Tropas russas conquistaram a província de Lugansk no início deste mês e, desde então, intensificaram os ataques para a tomada da vizinha Donetsk
O chanceler da Rússia, Serguei Lavrov, afirmou nesta quarta (20) que os objetivos de expansão militar de seu país na Guerra da Ucrânia não estão mais concentrados no Donbass, o leste russófono ucraniano.
O diplomata, que há quase duas décadas chefia a diplomacia russa, disse ainda que a fatia almejada do país vizinho pode aumentar caso o Ocidente intensifique o envio de armas e de equipamentos a Kiev, como tem solicitado o presidente da Ucrânia, Volodimir Zelenski.
“Não podemos permitir que Zelenski ou quem o substituir tenha armas que representem uma ameaça ao nosso território e ao das repúblicas que declararam independência”, disse ele, sobre as autoproclamadas repúblicas de Donetsk e Lugansk, que Vladimir Putin reconheceu dias antes de iniciar a invasão militar.
As declarações de Lavrov, que atualizam os objetivos militares russos, foram feitas à emissora russa RT, e trechos delas, transcritos pela agência estatal RIA. Em março, Moscou, após sofrer sucessivas derrotas nos arredores da capital Kiev, disse ter como objetivo principal na guerra a “libertação do Donbass”.
Ao invadir a Ucrânia, em 24 de fevereiro, Putin apresentou como justificativa a necessidade de desmilitarizar e “desnazificar” o país que integrou a União Soviética -alegação refutada por especialistas.
Tropas russas conquistaram a província de Lugansk no início deste mês e, desde então, intensificaram os ataques para a tomada da vizinha Donetsk. Juntas, as duas províncias formam a região do Donbass. Há, ainda, outros territórios sob domínio russo, como Kherson e Zaporíjia.
As falas do chanceler vêm no mesmo dia em que Putin afirmou, a um fórum de discussões, que está tendo início uma nova era mundial. Nas palavras do líder russo citadas pela agência estatal de notícias Tass, “não importa o quanto as elites supranacionais tenham tentado manter a ordem mundial existente, uma nova era está começando, e nações verdadeiramente soberanas podem assumir a liderança”.
A alegada nova era, que ele descreveu como irreversível e harmoniosa, abrirá caminho para uma alternativa à unipolaridade, seguiu Putin, em recado aos Estados Unidos e à União Europeia (UE).
O bloco, aliás, formalizou nesta quarta o sétimo pacote de sanções contra Moscou desde o início do conflito. Desta vez, os diplomatas da UE, após recomendação da Comissão Europeia, impuseram a proibição de importação de ouro russo e o congelamento de ativos do Sberbank, principal banco do país.
O pacote deve entrar em vigor nesta quinta e ainda inclui mais pessoas e organizações russas vistas como corresponsáveis pela guerra, anunciou a República Tcheca, que ocupa a presidência rotativa da UE.
Mais cedo, o Executivo da UE, sob a chefia da alemã Ursula von der Leyen, anunciou um plano de mitigação da dependência de Moscou no campo energético que propõe aos países-membros a meta voluntária para reduzir em 15% o consumo de gás natural até março do ano que vem.
“A Rússia está nos chantageando, usando a energia como arma”, disse Von der Leyen durante entrevista coletiva em Bruxelas. “Seja um corte parcial ou um corte total do gás russo: a Europa precisa estar pronta.”
O principal temor está nos efeitos que o corte no fornecimento de gás poderia causar durante os meses de inverno no Hemisfério Norte, mas há também o peso econômico. O FMI (Fundo Monetário Internacional) divulgou projeções que mostram o encolhimento de 1,5% do PIB da Alemanha, maior economia da zona do euro, ainda neste ano caso haja interrupção do fornecimento de gás russo.
De acordo com o FMI, esse cenário prejudicaria a economia porque levaria o país a racionar o fornecimento de gás no setor industrial. Como consequência, haveria diminuição na oferta de bens intermediários e de serviços, resultando na diminuição da atividade econômica.
Dados atualizados da ONU mostram que, desde o início da guerra, mais de 5.000 civis morreram em decorrência do conflito -sendo ao menos 343 crianças- e outros 6.520 ficaram feridos. Há ainda ao menos 6 milhões de refugiados ucranianos vivendo em países da Europa.
Fonte: UOL