Importante aliado do governador critica mudanças constantes na administração e sugere a Rollemberg que seja ágil na tomada de decisões.
Rogério Rosso foi governador do DF em um mandato-tampão de oito meses. Eleito deputado federal no ano passado, ele é o presidente do partido que mais ganhou com a eleição da chapa de Rodrigo Rollemberg para o comando do Palácio do Buriti, o PSD. Emplacou o vice-governador – Renato Santana – que tem ganhado cada vez mais espaço na gestão, com o discurso de sair da bolha e arregaçar as mangas, o secretário de Desenvolvimento Econômico – Arthur Bernardes – e um senador – Hélio José, que era suplente do atual governador. Em nome do partido, Rosso tem feito uma série de sugestões ao governador e conseguiu, inclusive, agendar uma reunião com a presidente Dilma Rousseff para tratar de crise econômica. Em uma avaliação da gestão, ele sugere que o governador valorize os servidores públicos e tome decisões rápidas.
Como o senhor avalia o cenário de crise pela qual passa tanto Brasília quanto o Brasil?
Nós estamos vivendo aqui no DF talvez o momento mais difícil das últimas décadas. Uma crise econômica financeira local, em que o governador demonstra dificuldades em arcar com o pagamento de despesas obrigatórias, em razão de ter recebido da gestão anterior uma situação financeira difícil. De outro lado, vivemos uma crise econômica nacional sem precedentes. Uma crise política, em que os indicadores da economia são todos negativos: arrecadação tributária, investimentos, projeção de crescimento, PIB (Produto Interno Bruto), enfim… Isso faz com que todos encontrem soluções, porque o que está em jogo no DF é o essencial: quando o governo tem dificuldade em pagar salários em dia e em manter serviços públicos de qualidade, está aceso o sinal vermelho. Sem contar o clima muito negativo para o ambiente de negócios no DF. É um momento delicado, singular. Mas não devemos apenas olhar no retrovisor para encontrar culpados. A gente precisa encontrar soluções, que, na minha avaliação, passam por diálogo e a ajuda que o Governo do DF precisa buscar. É preciso evitar que a população arque ainda mais com despesas. Por este motivo, o PSD é absolutamente contrário ao aumento de impostos, taxas e contribuições. O brasiliense já paga imposto demais e nossos serviços públicos têm uma qualidade cada vez pior.
Como o PSD tem se posicionado diante das tentativas do governo de aumentar impostos e taxas?
Somos contrários. O partido teve a oportunidade se manifestar em uma correspondência que eu entreguei pessoalmente ao governador Rodrigo Rollemberg. Colocamos lá uma série de medidas que consideramos fundamentais, como por exemplo, o lançamento de um novo programa de desenvolvimento para o DF, onde o Pró-DF será apenas um itenzinho. Com essa ação, será possível implementar pólos econômicos em várias cidades do DF, para que vários empreendimentos públicos e privados se instalem ali. Mas, para isso, é preciso ter uma visão governamental de que, mesmo no momento de crise, nós precisamos de estimular os negócios na capital.
Programas como este surtiriam resultados em longo prazo. Que medidas o senhor acha que o governo deve adotar, para ter dinheiro em caixa para pagar os salários de outubro, por exemplo?
Em nove meses, três secretários importantes foram substituídos – Hélio Doyle (chefe da Casa Civil), Gestão Administrativa e Desburocratização (Antonio Paulo Vogel) e Fazenda (Leonardo Colombini) – e isso é preocupante. É preciso que se implemente o programa de governo. A impressão que eu tenho é que o Rodrigo está se esforçando para reduzir estruturas e despesas. Mas, para buscar receitas, não acho que o único caminho seja aumentar impostos. É preciso ter eficiência na cobrança, fomenta os negócios e aumenta a atividade econômica e a empregabilidade. O programa de desenvolvimento econômico dará resultados sim em médio e longo prazos, mas, com a execução, o ambiente melhora no curto prazo. Entendo que o governador precisa elencar uma série de ações para sairmos da crise, como buscar ajuda do Governo Federal. Eu fiz um apelo para a presidente Dilma Rousseff se reunir com o Rodrigo para entender a crise e ela ficou muito preocupada. Ela montou um grupo de trabalho do qual participo para encontrar soluções. Eu sugeri que o BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social) faça um aporte de recursos para o BRB (Banco de Brasília), para que ofereça, a custo muito baixo, financiamentos para microempreendedores e a ela autorizou. De outra parte, o DF tem uma carteira imobiliária incrível. São ativos imobiliários que nem usa eventualmente, que o governo poderia se desfazer para equacionar a questão do caixa. É importante também a ferramenta de concessões – sejam simples ou por meio de parcerias público-privadas. Mas, para que isso ocorra, é preciso ter uma filosofia governamental. Outra coisa: é preciso estimular o entorno do DF. É preciso sair do Buriti, como órgão central, e se espalhar.
Como o governador tem recebido essas sugestões do partido?
Eu tive uma boa surpresa, quando o governador resolver dar atribuições às administrações regionais. O governo começou com as administrações sendo uma espécie de ouvidoria. Brasília mudou e se a gente não acompanhar, vamos ter uma péssima gestão, incompatível com as demandas do DF e do mundo moderno. É preciso encarar as regiões administrativas como se municípios fossem.
