PF acha recibo de doação da OAS à paróquia que Gim Argello frequentava

O papel foi anexado aos autos da Operação Lava Jato na sexta-feira (27/5). Gim Argello foi preso em abril na 28ª fase da operação. O ex-senador é acusado de cobrar propinas para evitar a convocação de empreiteiros nas CPIs das Petrobras em 2014.

De acordo com a denúncia do Ministério Público Federal, Gim Argello teria recebido pelo menos R$ 5,35 milhões de propina de empreiteiros. Os investigadores apontam que o ex-parlamentar teria tomado dinheiro de Ricardo Pessoa, da UTC Engenharia, e de Léo Pinheiro, da OAS: da UTC seriam R$ 5 milhões – valor destinado a quatro partidos nas eleições de 2014, e da OAS, outros R$ 350 mil, destinados à Paróquia São Pedro.

O recibo é datado de 22 de maio de 2014 e tem um carimbo em nome de ‘Roberto Zardi, diretor comercial, Construtora OAS S/A’. “Transferência Mitra Arquidiocesana”, aponta a nota.

Pagamentos
A denúncia contra Gim Argello sustenta que em 14 de maio de 2014, ‘data da instalação da CPI do Senado, um dos donos da OAS, José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, solicitou dois diretores do grupo, Dilson Paiva e Roberto Zardi, que fizessem um pagamento ao então senador, ‘alcunhado de Alcoólico’, de R$ 350 mil. Os procuradores citam ainda o lobista Julio Camargo, um dos delatores da Lava Jato.

“Nessa data, Léo Pinheiro estava em Brasília acompanhado de Julio Camargo, ocasião em que, pessoalmente, tratou da vantagem indevida com Gim Argello. O pagamento tendo como centro de custo a obra da Refinaria Abreu e Lima (RNEST) seria destinado para a conta da Paróquia São Pedro, igreja situada em Taguatinga. Com a utilização de linguagem cifrada, Léo Pinheiro, Roberto Zardi e Dilson Paiva tinha por intuito dissimular a ilicitude do assunto objeto da conversa”, aponta a denúncia.

Em depoimento, no dia 12 de abril, Roberto Zardi afirmou que ‘recebeu determinada vez, salvo engano em 2013 ou 2014, a incumbência da presidência da Construtora OAS de procurar o então senador Gim Argello para operacionalizar uma doação a uma Igreja Católica da cidade de Taguatinga para uma festa religiosa’. Na ocasião, Zardi declarou que não se lembrava do valor e nem do centro de custo da OAS’ utilizado para o pagamento.

“Esteve umas duas ou três vezes no gabinete do então senador Gim Argello no Senado federal onde recebeu as informações de quem procurar para efetuar a doação para a referida Paróquia”, relatou. “Que se recorda que teve dificuldades em obter o recibo da doação, conseguindo com muita dificuldade.”

Pentecostes
Roberto Zardi declarou que a doação era para ‘patrocinar um evento religioso, possivelmente a festa conhecida como Pentecostes realizada pela referida paróquia’. O executivo disse à PF que não intermediou a utilização da marca OAS como patrocinadora no evento como patrocinadora.

“Era uma doação feita a pedido do então Senador Gim Argello a Léo Pinheiro; que, apenas cumpriu ordens de Léo Pinheiro, tendo realizado as visitas por se tratar de um senador da República”, disse.

“Não sabe precisar se o então senador Gim Argello ajudava o presidente Léo Pinheiro nas referidas CPI da Petrobras no Congresso Nacional; que não tem conhecimento que a referida doação tenha sido realizada em contrapartida de algum apoio do então Senador Gim Argello a Construtora OAS.”

Segundo Roberto Zardi, era necessário que a doação saísse de algum centro de custo, ‘sendo decidido por Léo Pinheiro, não sabendo o declarante qual o critério para tal escolha’. O executivo citou a Refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco – emblemático empreendimento da Petrobras alvo da Lava Jato -, e o padre Moacir Anastácio de Carvalho, da Paróquia São Pedro.

“Era possível que um destes centro de custos utilizados fosse vinculado a Refinaria Abreu e Lima, não tendo certeza, vez que não era de sua atribuição decidir sobre tal; que o controle de doações que não tinham vinculação direta com o objeto da Construtora OAS, como patrocínio a eventos, era realizado pelo diretor administrativo Dilson Paiva”, afirmou. “Não conheceu o padre Moacir Anastácio de Carvalho, nunca tendo tido contato com o mesmo.”

À PF, Dilson Paiva disse também não conhecer o padre da Paróquia São Pedro. Segundo a denúncia, o pagamento à igreja era denominado pelos executivos da OAS como ‘projeto Alcoólico’. Para os investigadores, ‘Alcoólico’ é o codinome utilizado por Léo Pinheiro para referir-se a Gim Argello, em trocadilho com a bebida gim, aguardente aromático e destilado à base de cereais que teve origem nos Países Baixos no século XVII.

Os investigadores resgataram troca de mensagens cifradas entre Léo Pinheiro e Roberto Zardi para esclarecer sobre o que estão tratando:

“José Adelmário: Dilson, vai lhe pedir um apoio. Vc. ainda continua tomando Gim? Qual alegoria marca? Abs

Roberto: OK, Tomei naquele dia e gosto.

José Adelmário: A a. Abs”

As mensagens foram mostradas a Dilson Paiva em seu depoimento. O executivo afirmou não saber ‘a natureza da doação’.

“Não sabe o motivo deste pagamento vinculado ao Projeto Alcoólico; que não sabe como foi feito o contrato com a Paróquia São Pedro; que não sabe informar quem era pessoa de contato da Paróquia São Pedro em Taguatinga, uma vez que desconhece citada Paróquia; que desconhece a vinculação da obra da RNEST no Estado de Pernambuco com a Paróquia São Pedro situada em Taguatinga/DF; que não sabe informar qual a relação de Roberto Zardi com o denominado Projeto Alcoólico, uma vez que desconhece tal projeto ”

Dilson Paiva declarou que ‘por vezes recebia ordens de Léo Pinheiro e as cumpria, como pagamentos, por exemplo’. “As mensagens indicam que houve uma ordem e uma cobrança e. portanto, o pagamento para a Paróquia São Pedro parece ter se concretizado; que, entretanto, não sabe informar o motivo do pagamento e, se foi feito a título de doação ou serviço prestado; que não sabe esclarecer o motivo de emitir nota fiscal por serviços não prestados no caso em tela”, disse.

Fonte: Metrópoles

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