“Mulheres na política melhoram a qualidade da democracia”, disse Juliana Fratini

Por Sandro Gianelli

O Conectado ao Poder entrevistou a Cientista política Juliana Fratini, que estará no 15º Congresso Brasileiro de Estratégias Eleitorais e Marketing Político abordando o tema: Participação das Mulheres na Política. 

Como você vê a participação das mulheres nos espaços de poder e decisão no Brasil?

As mulheres são subrepresentadas e ainda encontram muitas dificuldades para lançar candidaturas e ocupar espaços de poder, de um modo geral. Contudo, muito trabalho institucional tem sido feito para alterar esse quadro, assim como mudanças na legislação.

Por que as mulheres estão subrepresentadas nas instâncias de poder institucionais?

Porque as instituições possuem, ainda, uma cultura tradicional que é bastante machista, que reserva à mulher espaços secundários e terciários. Existem boicotes e castrações dentro das instituições, embora nos últimos anos tenha havido mudanças consideráveis. Mudanças essas devido a intensa pressão social de grupos femininos.

Você acredita que o peso dobrado no voto feminino trará alguma mudança na postura dos dirigentes partidários em relação as mulheres?

Em partes sim, por uma questão estratégica, de quociente eleitoral e do cálculo financeiro que os partidos fazer para ter mulheres que recebam recursos (já que a lei obriga, também o destino de 30% de recursos para candidaturas femininas). No entanto, a presença de mais mulheres na competição tende a acirrar também as disputas internas por portos internos do próprio partido e há muitos homens que não vão gostar ou terão alguma dificuldade de lidar com isso.

Temos menos mulheres interessadas na política ou realmente existe um boicote com a participação das mulheres?

As duas coisas. O que falta, ainda, é melhorar os canais informativos de participação, investir em incentivos capazes de mudar a cultura brasileira, que é patriarcal e machista, restringindo, ainda, as mulheres a determinados espaços e direcionando-as a exercer determinadas funções. Todavia, as mulheres já estão mais conscientes de que a política pode contribuir com o empoderamento não apenas dela própria como da comunidade que participa, além de provocar mudanças sociais e políticas significativas. Em linhas gerais, é uma questão de melhorar a educação e as estruturas para que as mulheres participem de núcleos de poder.

Os partidos tem grandes dificuldades em encontrar mulheres para participarem das eleições. O que pode ser feito para mudar isso?

Depende. Em alguns casos sim, em outros menos. Ocorre que a mulher acumula muitas funções e para abrir mão delas para se dedicar um grande período na política, no lançamento de uma candidatura, requer tempo, recursos financeiros e uma infraestrutura mínima. A mulher é quem, geralmente, sustenta a infraestrutura familiar, por isso é mais complexo para ela abrir mão. É evidente que outras não se interessam e, ainda, os casos em que nem sempre são recebidas como imaginam pelos partidos, o que faz com que se desmotivem.

A presença das mulheres na política melhora a política?

Sem dúvida. Hoje a mulher é subrepresentada, embora compreenda mais de 50% da sociedade e do eleitorado. Melhora a qualidade da democracia, inclusive.

Quais foram as principais mudanças na legislação eleitoral que impacte as mulheres?

Mais do que a legislação recente que é composta por uma série de mecanismos que as pessoas podem procurar na Internet, é mais importante focar na ideia de que as mulheres estão lutando para ter “cadeiras” no Parlamento, um montante ideal que seria de 50% reservadas para as mulheres. Hoje a legislação obriga que os partidos lancem 30% de candidaturas femininas mas no Parlamento temos a metade disso, apesar da lei! E essa metade significa um avanço enorme em relação aos pleitos anteriores ao de 2018. Há Câmaras Municipais que não possuem sequer uma vereadora eleita! Ou, então, um número muito baixo de vereadoras. Por isso as mulheres querem cadeiras reservadas!

O que o eleitor pode fazer para contribuir com a igualdade de gênero na política?

Votar em mais mulheres e contribuir com as candidaturas femininas.

O Brasil ocupa a 142º posição no ranking de participação de mulheres na política. Qual era a posição ideal de acordo com o tamanho do país?

O ideal é sempre o 1º lugar, em qualquer situação. E para chegar a este ideal as mulheres precisam ocupar 50% dos espaços de poder para que haja equilíbrio!

Qual é a expectativa da sua palestra no 15º Congresso Brasileiro de Estratégias Eleitorais e Marketing Político?

Muito positiva. Poder dialogar de maneira mais aprofundada sobre a temática e estimular a participação de mais mulheres na política, o engajamento da imprensa e da sociedade civil na causa.

Serviço:

15º Congresso Brasileiro de Estratégias Eleitorais e Marketing Político

Local do evento: Faculdade Republicana, SEP Sul, Trecho 713/913 Edifício CNC Trade Térreo – Asa Sul, Brasília – DF

Data: 26, 27 e 28 de maio de 2022

Tíquete padrão: participação presencial – R$ 1.700,00/ participação virtual – R$ 900,00

Inscrições: estrategiaseleitorais.com.br

Juliana Fratini é cientista política pela Fundação Escola de Sociologia e Política, Mestre e Doutoranda pela PUC-SP, especialista em Globalização e Cultura pela FESP-SP e Finanças e Políticas Públicas pela Universidade de Chicago. Atuou em mais 30 campanhas eleitorais para o Senado, Governos de Estado, prefeituras e Defensoria Pública, além da comunicação institucional do Governo Federal. É membro-fundadora dos grupos Delibera Brasil e Abrapel e organizadora das obras “Campanhas Políticas nas Redes Socias: Como fazer comunicação digital com eficiência” e “Princesas de Maquiavel: Por mais mulheres na política”, ambas da Editora Matrix.

Envie uma mensagem para o WhatsApp (61) 98406-8683 caso você tenha alguma notícia relacionada aos bastidores da política e queira vê-lá na Coluna do Gianelli.

*Sandro Gianelli é consultor em marketing político, jornalista, colunista e radialista. Escreve a Coluna do Gianelli, de segunda a sexta, para o portal Conectado ao Poder e para o Jornal Alô Brasília e apresenta um programa de entrevistas, aos domingos, das 9h às 11h, na rádio Metrópoles – 104,1 FM. 

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