O tesoureiro João Vaccari Neto foi preso nesta quarta-feira em São Paulo. A Justiça determinou a prisão por entender que o petista oferece risco à investigação devido a seu “poder e influência política”, e poderia continuar cometendo crimes. Segundo o MPF (Ministério Público Federal), o tesoureiro desviava recursos para o PT desde 2004 e tinha posição semelhante à do doleiro Alberto Youssef no esquema de corrupção na Petrobras.
A prisão de Vaccari caiu como uma bomba no PT e o colocou contra a parede. Após a detenção, o presidente nacional da legenda, Rui Falcão, veio de Brasília para São Paulo, onde convocou uma reunião de emergência. Antes, Falcão se reuniu com ex-presidente Lula. No encontro, ele foi cobrado por ter defendido a manutenção de Vaccari no posto. Lula disse que o afastamento teria reduzido o impacto negativo da prisão sobre a legenda e sobre o governo.
Após a reunião, o PT divulgou nota afirmando que Vaccari “solicitou seu afastamento”, e que a prisão é injustificada. No documento, o partido reafirma que confia na inocência de
Vaccari, que está detido na sede da PF em Curitiba.
A Justiça também emitiu um mandado de prisão temporária (prazo de cinco dias) contra a cunhada dele, Marice Correia de Lima, e tomou depoimento de sua mulher, Giselda de Lima.
Gráfica suspeita
O MPF afirma que o delator Augusto Ribeiro de Mendonça, executivo da Toyo Setal, disse que mais de
R$ 2,5 milhões em propinas da empreiteira foram pagas à gráfica Atitude, indicada por Vaccari. O MPF comprovou o pagamento de R$ 1,5 milhão, a partir de 14 depósitos feitos entre 2010 e 2013.
A gráfica, segundo o MPF, pertence a dois sindicatos de São Paulo, e foi multada pelo TSE por fazer propaganda ilegal na campanha de Dilma Rousseff nas eleições 2010.
Em nota, o PT reafirmou que “as doações recebidas pela legenda são legais”. O advogado de Vaccari afirmou que a prisão é injusta e que vai recorrer.
Cunhada, filha e esposa também são suspeitas
Foragida até a noite desta quarta, a cunhada de Vaccari, Marice Correia de Lima, é citada pela força-tarefa da Lava Jato como auxiliar do tesoureiro do PT no desvio de recursos da Petrobras.
Segundo o MPF, o doleiro Alberto Youssef afirmou que recebeu Marice em seu escritório e entregou a ela R$ 400 mil em espécie. Além disso, ela teria relações com a empreiteira OAS.
Segundo as investigações, Marice comprou da construtora um apartamento no litoral paulista por R$ 200 mil. Dois anos mais tarde, vendeu o mesmo imóvel à OAS por R$ 432 mil. A manobra, segundo o MPF, seria uma forma de lavar dinheiro de propina.
A quebra de sigilo bancário e fiscal da família também revelou que a mulher de Vaccari, Giselda de Lima, recebeu R$ 322 mil em depósitos pequenos (abaixo do limite de R$ 10 mil) entre 2006 e 2014, sem justificativa.
Giselda foi ouvida pela PF na manhã desta quarta, mas o depoimento “não foi produtivo”, segundo a polícia.
A filha de Vaccari, por fim, também é suspeita de enriquecimento ilícito.
De R$ 441 mil no final de 2012, o patrimônio de Nayara Vaccari passou para mais de R$ 1 milhão um ano depois.
Nesse “inchaço”, foi identificado um depósito de R$ 280 mil realizado pela imobiliária Viena de Indaiatuba, e não há nenhum negócio que justifique o pagamento. À Receita Federal, Nayara declarou que o dinheiro era uma doação da mãe.
Oposição ataca PT e mira presidente Dilma
A prisão de João Vaccari Neto provocou reação dos partidos de oposição. As cúpulas do PSDB, PPS, DEM, SD e PV fizeram uma reunião e decidiram dar prosseguimento conjunto a estudos para dar ‘embasamento jurídico’ a um pedido de impeachment da presidente Dilma. “A prisão de Vaccari é a azeitona na empada das irregularidades do governo”, afirmou o presidente do PSDB, Aécio Neves (MG).
Com a denúncia de uso de propina para abastecer os cofres do PT, a oposição também prepara ações na Justiça Eleitoral. “O PT não tem credenciais de partido político, e sim de lavanderia. Tudo caminha para que o PT perca o registro”, avaliou o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO).
Na base aliada, a postura foi de constrangimento. O líder do PT na Câmara, deputado Sibá Machado (AC), foi voz isolada na defesa de
Vaccari. “Estamos desconfiados de que há uma orientação nessas delações premiadas para prejudicar o PT”, disse.
No governo
No governo, a prisão foi tratada como ‘uma questão partidária’. Não houve manifestação oficial. O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, declarou que o caso não preocupa o Palácio do Planalto. “Desejo que tudo seja esclarecido e os culpados sejam punidos”.
De ‘homem do cheque’ ao ‘moch’ da Lava Jato
A história política de João Vaccari Neto começa em 1978, quando ele ingressou como escriturário no Banespa. Ao se aproximar do grupo que participou da fundação do PT e da CUT, com destaque para Luiz Gushiken –ex-secretário de Comunicações do governo Lula, morto em 2013–, chegou à tesouraria do Sindicato dos Bancários de São Paulo em 1983, quando passou a ser conhecido como o “homem do cheque”.
Durante os anos de 1990, se aproximou do então presidente do sindicato, Ricardo Berzoini, hoje ministro das Comunicações. Quando Berzoini foi eleito deputado federal, em 1998, ele assumiu a presidência do sindicato.
Entre 1998 e 2004, Vaccari participou da criação da Bancoop (cooperativa imobiliária dos bancários). A gestão foi marcada por suspeitas de fraudes. Mutuários que pagaram não receberam o imóvel até hoje e o caso foi parar na Justiça.
Com o escândalo do mensalão, que resultou na prisão de Delúbio Soares, Vaccari assumiu, em 2010, o posto de tesoureiro da legenda. Desde então, passou a ser o responsável pela captação de recursos nas campanhas do PT em 2010 e em 2014.
As denúncias da participação de Vaccari no esquema de distribuição da propinas obtidas em contratos da Petrobras ganharam força com o depoimento do ex-gerente da estatal Pedro Barusco. Em uma planilha com o registro de supostos pagamentos de propina, Vaccari é identificado como ‘moch’ (mochila em inglês). A alcunha foi criada porque o petista sempre aparecia com uma mochila.
Fonte: Metro