Para cientistas políticos, disputa entre Dilma e Aécio ainda não está consolidada

Dilma-e-Aecio-2Diante do resultado do Datafolha, com a presidente Dilma Rousseff pela primeira vez numericamente à frente de Aécio Neves no segundo turno, analistas políticos ouvidos pelo GLOBO avaliam que o cenário se deve não só à tática usada pela petista de desconstruir a imagem pessoal do tucano, mas também os ataques dela à gestão do tucano no governo de Minas Gerais. Para os especialistas, no entanto, não é possível falar em tendência de alta ou baixa de qualquer um dos candidatos. Eles acham também que os ataques pessoais podem ter colaborado para a queda do tucano na sondagem.Para o cientista político Fernando Antônio de Azevedo, da Universidade Federal de São Carlos (Ufscar), a inversão de posições entre Dilma e Aécio se deve aos fortes ataques contra a candidatura tucana pelos petistas.

— Aécio não tinha sido questionado no primeiro turno. Todos os focos (do PT) foram voltados para a Marina. Agora, começam a surgir peças negativas sobre ele, fazendo com que a rejeição dele supere a de Dilma — afirmou Azevedo, para quem não dá para saber qual o peso dos ataques pessoais.

— Não se pode dizer qual o peso das acusações pessoais e das peças negativas sobre o governo mineiro na queda de Aécio e no aumento de sua rejeição — disse Azevedo.

De acordo com o analista, a situação de Dilma agora é um pouco mais favorável, já que o tempo é escasso até domingo, dia da eleição.

O cientista político Carlos Melo, professor do Insper, diz que a vantagem numérica de Dilma na pesquisa é uma variação dentro da margem de erro, mas pode mostrar o sucesso da estratégia da campanha do PT de bater em Aécio.

— Ainda é cedo para falar numa tendência de alta ou de queda. Mas esse resultado pode ser sinal de que a estratégia do PT de bater muito no Aécio está funcionado — disse Melo: — É parecido com o que a campanha de Dilma fez com a (então candidata) Marina (Silva, do PSB). A diferença é que a Marina se vitimizava, e o Aécio consegue rebater.

Segundo Carlos Melo, os resultados da pesquisa do segundo turno mostram que há dois grupos de eleitores bem cristalizados, que representariam entre 40% e 45% das intenções de voto para cada candidato. A decisão deve vir do número de pessoas que estão dispostos a mudar de opinião e do percentual de indecisos, que se mantém em 6% desde o dia 9 de outubro.

— Diria que essa eleição vai continuar indefinida até a boca de urna. Já tivemos a Dilma na frente com ampla vantagem, com possibilidade de ganhar no primeiro turno. Depois, veio a Marina, que também apareceu na liderança. Em seguida, foi a vez de Aécio subir e ir para o segundo turno. Nada está definido.

“UMA FLUTUAÇÃO DE MOMENTO”

Para o cientista político da PUC-RJ Ricardo Ismael, o resultado é positivo para Dilma, mas não significa uma consolidação na disputa:

— Essa diferença pequena é uma flutuação de momento. O primeiro turno nos ensina que, só na hora de votar, o eleitor pondera e pesa o que é melhor para ele. A escolha ainda não foi feita. As pesquisas mostram que não há nenhuma tendência clara.

Ismael afirma ainda que o agravamento da crise hídrica em São Paulo pode ter influenciado no resultado da pesquisa.

— A estratégia petista de concentrar os ataques no Sudeste está dando resultado. Dilma acertou em centrar as armas contra a gestão de Aécio em Minas. Além disso, o agravamento da seca em São Paulo pode ter colaborado para que o tucano perdesse um pouco da gordura que acumulou no estado — disse o cientista, afirmando que a consolidação do PT no Nordeste dificulta a campanha tucana:

— O Nordeste virou uma fortaleza e, aparentemente, está conseguindo manter posição confortável para Dilma. Com isso, o PT consegue concentrar a campanha só aqui no Sudeste e recuperar os votos perdidos para Aécio.

Cláudio Couto, cientista político e professor da FGV de São Paulo, aponta três motivos para o crescimento de Dilma, candidata à reeleição. O primeiro é o fato da campanha petista explorar a agressividade contra mulheres.

— No primeiro turno foi contra (a candidata derrotada) Luciana Genro (PSOL) e agora com a própria Dilma. Isso sensibilizou uma parcela do eleitorado, surtiu efeito a exploração desse lado — afirmou Couto.

Outro fator apontado por Couto é a desconstrução do candidato tucano:

— Aécio tinha sido muito poupado no primeiro turno pelo PT porque o foco era Marina. Agora, Dilma começou a atacar muito mais forte Aécio, com referências ao governo de Fernando Henrique, questionando seu governo em Minas. Isso também é um aspecto.

O terceiro motivo apontado pelo professor é a agressividade de militantes tucanos.

Por Julianna Granjeia, Mariana Sanches, Renato Onofre e Tiago Dantas

Fonte: O Globo

- Publicidade -

DEIXE UMA RESPOSTA

Por favor digite seu comentário!
Por favor, digite seu nome aqui