“O status quo tende a ganhar com a baixa participação dos jovens e sua veia questionadora faz falta no debate político”, defende o cientista político Valdir Pucci

Por Sandro Gianelli

O Conectado ao Poder entrevistou o cientista político Valdir Pucci, que é Diretor-Geral da Faculdade Republicana e será um dos palestrantes do 15º Congresso Brasileiro de Estratégias Eleitorais e Marketing Político. 

A Faculdade Republicana é uma das poucas no Brasil que ministra cursos superiores voltados para profissionais do Marketing Político. Qual a avaliação dos cursos ofertados?

Para nós da Faculdade Republicana o saldo e a avaliação são bastante positivos. Temos como lema da Republicana: o melhor de Brasília para o Brasil. Sendo Brasília o centro das decisões políticas do país, o que acontece e é decidido aqui reverbera em todo o país, portanto, entendemos que cursos voltados para a política e para o marketin político nascidos em Brasília, criados e ministrados por quem vive essa realidade diariamente, só pode gerar muito conhecimento aos alunos e a nós também. Como ofertamos cursos em EaD, podemos juntar em uma única turma, realidades de norte a sul e a troca de experiencias é muito rica para todos os envolvidos no processo de aprendizagem. Outro ponto importante é a importância de se capacitar. O marketing político não é feito de tentativas e erros. Possui uma ciência e uma lógica que pode ser aprendida por profissionais de várias áreas interessadas no assunto. Quanto mais a pessoa se especializar no tema, maior serão as chances de sucesso na profissão. 

A baixa quantidade de jovens com título de eleitor pode influenciar as eleições de que forma?

Os jovens expressam uma população importante no país. Apesar da nossa pirâmide demográfica ter se alterado nas últimas décadas, com aumento do número de pessoas idosas e adultas e diminuído o número de jovens, estes ainda são uma fatia importante da população e do eleitorado. Outro ponto que deve ser levado em consideração é, que devido a sua natureza, o jovem é mais questionador e aberto a mudanças. Com essas duas observações, quando temos uma baixa participação da juventude no processo eleitoral as consequências não são boas para o processo e nem mesmo para eles. No quesito processo eleitoral, sem os jovens, a política tende a ser menos aberta a mudanças e inovações. O status quo tende a ganhar com a baixa participação dos jovens e sua veia questionadora faz falta no debate político. Acredito que haja um empobrecimento da política sem os jovens. Para eles também é muito ruim. Aqueles que não participam não entendem que tudo na sua vida é influenciado pela política (educação, emprego, saúde, segurança, diversão…). Quando o jovem não participa, deixa essas decisões para gerações mais velhas, que muitas vezes possuem outras preocupações diferentes de quem está começando a vida adulta. 

Atualmente o eleitor está mais ou menos interessado em participar das eleições?

O eleitor brasileiro tem amadurecido politicamente. Temos que lembrar que essa já é a nona eleição seguida que realizamos no período democrático, sem contarmos as eleições municipais. O eleitor brasileiro já sabe o que esperar do processo e da política. Dito isso, temos que lembrar que, mesmo em sociedades consideradas democracias avançadas e onde não há o voto obrigatório, a participação no processo eleitoral é, por volta, de 60% em condições normais. Claro que em momentos de polarização ou de mobilização, esse número tende a aumentar, mas no geral, são números de participação menores que no Brasil e isso não diminui a visão que temos de democracias sólidas. Portanto, participação popular nas eleições não pode ser o único nem a principal referência de participação política. Não vejo o brasileiro menos ou mais interessado em participar das eleições que cidadãos de outros Estados, pois isto é um sazonal, com momentos de maior ou menor participação política. Agora, não podemos deixar de destacar que atualmente há um grande descrédito na maioria dos países que a política tradicional possa dar as respostas que as sociedades esperam para seus problemas.   

Você acredita que teremos mais votos brancos, nulos e eleitores que não vão comparecer?

Teremos, nessa eleição, um número significativo de eleitores que não irão votar ou simplesmente anularão ou votarão em branco. Não acredito em um aumento significativo desses números, mas ficaremos acima dos 20%, como em eleições anteriores. Ressalvo o que foi dito na pergunta anterior, mesmo com esse alto índice, o eleitor brasileiro não se porta de maneira diferente do eleitor médio mundial. Hoje, em quase todo o mundo democrático, um dos grandes desafios de políticos, marqueteiros e partidos é convencer o eleitor a sair de casa para votar e, se sair, não votar em branco ou nulo. 

Ainda é possível que um candidato da terceira via consiga se posicionar e fazer frente a polarização Lula x Bolsonaro?

Acredito ser muito difícil o rompimento dessa polarização pelos números de hoje. Vejo que a terceira via perdeu o “timming” de se colocar como uma alternativa ao eleitor, que em seu imaginário já consolidou a eleição entre Bolsonaro X Lula. É interessante que as pessoas não perguntam em quem você votará, mas se você votará em Bolsonaro ou em Lula, como se não houvesse um primeiro turno com mais candidatos. A 3º via perdeu tempo com suas disputas internas e esqueceu o mais importante que é falar com o eleitor. Temos que lembrar que a campanha oficial é muito curta no Brasil (45 dias) e nesse prazo é muito difícil reverter posições consolidadas no eleitor. Agora, não podemos esquecer que há casos em que isso foi possível. Há exemplos de candidaturas que vieram de baixo, no início da campanha, e saíram vitoriosas ao final. Em eleições, uma boa estratégia de marketing político pode mudar cenários, mas desde que feita de forma profissional  

Você acredita que o peso dobrado no voto feminino trará alguma mudança de comportamento entre os dirigentes partidários?

