Por Marcelo Senise
Com o impasse criado pela suspensão do impulsionamento de conteúdo político pelo Google e potenciais restrições por outras plataformas, a Inteligência Artificial se destaca como chave para equilibrar a arena política digital, redefinindo estratégias de campanha e promovendo uma democracia mais inclusiva.
A recente decisão do Google de suspender o impulsionamento de conteúdos políticos nas eleições municipais de 2024, que entra em vigor no dia 1º de maio, representa um marco significativo na forma como as campanhas eleitorais serão conduzidas no Brasil. Essa medida, que afeta diretamente o uso do Google Ads e plataformas associadas como o YouTube para a promoção de candidaturas, levanta questões profundas sobre o futuro da publicidade eleitoral online e seu impacto sobre os pequenos candidatos.
A proibição, motivada pela incapacidade técnica de se adaptar às exigências do artigo 27-A da resolução 23.732, de 27 de fevereiro de 2024, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), reflete os desafios enfrentados pelas grandes tecnologias em se alinhar com regulamentações locais específicas. O artigo em questão impõe condições rigorosas para o impulsionamento de conteúdo político, visando garantir a transparência e o equilíbrio no processo eleitoral.
O impacto dessa decisão é particularmente significativo para os pequenos candidatos, que tradicionalmente dependem de plataformas digitais como meios acessíveis e eficazes de alcançar o eleitorado. O Google Ads e o YouTube, com seu vasto alcance e capacidade de segmentação precisa, oferecem ferramentas valiosas para campanhas com recursos limitados. Sem a possibilidade de impulsionamento nessas plataformas, esses candidatos enfrentam o desafio de encontrar alternativas viáveis para comunicar suas propostas e engajar com os eleitores.
Além disso, a decisão do Google pressiona outras grandes empresas de tecnologia, como a Meta, proprietária do Facebook e Instagram, a reconsiderar suas políticas de anúncios políticos. A possibilidade de a Meta seguir o mesmo caminho, em virtude de dificuldades semelhantes em se adequar às exigências do TSE, poderia restringir ainda mais o espaço digital disponível para a publicidade eleitoral. Tal cenário representaria um golpe significativo para a democracia digital, limitando as oportunidades para vozes emergentes e diversificadas no debate político.
O debate sobre a suspensão dos anúncios políticos no Google e no YouTube, e a possibilidade de medidas semelhantes por parte da Meta, destaca a tensão entre a necessidade de regulamentar a propaganda eleitoral online para prevenir desinformação e abusos, e o risco de inadvertidamente silenciar participantes menores no processo democrático. A busca por um equilíbrio entre esses objetivos é crucial para garantir que o espaço digital permaneça um terreno fértil para a expressão política, especialmente para aqueles com menos recursos e visibilidade.
Diante das restrições impostas e da necessidade de adaptar-se rapidamente a um ambiente regulatório em constante evolução, a inteligência artificial surge como uma ferramenta estratégica fundamental. Capaz de analisar grandes volumes de dados para otimizar a entrega de conteúdo, a IA pode ajudar candidatos a alcançarem seu público-alvo com eficiência, mesmo sem o suporte do impulsionamento pago.
Além do mais, a IA oferece a possibilidade de personalizar campanhas de acordo com as preferências e comportamentos do eleitorado, garantindo que as mensagens políticas sejam mais relevantes e engajadoras. Essa abordagem não só compensa a ausência de anúncios pagos mas também promove um diálogo mais direto e significativo entre candidatos e eleitores.
À medida que nos aproximamos das eleições municipais de 2024, a suspensão de anúncios políticos pelo Google e a incerteza sobre políticas similares em outras plataformas destacam a necessidade de inovação na comunicação política. A inteligência artificial, neste contexto, representa uma oportunidade valiosa para superar esses desafios, oferecendo caminhos alternativos para a divulgação de ideias e propostas políticas. Embora a restrição ao impulsionamento de conteúdo político possa parecer um obstáculo, ela também pode servir como um catalisador para a adoção de novas tecnologias e estratégias que fortaleçam a democracia digital. A integração da IA nas campanhas eleitorais não é apenas uma resposta às limitações atuais, mas um passo em direção a uma comunicação política mais adaptada, eficiente e, em última análise, mais engajadora para o eleitorado.
Marcelo Senise – Presidente do IRIA – Instituto Brasileiro para a Regulamentação da Inteligência Artificial, Sociólogo e Marqueteiro, atua a 35 anos na área política e eleitoral, especialista em comportamento humano, e em informação e contrainformação, precursor do sistema de analise em sistemas emergentes e em Inteligência Artificial.
Twitter: @SeniseBSB / Instagram: @marcelosenise