No último discurso da União, Obama diz que América “não deve temer futuro”

20160113092420188965aO presidente dos Estados Unidos reconheceu que o grupo jihadista Estado Islâmico representa um perigo para os civis e deve ser contido, mas afirmou que não é uma ameaça à existência nacional dos Estados Unidos.

Washington, Estados Unidos – O presidente Barack Obama disse na terça-feira (12/1) que o povo americano não deve temer o futuro, e que os Estados Unidos são o país mais poderoso do mundo, no discurso do Estado da União pronunciado no Congresso em Washington. Obama destacou que os americanos “vivem uma época de mudanças extraordinárias e gostemos ou não, o ritmo destas mudanças vai se acelerar”.

 Os Estados Unidos “já passaram por mudanças importantes no passado – guerras, recessões, chegada de imigrantes, lutas sindicais e pelos direitos civis – e sempre há aqueles que nos dizem que devemos ter medo do futuro (…), mas todas as vezes superamos estes medos”.

A declaração foi uma crítica velada a Donald Trump, Ted Cruz e uotros importantes pré-candidatos republicanos. “O futuro que queremos (…) está ao alcance, mas apenas chegará se trabalharmos juntos, se realizarmos debates racionais e construtivos”. “Isto ocorrerá apenas se corrigirmos os defeitos da nossa política”. “Muito do que podemos fazer passa pela mudança do clima político e da atitude das pessoas”, disse Obama, recordando os lemas de sua campanha “mudança” e “esperança”.

O presidente reafirmou que “os Estados Unidos ainda são o país mais poderoso do mundo”, destacando que “as versões sobre sua decadência econômica, diplomática ou militar são apenas fumaça”. “Os discursos sobre a decadência econômica americana são fumaça política, assim como toda a retórica sobre nossos inimigos tornando-os mais fortes e os Estados Unidos, mas fracos”. “Os Estados Unidos são a mais poderosa nação do mundo. Ponto”. “Somos a mais forte, a mais durável economia do mundo (…), e os que afirmam que os Estados Unidos estão em decadência contam uma ficção”.

Evan Vucci/AFP

Obama recordou que na área militar, os Estados Unidos “investem mais em suas Forças Armadas que as oito (demais potências) nações somadas. Nossas tropas são a mais sofisticada máquina de combate da história do mundo”. “Nenhum país se atreve a nos atacar ou a nossos aliados porque sabe que este é o caminho para a ruína”. Neste quadro, a ameaça são menos os “impérios maléficos e mais os estados quebrados”.

Obama reconheceu que o grupo jihadista Estado Islâmico representa um perigo para os civis e deve ser contido, mas afirmou que não é uma ameaça à “existência nacional” dos Estados Unidos.

A ameaça aos EUA “é o que Estado Islâmico quer contar, esta é a propaganda que usa para recrutar”, mas não existe “isto de que é a Terceira Guerra Mundial”. “Se o Congresso é sério em relação a vencer esta guerra, se queremos enviar uma mensagem a nossas tropas e ao mundo, vocês devem autorizar o uso da força militar contra o Estado Islâmico. Votem”. “Os argumentos exagerados de que esta é a Terceira Guerra Mundial redundam apenas em benefício do grupo”, disse.

Com sua maneira característica, Trump respondeu e afirmou que o discurso de Obama foi “realmente tedioso, lento, letárgico, muito difícil de ver”.

Luta contra o câncer
Em outro trecho do discurso, Obama revelou que sua administração iniciará um novo e descomunal esforço para encontrar a cura do câncer, com a mesma determinação que há 60 anos se decidiu levar o homem à Lua. “Em nome das pessoas que amamos e que perdemos e pelos familiares que ainda podemos salvar, façamos dos Estados Unidos o país que vai curar o câncer de uma vez e para sempre”, desafiou o presidente.

Fim do embargo a Cuba
Obama voltou a pedir que o Congresso suspenda finalmente o embargo econômico e financeiro a Cuba, aplicado há meio século. O presidente lembrou que “50 anos de isolamento de Cuba fracassaram em promover a democracia e nos atrasaram na América Latina”. “Por este motivo, iniciamos o processo para restabelecer as relações diplomáticas. “Vocês querem consolidar nossa liderança e credibilidade no hemisfério? Então reconheçamos que a Guerra Fria acabou. Levantem o embargo sobre Cuba”.

O presidente defendeu ainda o fechamento da base militar de Guantánamo, em Cuba, que é “cara e desnecessária”, e serve apenas (de propaganda) para recrutar inimigos. A liderança que os Estados Unidos precisam “depende do poder do nosso exemplo. É por este motivo que continuarei trabalhando pelo fechamento da prisão de Guantánamo. É cara de desnecessária, e serve apenas como atrativo para recrutar nossos inimigos”.

Grande oportunidade
Quase 30 milhões de pessoas assistiram o tradicional discurso, considerado a última grande oportunidade para o 44º presidente dos Estados Unidos falar aos cidadãos no horário nobre da TV. Mas a notícia de que 10 militares americanos fora, retidos em uma base naval iraniana no Golfo ameaçava ofuscar o discurso.

Foi um discurso heterodoxo, afastado da tradicional lista de conquistas e projetos legislativos para o ano que começa, em uma tentativa de Obama de levar o olhar do país para além de sua presidência. Houve apenas uma menção ao sistema migratória, mas nada sobre as deportações que provocaram a revolta dos aliados do presidente e a ironia dos críticos.

Uma rápida referência e uma cadeira vazia marcaram o tema do controle de armas e o alarmante número de mortes por armas de fogo (mais de 30 mil por ano). Em outro gesto simbólico, um refugiado sírio que fugiu dos bombardeios do regime de Bashar al-Assad foi um dos convidados de honra da primeira-dama, Michelle Obama.

E em um momento de franqueza, Obama lamentou as divisões políticas em Washington. “É um dos poucos remorsos de minha presidência, que o rancor e a suspeita entre os partidos tenham piorado, ao invés de melhorar”, disse.

Fonte: Correio Braziliense

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