Investigação é sobre suposta falsa comunicação de crime.
Jornalista registrou BO de cárcere privado contra assessor de parlamentar.
O delegado Luís Roberto Hellmeister disse nesta quarta-feira (10) que vai investigar se a jornalista Patrícia Lelis, de 22 anos, cometeu falsa comunicação de crime e extorsão. Na sexta-feira (5), Patrícia foi a uma delegacia no Centro de São Paulo e registrou boletim de ocorrência em que afirma ter sido vítima de ameaças por parte de Talma Bauer, chefe de gabinete do deputado federal Marco Feliciano (PSC-SP).
A acusação era de que Bauer ameaçou a jovem e a manteve em cárcere privado no quarto do Hotel San Rafael, no Largo do Arouche, no Centro da capital, para obrigá-la a recuar na denúncia de estupro que ela fez contra o deputado, supostamente ocorrida em Brasília no dia 15 de junho. Por ter foro privilegiado, a polícia paulista não investiga Feliciano. Dessa forma, a veracidade ou não das acusações de assédio não foi nem será questionada pelos policiais de São Paulo.
O G1 não localizou a jornalista ou a defesa dela para comentar a mudança nas investigações.
Segundo o delegado, imagens entregues à polícia pelo Hotel San Rafael, no Largo do Aroche, região Central de São Paulox, porém, mostram Bauer, abraçando a jornalista no saguão do estabelecimento. O vídeo também mostra a jovem recebendo o namorado.
Após analisar as imagens e áudios sobre o caso, o delegado passou a duvidar da conduta da jornalista. “Ela passa a ser investigada. Ela mentiu para burro aqui”, afirmou.
Segundo o policial, antes do encontro no hotel onde supostamente foi vítima de Bauer, Patrícia foi ao shopping fazer maquiagem e compras e foi para a Avenida Paulista passear com o namorado. Ele também recebeu fotos da jornalista em uma churrascaria com Bauer, aparentemente conversando com o chefe de gabinete de Feliciano.
Liberado
Bauer foi detido na sexta-feira (5) e liberado horas depois. Ao sair da delegacia, em entrevista à TV Globo, o assessor disse que tinha ido prestar esclarecimentos “sobre uma menina que veio fazer uma falsa comunicação de fatos”. “Isso me parece que é uma perseguição política. As esquerdas estão aí, querendo derrubar todo mundo, mas nós estamos firmes, com Jesus venceremos”, disse Bauer.
Em depoimento à Polícia Civil, Patrícia disse que, com uma arma na cintura, Talma Bauer teria dito que se ela não voltasse atrás nas denúncias sobre o deputado Feliciano, poderia ocorrer um “mal maior” com ela.
Após isso, o delegado Luiz Roberto Hellmeister chegou a dizer que iria pedir a prisão de Talma por sequestro, coação e ameaça (assista abaixo ao vídeo com entrevista do delegado).
O rapaz foi levado para a delegacia e contou outra história para o delegado: Patrícia, segundo ele, recebeu R$ 20 mil para gravar um vídeo na internet desmentindo que Feliciano teria tentado estuprá-la.
Hellmeister apreendeu um tablet dessa nova testemunha, com um vídeo que o amigo fez das negociações para a gravação do vídeo.
Diante dessa testemunha e do vídeo, o delegado achou que a ameaça de morte não estava configurada e liberou Bauer. “Eu fiquei espontaneamente até agora para poder ser ouvido sem pressa. Não estive preso, não tem crime nenhum”, disse o assessor.
No mesmo boletim, Patrícia registrou que Feliciano tentou estuprá-la no apartamento funcional dele em Brasília, em junho, e que foi agredida com um soco na boca e um chute na perna.
Neste sábado, Feliciano publicou na internet um vídeo em que diz que a militante do PSC fez falsa comunicação sobre o assédio. Ele acrescentou que perdoa Patrícia Lélis.
Denúncias contra Feliciano
As denúncias da jovem vieram à tona na terça-feira (2) após serem publicadas pela coluna Esplanada, do UOL. Nesta quarta-feira (3), circularam na internet áudios em que a jovem, identificada como Patrícia Lélis, de 22 anos, diz que foi abusada sexualmente pelo deputado Marco Feliciano.
No áudio que teria sido gravado pela jovem, que é estudante de direito em Brasília, tem 22 anos e milita no PSC, ela conversa com um homem que seria o chefe de gabinete de Feliciano, Talma Bauer, e relata o assédio sexual que teria sofrido nas mãos do parlamentar.
Na gravação, Patrícia diz ser vítima de violência cometida pelo deputado: “Com todas as letras, ele deu em cima de mim mesmo de uma forma assim descarada. Me levou a fazer coisas à força, que eu tenho prova disso. Dentro da casa dele, falou que ‘tava tendo reunião na UNE. Pra eu ir pra lá. Cheguei lá, e não tava tendo. Ele não me deixou sair, fez coisas à força. Eu tenho a mensagem para ele: ‘Feliciano, a minha boca ficou roxa’. Ele ri e diz: ‘Passa um batom por cima’. Eu tenho todas essas provas.” O suposto chefe de gabinete sugere “botar uma pedra em cima” das denúncias contra Feliciano.
Depois, a jovem gravou dois vídeos, publicados na internet, em que desmente ter feito qualquer tipo de acusação contra Feliciano. “A todos esses jornalistas que me ameaçaram dizendo que eu tinha que contar a verdade, tô aqui falando a verdade. A verdade é que vocês estão mentindo, tá em época de eleição… O pastor Marco Feliciano é uma pessoa íntegra com a qual eu tenho um contato muito bom, sempre muito bom respeitoso, muito amigável. Então, não propaguem mentiras”, diz Patrícia Lélis em um dos vídeos publicados.
Comissão interna
A cúpula do Partido Social Cristão determinou a criação de uma comissão interna para apurar a suposta acusação de assédio sexual e agressão feita por uma jovem ativista da sigla contra o deputado federal Pastor Marco Feliciano, segundo informou a assessoria de imprensa da legenda na quinta.
A decisão partiu do presidente nacional do Partido Social Cristão (PSC), pastor Everaldo Dias Pereira.
A comissão será formada pelo 1º-vice-presidente do PSC, Marcondes Gadelha, pela presidente do PSC Mulher, Denise Assumpção, e um integrante do PSC Jovem e ainda não tem prazo definido para apresentar o resultado da sindicância.
Fonte: G1