Categoria chama de ‘retrocesso’ plano de pagamento anunciado pelo GDF. Rollemberg diz que parcela de reajuste será paga em outubro de 2016.
Pouco depois do anúncio, os professores aprovaram em assembleia em frente ao Palácio do Buriti a manutenção da greve das categorias, iniciada há oito dias. Segundo o sindicato da categoria, 6 mil pessoas participaram do ato. Profissionais da saúde e servidores de outras áreas também devem continuar em paralisação.
“Retrocedeu do que a gente vinha conversando na mesa de negociação e causou estranheza porque o governo do Distrito Federal colocava para a gente [o pagamento dos reajustes] para o mês de maio e isso foi motivo de todos os sindicatos levantarem da mesa”, disse o presidente do Sindireta, Ibrahim Yusef.
O Sindireta representa 17 carreiras de órgãos como Ibram, Zoológico, Hemocentro e Instituto Médico Legal. “Além de [pagamento em] outubro, ele nem fala sobre retroativo para os servidores, acho que ele quer que a gente continue na greve”, declarou Yusef. “Ele [Rollemberg] demonstra que não está preocupado com a sociedade, muito menos com os servidores públicos que levam essa máquina chamada GDF nas costas.”
O piso salarial de um professor é de R$ 4,8 mil. Com o reajuste, o valor passaria para R$ 5 mil, segundo o sindicato. Dos 30 mil educadores do DF, 70% aderiram à paralisação, de acordo com estimativa da entidade. De acordo com o diretor do Sindicato dos Professores, Claudio Antunes, a proposta do governador é “imoral e ilegal”.
“Recebemos um verdadeiro calote. Não vamos esperar 13 meses para receber um reajuste de 3,7% que demoramos dois anos e meio para conquistar. Em 22 anos de carreira pública, nunca vi a educação tão precária e desvalorizada. O governador do Distrito Federal é o maior caloteiro-chefe da história.”
Todas as 657 escolas públicas da capital foram afetadas. Cerca de 40%, estão completamente sem funcionamento, informa o sindicato. “80% dos alunos foram afetados. O que acontece é que um estudante, por exemplo, tem oito professores. Desses, seis aderiram à greve. Ele é diretamente afetado, não é mesmo? Por isso, estamos pressionando e batendo de frente com o governo. Não queremos prejudicar nenhum aluno e nem o ano letivo”, disse Antunes.
Os professores também pedem pagamento do 13° e das férias. O aumento de 3,7% no salário já havia entrado no planejamento financeiro de muitos profissionais. A professora Mariana de Castro afirma que muitos profissionais não conseguem exercer o trabalho com dedicação total por preocupação com a situação financeira.
“Não consigo me concentrar sabendo que tenho várias coisas para pagar. Eu contava com esse dinheiro. A greve está tomando força e vamos continuar lutando pelos nossos direitos”, diz Mariana.
O professor João de Souza afirma que a carga horária da categoria é extensa e que os professores temporários não estão recebendo auxílio alimentação e vale-transporte. “Queremos que os direitos sejam igualitários. Lutamos para as duas carreiras”, diz.
“A nossa situação só está piorando. Hoje, temos 40 horas de jornada de trabalho. Ela é dividida com outras atividades, como a ajuda coordenação da escola. O Rollemberg quer excluir esse planejamento, quer só nos colocar dentro da sala de aula. A coordenação é fundamental para o professor.”
(Foto: Isabella Calzolari/G1)
Reajuste
Rodrigo Rollemberg anunciou nesta sexta que o reajuste dos servidores públicos, que deveria ter ocorrido em setembro, será pago integralmente a partir de 1º de outubro do ano que vem. A medida não inclui os retroativos, que não têm data para serem quitados. “Os reajustes que deveriam ser implementados a partir de setembro não estão sendo implementados por total impossibilidade de fazê-lo”, afirmou.
“No ambiente de crise, em que o PIB está decrescente, essa é uma grande conquista. Estamos fazendo isso a partir de um grande esforço para garantir a implementação do reajuste. O DF será a única ou uma das poucas unidades da federação que dará aumento no ano que vem”, disse Rollemberg.
