Perplexo, Lula pergunta ao PT: “Qual é, afinal, o nosso discurso?”

petorcidodoluladentro-igoestrela-obritonews-fatoO ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva quer ajudar o PT e o governo a sair da crise, mas não sabe como. Tão perplexo quanto todos os seus companheiros, ele assiste à crise que afeta a popularidade do governo e abala o seu partido. E tem dificuldades para afinar uma estratégia de resposta que tire a presidente Dilma Rousseff e sua legenda das cordas.

Bastidores da reunião que Lula teve no dia 25 de fevereiro na casa do senador Jorge Viana (AC) com a bancada do PT no Senado, obtidos somente agora pelo Fato Online, dão a medida dessa perplexidade. Segundo um dos presentes na reunião, em determinado momento Lula olhou a cada um dos senadores nos olhos. Pousou o copo sobre a mesa, inclinou-se para frente e fez uma pergunta que teve apenas o silêncio dos presentes como resposta.

“Vocês sabem que eu sou bom de palanque”, começou o ex-presidente. “Mas eu preciso ter um discurso”, prosseguiu. “E qual é o nosso discurso? Alguém aqui sabe dizer qual é o nosso discurso?”

Na sequência, Lula apontou o dedo para o senador Paulo Paim (PT-RS): “Paim, qual é o nosso discurso?” Olhou, então, para Jorge Viana: “Jorge, você vai dizer o quê para se reeleger senador em 2018?”

Ao apontar para Paim e Jorge Viana e perguntar diretamente a eles com qual discurso pretendiam se reeleger, Lula tocou num ponto que preocupa enormemente aos senadores. Dos atuais 14 senadores da bancada do PT, apenas dois – Fátima Bezerra (RN) e Paulo Rocha (PA) -, não terão que disputar a reeleição em 2018 (os senadores são eleitos para um mandato de oito anos; em uma eleição, renova-se um terço da bancada; na eleição seguinte, renovam-se dois terços). Todos os outros 12 estão nos últimos quatro anos de seu mandato e terão de disputar novas eleições. O que dirão a seus eleitores?

Falta de unidade

Depois do recado dado pelo ex-presidente no final de fevereiro, a falta de unidade no discurso do governo e do partido foi ficando mais patente. No domingo (15), o Palácio do Planalto convocou os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da Secretaria Geral, Miguel Rossetto, para avaliar as manifestações que aconteceram em todo o país. Enquanto Cardozo foi mais contido, Rossetto classificou como “golpismo” as palavras de ordem – que não foram unânimes entre os grupos que participaram dos protestos – pelo impeachment da presidente.

Enquanto no domingo ambos avaliavam que as manifestações reuniram pessoas que já não haviam votado em Dilma e no PT no ano passado, na segunda-feira (16), a presidente, em entrevista coletiva, falou “em humildade” para compreender o recado das ruas. E em disposição para dialogar com os grupos descontentes, salientando ter lutado pela democracia que permite tais manifestações.

A falta de uma unidade na estratégia de construção de um discurso do governo está relacionada a problemas na sua estrutura de comunicação. Desde o final do ano passado, por razões de ordem pessoal, o ministro da Secretaria de Comunicação do Governo, Thomas Traumann, manifesta o seu desejo de deixar o cargo. Segundo uma fonte do governo, Dilma pensa em colocar Traumann na comunicação da Petrobras. Mas, como ainda não decidiu quem ficará no lugar do atual ministro, a presidente pede a ele para adiar sua saída. Nessa condição de alguém que está para sair, Traumann, segundo a fonte, sente-se intimidado a traçar uma estratégia mais forte para o seu setor. Sem definição de como ficará, a comunicação do governo patina.

Fonte: Fato Online

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