A Secretaria de Saúde do Distrito Federal anunciou nesta quarta-feira (1º) uma série de mudanças no atendimento pediátrico das Unidades de Pronto Atendimento (UPAs) da capital. As medidas tentam conter o surto de doenças respiratórias, comum nesta época do ano, que levou à superlotação das emergências infantis. Segundo a pasta, o atendimento “enxuto” deve durar cerca de um mês, até que novos pediatras sejam contratados.
As mudanças já entram em vigor nesta quarta. Até o fim de abril, a pediatria está fechada na UPA de Ceilândia. Os profissionais que atendem no local serão remanejados para o hospital da região. A UPA de Samambaia vai atender de domingo a terça-feira, e a unidade do Recanto das Emas, de quarta a sábado. A secretaria espera que a medida garanta equipes completas nos dias de funcionamento para reduzir a fila de espera.
“É você usar um cobertor curto para tapar toda essa situação que a gente está vivendo. Se você só tem um ou dois pediatras, eles não conseguem atender todo mundo. Nosso foco é atender os pacientes graves. Temos recém-nascidos com dificuldade até para mamar, por causa da inflamação respiratória desse surto”, diz o subsecretário de Atenção à Saúde, José Tadeu Palmieri.
Duas ambulâncias serão colocadas de prontidão nas UPAs para transportar os pacientes graves que chegarem em dias de pediatria fechada. Palmieri disse que as mães devem evitar o pronto atendimento quando os filhos apresentarem sintomas leves.
“A criança está com uma tosse simples, sem falta de ar, sem outros sintomas, está mamando bem? Evitem levar ao hospital nesse momento. Vai demorar o atendimento, corre o risco de se expor a outros quadros, contrair uma doença mais grave. Procurem os centros de saúde, que vão estar com o atendimento aumentado”, afirmou.
Mais medidas
A secretaria também deve fazer mudanças em outros hospitais e UPAs da rede. Os respiradores infantis estão todos ocupados. A pasta tenta remanejar equipamentos de leitos fechados para reforçar o atendimento e também ofereceu horas extras para os pediatras que desejem dobrar escala.
Segundo o subsecretário, a maior sobrecarga recai sobre o Hospital Materno Infantil de Brasília(HMIB), na Asa Sul. “Os atendimentos estão sobrando para o HMIB, que é um hospital referenciado. Do total de pacientes lá, 30% a 40% são da região econômica do DF”, afirmou, fazendo referência ao Entorno.
A expectativa da Saúde é chamar até 100 novos pediatras concursados até o fim de abril. Segundo Palmieri, eles serão destinados principalmente a Sobradinho, Gama, Ceilândia, Taguatinga e Brazlândia.
Com 50 contratos temporários prestes a vencer, o aumento real será de apenas 50 pediatras. O déficit estimado pela secretaria é de 276 profissionais. “Estamos buscando outras soluções de parceria. A mão de obra de pediatras é uma deficiência no Brasil inteiro, até na medicina privada”, diz Palmieri.
Bronquiolite
Os surtos de bronquiolite, segundo Palmieri, são comuns nos meses de abril e setembro, por causa da mudança de temperatura no DF. Neste ano, a doença chegou mais cedo e lotou as enfermarias.
A doença causa uma inflamação nos bronquíolos, pequenos canais que transportam o ar para dentro dos pulmões. Os sintomas começam parecidos com os da gripe comum, com congestão nasal, tosse e espirro. Cansaço, chiado no peito, tosse intensa e febre aparecem no segundo estágio da doença. A bronquiolite é comum em crianças de até dois anos, e pode ser mais agressiva em recém-nascidos de até seis meses.
“Tem o perfil imunológico, que é imaturo, e tem o diâmetro das vias aéreas, que é muito pequeno. Qualquer inflamação torna a passagem de ar estreita, dificultando demais a respiração”, afirmou o pediatra André Gonçalves de Araújo em entrevista à TV Globo.
Contratações
Na última segunda-feira (30), a Secretaria de Saúde pediu autorização ao GDF para contratar 113 pediatras para a rede pública. O pedido foi feito após um levantamento que apontou que a pediatria é a especialidade mais sensível da rede.
“Em primeiro lugar, pretendemos contratar médicos que já estão concursados. Temos 113. Temos enfermeiros também aprovados e temos técnicos em enfermagem também aprovados. Faremos a distribuição na rede como um todo para suprir necessidades”, afirmou Iglésias.
O secretário-adjunto diz que busca outros meios de solucionar a falta de médicos na rede. “Ainda teremos que completar os quadros com a opção de 40 horas e, posteriormente, se ainda não completar a necessidade de 276, fazer a oferta de hora-extra para que possamos atender bem a população.”
Iglésias afirma que há um déficit de pediatras no mercado, o que dificulta a contratação dos profissionais. “Quando você não tem possibilidade de contratar porque se esgotou o número de vagas de aprovados, você tem duas alternativas: ou um novo concurso, mas se não tem pediatras prontos para entrar, é um problema. E, segundo, as [contratações] temporárias, que também não existe disponibilidade no mercado. Então observe que a situação que é crítica, de mercado.”
Fonte: G1