Se o voto de uma única pessoa não influencia em nada o resultado da eleição, o que leva os eleitores às urnas?
Uma das questões fundamentais que a análise política procura explicar é o que leva os indivíduos a votar, ou seja, o que é capaz de fazer uma pessoa a se deslocar de sua residência até o local de votação, enfrentando o trânsito congestionado, filas e tudo mais, somente para depositar um voto na urna?
A teoria da escolha racional do voto pode ser atribuída a Downs
Obviamente, num contexto institucional no qual o voto é obrigatório, como no Brasil, o ônus causado por sanções legais, seria uma das explicações possíveis para a participação política, entendida aqui como o ato de votar.
Não obstante, cabe ressaltar que o alistamento eleitoral é voluntário, e todos os dados indicam que o crescimento do eleitorado é maior do que o crescimento vegetativo da população, ou seja, há um número maior de pessoas procurando o direito ao voto do que o crescimento da população.
Duas teorias explicativas para a participação política
Dentre as várias linhas de interpretação do comportamento político, cabe destacar duas teorias, que são as mais utilizadas pelos analistas políticos: a teoria da escolha racional e a teoria sociológica do voto. A primeira pode ser atribuída a Anthony Downs que, em uma obra intitulada Uma Teoria Econômica da Democracia, de 1957, procura associar a decisão do voto a uma decisão econômica. Os eleitores participariam do processo eleitoral a partir do cálculo de possíveis benefícios, em termos de política pública, que seriam obtidos com a vitória deste ou daquele candidato.
A partir deste cálculo racional, os eleitores tomariam a iniciativa de votar no candidato que, segundo sua expectativa, traria maior benefício ou simplesmente abster-se de votar.
O calcanhar de Aquiles dessa teoria reside na figura do “carona”, ou numa linguagem utilizada pela própria teoria da escolha racional, free-rider, ou seja, o indivíduo que chega a conclusão de que irá obter os benefícios esperados independentemente da sua participação. Assim sendo, o free-rider usufrui dos resultados obtidos pela ação de outros cidadãos.
Já para a teoria sociológica do voto, a participação política é determinada pelo grau de identidade entre grupos sociais e partidos políticos.
As bases dessa teoria foram sintetizadas por Lipset & Rokkan em um artigo intitulado Estruturas de clivagem, sistemas partidários e alinhamentos de eleitores. Neste artigo os dois autores demonstram como a consolidação do sistema partidário no continente europeu reproduziu as várias divisões (clivagens) existentes nas sociedades.
Dessa forma, as divisões entre operários e empresários, católicos e protestantes, centros urbanos e periferias rurais eram representadas no parlamento por partidos políticos que defendiam nos legislativos os interesses específicos desses segmentos sociais.
A participação política, segundo a teoria sociológica do voto, seria estimulada pelo grau de identidade entre grupos e partidos. Todavia, esta identidade também não impede que ocorram comportamentos do tipo free-rider.
A incerteza como estímulo para a participação política
O ponto em comum entre as duas teorias da participação política aqui analisadas é o fato de que a incerteza é vista como um estímulo para a participação política. O comportamento do tipo free-rider se apóia na idéia de que é possível alcançar um determinado benefício sem que se aja para tanto. Contudo, o que aconteceria se um conjunto mais amplo de eleitores adotasse o mesmo comportamento?
A incerteza é vista como um estímulo para a participação política
Seguramente o resultado esperado não seria obtido. Como não existe nenhuma forma infalível de prever-se o desfecho de uma eleição, os indivíduos seriam motivados a participarem de um pleito, votando no candidato de sua preferência, exatamente por não saberem como os demais eleitores se comportarão, mesmo que as pesquisas de tendência de votos indiquem algum provável resultado.
Em outras palavras, na dúvida sobre o comportamento dos demais eleitores, o eleitor é estimulado a praticar um ato individual e completamente isolado, como única atitude possível diante de um grau imenso de incerteza. No final das contas, as duas teorias da participação política convergem, assim como converge para o desfecho de uma eleição a soma das atitudes individuais.
Fonte: Política para Políticos