O pagamento depende da aprovação de um conjunto de projetos já encaminhados ou que ainda serão enviados à Câmara Legislativa. Ele afirmou que acredita que o Legislativo vai colaborar com o governo. “Esse é um tema de interesse da cidade, e os deputados sabem que estamos fazendo aquilo que é possível.”
O chefe da Casa Civil, Sérgio Sampaio, afirmou que o governo espera ter um acréscimo de R$ 500 milhões na receita de 2016 com a aprovação do pacote de projetos enviado ao Legislativo.
Rollemberg declarou que grande parte dos projetos enviados à Câmara são de venda de imóveis em que o recurso entra de uma vez. Ele disse que o pacote será importante para o orçamento do ano que vem, mas que não garante o pagamento dos anos seguintes.
“Vai exigir de nós um esforço muito grande para garantir o orçamento dessa despesa de caráter contínuo. São mais de 40 terrenos e a expectativa é que tenha em torno de R$ 600 milhões a R$ 700 milhões com a venda desses terrenos”, disse.
“Teremos todo o ano de 2016 para otimizar a máquina pública do DF, fazer novas reduções de gastos, procurar ampliar a receita com a melhoria das atividades econômicas da nossa cidade e nossa expectativa é que tudo isso permita que a gente possa apresentar para 2017 um cronograma.”
A suspensão do pagamento da terceira parcela do reajuste aprovado pelo governo anterior causou insatisfação no funcionalismo. Diversas categorias – como médicos, técnicos e auxiliares em enfermagem, professores, agentes penitenciários, agentes rodoviários e agentes socioeducativos – cruzaram os braços em repúdio.
Rollemberg pediu que os servidores em greve voltem ao trabalho. “Essa greve só traz prejuízo para a população. A greve não vai resolver porque estamos com total falta de possibilidade de fazê-lo. Não podemos admitir que a população continue tendo dificuldades ao procurar um hospital, uma farmácia. É muito importante para os alunos, famílias, professores e servidores da Educação a conclusão do ano letivo.”
O governador falou que está aberto ao diálogo com as categorias, mas que não há outra alternativa em relação ao pagamento dos reajustes. “Vamos examinar todas as reivindicações que não tenham impacto financeiro. Para isso, a Casa Civil com suas equipes, como a de Planejamento, de Fazenda, estão à disposição para dialogar e implementar projetos que não tenham impacto financeiro, mas signifiquem melhoria no serviço.”
Rollemberg afirmou que durante os estudos para viabilizar os reajustes no ano que vem, as secretarias de Planejamento e Fazenda chegaram a sugerir que os pagamentos fossem realizados somente a partir de janeiro de 2017.
Reduções
O anúncio do pagamento dos reajustes foi feito no Palácio do Buriti com a participação do secretário da Casa Civil, Relações Institucionais e Sociais, Sérgio Sampaio, e o secretário-adjunto da Fazenda, João Antônio Fleury. No início do discurso, Rollemberg relembrou as reduções que vem fazendo desde o início de sua gestão e situação o DF se encontrava quando assumiu o cargo.
“Quero antes de anunciar nosso cronograma relembrar como assumimos o governo de Brasília, com salários atrasados, 13º atrasado, horas-extra atrasadas, dívida de R$ 3 bilhões de 2014, buraco no orçamento de R$ 3,5 bilhões, perfazendo um rombo de R$ 6,5 bilhões, não pagamento do adiantamento de férias dos professores”, disse.
Ele lembrou que a redução de 4,5 mil cargos comissionados, e a diminuição de 38 para 24 secretarias e agora para 17. “A partir de hoje reiniciamos também o enxugamento de cargos comissionados com a publicação das fusões das secretarias.”
O governador disse que já houve uma redução de 874 cargos comissionados e uma economia em torno de R$ 2 milhões por mês. “Vamos publicar as estruturas que não foram fundidas, que terão também que reduzir cargos comissionados ou valores pagos com, por exemplo, remanejamento de servidores.”
Rollemberg falou que Brasília vive a maior crise econômica da história da capital federal, agravada por uma crise nacional. “O Fundo Constitucional, por exemplo, responsável pelo pagamento integral da segurança pública e parcial de saúde e educação neste ano terá redução de R$ 382 milhões. Estamos trabalhando para recompor isso, mas na proposta temos uma redução de R$ 382 milhões.”
Fonte: G1