mesmo participasse de protesto contra a decisão. No entanto, auxiliares seus falam em queixas de todos contra a falta de estrutura nas pastas e em problemas no custeio da máquina.
Ponto de vista
Para o especialista em administração pública José Matias-Pereira, as trocas de secretariado e as mudanças em cargos de confiança revelam a inexperiência de Rodrigo Rollemberg. “Não podemos ignorar que o governador não tem, no currículo, histórico de gestor. Ele nunca esteve à frente de alguma instituição grande ou de uma prefeitura ou algo nesse nível.
Ele é novo e está em processo de aprendizagem”, argumenta. Matias-Pereira crê, ainda, que o socialista comete os mesmos erros da gestão de Agnelo ao fazer muitas nomeações por motivação política sem a garantia de um retorno técnico. “O secretariado tem desde pessoas competentes e com capacidade adequada até figuras totalmente despreparadas. Isso gera conflito. Acho que a sensação da população é que Rollemberg não sentou na cadeira de governador. Isso pode ser danoso”, conclui.
Governo não começou, diz líder
Crítica do governo e fora da base aliada desde junho, a presidente da Câmara, Celina Leão, não vê problema nas mudanças. “A máquina pública está fazendo seus ajustes, mas o governador precisa ter as metas claras. Os secretários que não as alcançarem devem ser trocados mesmo”, defende.
Ela lembra, no entanto, que as substituições devem ser feitas levando em consideração a capacidade técnica e política do nomeado, pois o excesso de gestores sem experiência na vida pública teria levado Rollemberg a “dar umas escorregadas”.
Líder do PT na Câmara, Chico Vigilante diz não estar surpreso e acusa o governo de ainda não ter começado. “Quando Rollemberg deixa uma pessoa da importância e capacidade do (Georges) Michel sair é algo ruim para a cidade, que está paralisada”, esbraveja.
Na visão do deputado Reginaldo Veras (PDT), porém, a saída do presidente de seu partido no DF não abala as relações com o Buriti e a entrada do jovem Thiago Jarjour na pasta do Trabalho significa trocar seis por meia dúzia.
“São várias as pessoas a deixarem o governo, mas nada que abale a estrutura e justifique encaminhamento de uma reforma administrativa. Vejo os casos como questões pontuais”, opina.
Para o deputado Wellington Luiz (PMDB), no entanto, as exonerações dão “impressão de que o governo não tem uma equipe”.