A autonomia financeira para as administrações passa pela eleição para administrador, uma das grandes bandeiras de Rollemberg na campanha ao governo?
A eleição direta para administrador nos parece razoável, mas se o administrador não tem recurso e não coordena as regionais de cada cidade, o que ele vai fazer? A gente precisa tratar isso com muita responsabilidade e seriedade, sob o prisma da eficiência em prol da população. Defendemos que, antes da eleição, viesse uma inicial autonomia financeira para criar as bases de uma eleição direta. Entretanto, essa bandeira foi muito forte durante a campanha e certamente ele será cobrado por isso. Mas, até para que se implemente as eleições, é preciso ter recursos financeiros e de pessoal. Portanto, tenho a impressão de que o governador vai enfrentar esse tema, mas não agora.
A que o senhor atribui as baixas no primeiro escalão – sete secretários já pediram para sair?
Sabemos que é atribuição exclusiva do governador mudar a equipe quando bem entender. Mas, mudanças constantes significam descontinuidade administrativa. Isso a gente tem que evitar. O núcleo de governança dessa gestão foi alterado em menos de um ano, o que acende um sinal de alerta. Eu não sei os motivos pelos quais os secretários foram substituídos, mas eu tenho a convicção de que isso seja ruim. Eu vejo que, quando há esse tipo de alteração no núcleo duro do governo, os novos secretários precisam entender como estão as situações administrativa, financeira, fiscal… isso demanda tempo. E o governo não pode perder mais tempo. Nós já estamos no mês nove dos 48. São quase 20% da gestão. O momento, agora, já é de mostrar resultados.
O senhor acha que o PSD pode contribuir mais, se tiver mais espaço no governo?
Esta questão de cargos, para nós, é irrelevante, porque o partido apostou e aposta em um projeto de governo, de gestão. Na nova política, é preciso olhar para a eficiência e não para a quantidade de órgãos que o partido gerencia. Nunca houve conversas do partido para ampliar o espaço. Temos muitas ideias e propostas para implementação imediata. E o que a gente quer é isso: procurar convencer o governador de que existem propostas de inovação e tantas políticas públicas que podem dar certo.
O fortalecimento do Entorno do DF é uma das bandeiras do seu mandato. Como está a tramitação do projeto que cria a Zona Franca do Entorno do DF na Câmara?
A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) cria uma área próximo ao Distrito Federal, essencialmente no Estado de Goiás, para que as empresas que lá se instalarem tenham os mesmos incentivos oferecidos pela Zona Franca de Manaus. Várias empresas de vários segmentos já estão se interessando pela proposta. Esta é uma das apostas que fazemos para fortalecer o Entorno. A proposta já foi aprovada pela CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara dos Deputados e deve ser analisada por uma comissão especial, que está em fase de formação.
O PSD tem feito um papel de protagonista neste governo – tanto com o vice-governador Renato Santana quanto com o secretário de Desenvolvimento Econômico, Arthur Bernardes. O partido articula uma candidatura de Rogério Rosso para 2018?
Os gestores do PSD têm esse perfil, de trabalhar na ponta, ouvindo, discutindo, analisando e sugerindo, de forma imediata. O partido tem essa filosofia e conquistou espaços por este motivo. O sucesso do governo do Rodrigo, do trabalho do Renato e do Arthur vai credenciar o partido para disputar uma eleição. Qual o cargo? Eu não poderia dizer, três anos antes. Tem muita água para passar por debaixo da ponte. a absoluta prioridade deve ser a gestão. A situação financeira é tão grave que aquele que se posicionar hoje, pensando em eleição em 2018, na minha avaliação, está errando. O povo do DF confiou no Rodrigo Rollemberg e no Renato Santana para governarem o Distrito Federal. Se eles não forem bem, não sei se vai confiar de novo.
Em quais momentos o senhor acha que Rollemberg errou nestes quase nove meses?
O governador se isolou muito da classe política no primeiro semestre e pouco compartilhou as angústias, os problemas. Isso afasta as pessoas. A gente vive em um regime democrático, em que o diálogo é fundamental. Na minha avaliação, o Rodrigo precisa dialogar mais. E colocar pessoas experientes, que conheçam os problemas e, acima de tudo, que saibam apontas soluções. É importante ter mestres e doutores na equipe, mas é preciso ter também as pessoas que tenham experiência. E o servidor público de carreira do DF tem muita experiência e já viveu muitos cenários. Eu acho que o governador precisa ter participação de mais servidores públicos no governo. Eu vejo também que é preciso ter muita criatividade e visão sistêmica de tudo. O governador precisa tomar decisões rápidas. Precisa fazer consultas, mas precisa ser ágil para tomar decisões. Isso é fundamental, porque demorar ou deixar de tomar decisões faz com que a crise aumente. O governador Rodrigo precisa trazer a Câmara Legislativa para o lado dele e o servidor público junto. Como se fosse um fórum permanente de diálogo. E ter foco. Priorizar a questão do desenvolvimento econômico, saúde, segurança e transporte. É importante delegar. O governador precisa confiar na equipe dele e tomar decisões. Aquilo que não der certo vai sendo corrigido. Repito: é importante tomar decisões rápidas e cobrar resultados. Que o governador implemente o que os seus secretários estão sugerindo, que escute os deputados distritais, tanto da base quanto da oposição, que conhecem as regiões administrativas e os problemas de cada uma delas. Ou seja: precisa de muita humildade.