Andar com liberdade pelos espaços públicos do Plano Piloto vai ficando cada vez mais difícil. A disputa pelaárea é acirrada. Ora você está“invadindo” um comércio, ora umabrigo de morador de rua. Quando tenta contemplara beleza artificial do Lago Paranoá, depara-se com um puxadinho de extremas proporções e belíssimas edificações. Qual é o problema? Ambos pertencem ao espaço público.
Os puxadinhos e as invasões desordeiras se tornaram incontroláveis. Bares, restaurantes e qualquer tipo de comércio que visemà expansão da lucratividade, invadem sem constrangimento as calçadas, os gramados e os espaços de lazer destinado ao bem público.
Nos comércios,a demarcação por território chega a ser hilária. O cidadão começa a ter que pedir licença e desculpas por estar passando pelo puxadinho. Às vezes, corre o risco de receber um cardápio do restaurante ou algum tipo de serviço do suposto “legítimo” dono.
Muito diferente da Holanda onde a droga e o sexo ao ar livre são liberados pelosfrutos do “primeiro mundo e da plena democracia”. Nas vias L2, L4, nas quadras700, nas 900 e nos gramados do eixo da cidade de Brasília, além de ser ilegal, não tem nada de democrático e nem gracioso.
Asbrigas pelo território e pela liberdade são disputadas clandestinamente. O crack e a merla são um dos combustíveis dos abrigos demarcados pelo sangue do mais forte. E neste poder paralelo, a pena de morte existe, e o sentenciado pode ser condenado a morrerpor garrafadas,pedradas ou por uma dolorosa e agonizante morte por uma faca enferrujada.
O pior de tudo são os constantes furtos e abuso sexuais sofridos pelos moradores.Um dos lugares mais temerosos para se caminhar é a Universidade de Brasília.
Enquanto isso, não tão distante dali, os puxadinhos e invasões localizados nas áreas nobres, como o Lago Norte, além de serem irregulares, impedem que o projeto de lazer e cultura se realize.Mas é notório vermos,nas manchetes dos jornais,o braço da lei agir com todo rigor nas derrubadas de invasões na periferia. Com toda coragem, o governoordena às tropas da polícia militar assegurar o despejo e o serviço de derrubada dos barracos. É um verdadeiro espetáculo digno de cinema: helicópteros, cães, bala de borracha, gáslacrimogênioe, por fim, os tratores.
O curioso e assombroso são as invasões e projetos urbanísticos construídos dentro dereservas ecológicas e nasáreas de mananciais. Transformam-se, do dia para a noite, em bairros legalizados, postos de gasolina e quadras poliesportivas. Espaços destinados ao lazer e ao convívio dos moradores do Plano. O absurdo é que são projetos inescrupulososque ferem e alteram o projeto original.
Independente da orgia política, cultural ou eleitoreira que se pratique, jamais poderemos esquecer que Brasília não nos pertence.Foi tombada como Patrimônio Cultural da Humanidade, pois não cabe jeitinho, e suas limitações e estruturas devem ser respeitadas.