O presidente dos Estados Unidos reconheceu que o grupo jihadista Estado Islâmico representa um perigo para os civis e deve ser contido, mas afirmou que não é uma ameaça à existência nacional dos Estados Unidos.
Washington, Estados Unidos – O presidente Barack Obama disse na terça-feira (12/1) que o povo americano não deve temer o futuro, e que os Estados Unidos são o país mais poderoso do mundo, no discurso do Estado da União pronunciado no Congresso em Washington. Obama destacou que os americanos “vivem uma época de mudanças extraordinárias e gostemos ou não, o ritmo destas mudanças vai se acelerar”.
A declaração foi uma crítica velada a Donald Trump, Ted Cruz e uotros importantes pré-candidatos republicanos. “O futuro que queremos (…) está ao alcance, mas apenas chegará se trabalharmos juntos, se realizarmos debates racionais e construtivos”. “Isto ocorrerá apenas se corrigirmos os defeitos da nossa política”. “Muito do que podemos fazer passa pela mudança do clima político e da atitude das pessoas”, disse Obama, recordando os lemas de sua campanha “mudança” e “esperança”.
O presidente reafirmou que “os Estados Unidos ainda são o país mais poderoso do mundo”, destacando que “as versões sobre sua decadência econômica, diplomática ou militar são apenas fumaça”. “Os discursos sobre a decadência econômica americana são fumaça política, assim como toda a retórica sobre nossos inimigos tornando-os mais fortes e os Estados Unidos, mas fracos”. “Os Estados Unidos são a mais poderosa nação do mundo. Ponto”. “Somos a mais forte, a mais durável economia do mundo (…), e os que afirmam que os Estados Unidos estão em decadência contam uma ficção”.
Obama recordou que na área militar, os Estados Unidos “investem mais em suas Forças Armadas que as oito (demais potências) nações somadas. Nossas tropas são a mais sofisticada máquina de combate da história do mundo”. “Nenhum país se atreve a nos atacar ou a nossos aliados porque sabe que este é o caminho para a ruína”. Neste quadro, a ameaça são menos os “impérios maléficos e mais os estados quebrados”.
Obama reconheceu que o grupo jihadista Estado Islâmico representa um perigo para os civis e deve ser contido, mas afirmou que não é uma ameaça à “existência nacional” dos Estados Unidos.
A ameaça aos EUA “é o que Estado Islâmico quer contar, esta é a propaganda que usa para recrutar”, mas não existe “isto de que é a Terceira Guerra Mundial”. “Se o Congresso é sério em relação a vencer esta guerra, se queremos enviar uma mensagem a nossas tropas e ao mundo, vocês devem autorizar o uso da força militar contra o Estado Islâmico. Votem”. “Os argumentos exagerados de que esta é a Terceira Guerra Mundial redundam apenas em benefício do grupo”, disse.
Com sua maneira característica, Trump respondeu e afirmou que o discurso de Obama foi “realmente tedioso, lento, letárgico, muito difícil de ver”.
Luta contra o câncer
Em outro trecho do discurso, Obama revelou que sua administração iniciará um novo e descomunal esforço para encontrar a cura do câncer, com a mesma determinação que há 60 anos se decidiu levar o homem à Lua. “Em nome das pessoas que amamos e que perdemos e pelos familiares que ainda podemos salvar, façamos dos Estados Unidos o país que vai curar o câncer de uma vez e para sempre”, desafiou o presidente.
Fim do embargo a Cuba
Obama voltou a pedir que o Congresso suspenda finalmente o embargo econômico e financeiro a Cuba, aplicado há meio século. O presidente lembrou que “50 anos de isolamento de Cuba fracassaram em promover a democracia e nos atrasaram na América Latina”. “Por este motivo, iniciamos o processo para restabelecer as relações diplomáticas. “Vocês querem consolidar nossa liderança e credibilidade no hemisfério? Então reconheçamos que a Guerra Fria acabou. Levantem o embargo sobre Cuba”.
O presidente defendeu ainda o fechamento da base militar de Guantánamo, em Cuba, que é “cara e desnecessária”, e serve apenas (de propaganda) para recrutar inimigos. A liderança que os Estados Unidos precisam “depende do poder do nosso exemplo. É por este motivo que continuarei trabalhando pelo fechamento da prisão de Guantánamo. É cara de desnecessária, e serve apenas como atrativo para recrutar nossos inimigos”.
Grande oportunidade
Quase 30 milhões de pessoas assistiram o tradicional discurso, considerado a última grande oportunidade para o 44º presidente dos Estados Unidos falar aos cidadãos no horário nobre da TV. Mas a notícia de que 10 militares americanos fora, retidos em uma base naval iraniana no Golfo ameaçava ofuscar o discurso.
Foi um discurso heterodoxo, afastado da tradicional lista de conquistas e projetos legislativos para o ano que começa, em uma tentativa de Obama de levar o olhar do país para além de sua presidência. Houve apenas uma menção ao sistema migratória, mas nada sobre as deportações que provocaram a revolta dos aliados do presidente e a ironia dos críticos.
Uma rápida referência e uma cadeira vazia marcaram o tema do controle de armas e o alarmante número de mortes por armas de fogo (mais de 30 mil por ano). Em outro gesto simbólico, um refugiado sírio que fugiu dos bombardeios do regime de Bashar al-Assad foi um dos convidados de honra da primeira-dama, Michelle Obama.
E em um momento de franqueza, Obama lamentou as divisões políticas em Washington. “É um dos poucos remorsos de minha presidência, que o rancor e a suspeita entre os partidos tenham piorado, ao invés de melhorar”, disse.
Fonte: Correio Braziliense