Com certeza. Essa ideia de contar com peso 2 o voto dado as mulheres durante as eleições muda muito a forma como passam a ser vistas nas eleições. Infelizmente não eram poucos os casos em que as candidaturas femininas eram utilizadas apenas como forma de cumprir a regra eleitoral de 70/30 para gêneros. Agora, o partido que quiser ter sucesso na distribuição de recursos depois das eleições não pode apenas lançar candidatas, mas deve investir nas candidaturas femininas para que isso se converta em votos e, futuramente, em fundo eleitoral. 

O que pode ser feito para incentivar as mulheres a participarem da política?

O incentivo a participação feminina vem de exemplos. Quanto mais mulheres vitoriosas na política tivermos, mais mulheres serão incentivadas a participar. Agora, o apoio partidário também é importante. A mulher que ingressa na política precisa de suporte do partido para enfrentar, primeiro os desafios naturais de qualquer um que se aventure como candidato/representante, mas também os desafios que a política realizada, majoritariamente por homens, impõe a elas. Importante a mulher se capacitar para a política com cursos, palestras, seminários… Quanto mais conhecimento ela tiver, mais estará preparada para enfrentar as barreiras que possam ser colocadas a sua participação. 

O voto nos deputados distritais/estaduais continua sendo decidido em cima da hora?

Sim, infelizmente o eleitor brasileiro se concentra muito nas eleições majoritárias (presidente e governador) e ainda não entende o papel e a importância do legislativo para a sua vida cotidiana, além do número excessivo de candidatos que são apresentados ao eleitor em pouco tempo, o que dificulta a sua percepção de escolha (vale lembrar que essas eleições terão um aspecto diferente que é a diminuição do número de candidatos pela regra eleitoral em vigor, o que também poderá alterar essa dispersão da percepção eleitoral). Diante deste quadro, nosso eleitor tende a escolher seu candidato de última hora. O grande desafio do candidato e de seu marketing político é consolidar a imagem do candidato em um universo amplo de opções do eleitor ainda durante a campanha. Quanto mais cedo o candidato estiver identificado com aquela campanha/cargo, mais fácil será para o eleitor optar por ele na hora do voto.   

O que os candidatos podem fazer para serem mais atrativos para o eleitor?

Falar a linguagem do eleitor conforme o discurso e o público. O candidato não precisa fingir ser alguém que não é, mas deve adaptar seu discurso a quem o está recebendo. Por exemplo, ele não pode falar com os jovens da mesma forma que fala com o eleitor mais idoso. As propostas de campanha podem e devem ser as mesmas, mas a forma de interação adequada a cada público. Isso aproxima o eleitor do candidato e o torna mais atrativo. 

Qual é a expectativa da sua palestra no 15º Congresso Brasileiro de Estratégias Eleitorais e Marketing Político?

A expectativa e passar aos participantes o conhecimento necessário para enfrentar uma eleição conhecendo as regras eleitorais, o que é um grande desafio já que as regras mudam a cada eleição. O que era permitido há dois anos pode ser proibido este ano, por exemplo. Conhecer as regras com antecedência é essencial para o planejamento de uma campanha. Espero compartilhar com todos minha experiencia na área e, ao mesmo tempo, aprender com as realidades dos participantes, pois a troca de experiências é uma das principais formas de construção do conhecimento. 

Serviço:

15º Congresso Brasileiro de Estratégias Eleitorais e Marketing Político

Local do evento: Faculdade Republicana, SEP Sul, Trecho 713/913 Edifício CNC Trade Térreo – Asa Sul, Brasília – DF

Data: 26, 27 e 28 de maio de 2022

Tíquete padrão: participação presencial – R$ 1.700,00/ participação virtual – R$ 900,00

Inscrições: estrategiaseleitorais.com.br

Valdir Pucci é Mestre em Ciência Política pela Universidade de Brasília (2001), possui graduação em Ciência Política pela Universidade de Brasília (1998) e em Direito pelo Centro Universitário Euro-Americano (2009). Atual Diretor-Geral da Faculdade Republicana, foi também Pró-Reitor Administrativo do Centro Universitário do Planalto Central Apparecido dos Santos – UNICEPLAC, de julho de 2018 a março de 2020 e coordenador do Curso de Direito da UNICEPLAC de maio de 2017 a julho de 2018. Professor do Centro Universitário do Distrito Federal (UDF), onde Coordenou o Curso de Direito (2013 ao 2º semestre de 2016) e ministrou a disciplina de Direito Eleitoral de 2008 a 2016. Também foi Coordenador da Comissão Própria de Avaliação – CPA do UDF de 2012 a 2016. Coordenou o Núcleo de Pesquisa e Produção Científica. Lecionou como professor substituto no Instituto de Ciência Política da Universidade de Brasília – UnB de 2010 a 2012. Foi ainda professor da Universidade Paulista – Campus Brasília. Tem experiência na área de Ciência Política, Direito Eleitoral e Constitucional, com ênfase em Estado e Governo.

Envie uma mensagem para o WhatsApp (61) 98406-8683 caso você tenha alguma notícia relacionada aos bastidores da política e queira vê-lá na Coluna do Gianelli.

*Sandro Gianelli é consultor em marketing político, jornalista, colunista e radialista. Escreve a Coluna do Gianelli, de segunda a sexta, para o portal Conectado ao Poder e para o Jornal Alô Brasília e apresenta um programa de entrevistas, aos domingos, das 9h às 11h, na rádio Metrópoles – 104,1 FM. 

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