A equipe do JBr. flagrou vários funcionários saindo com a vestimenta branca. Alguns com bolsas ou mochilas por cima e outros com a peça pendurada no braço.
A reabertura do pronto-socorro do Hospital Regional de Taguatinga (HRT) veio acompanhada de mais uma notícia preocupante: aumentou para quatro o número mortes de pacientes cuja presença de bactérias foi detectada. M.A.S.R., 79 anos, veio a óbito às 18h de ontem. Segundo a Secretaria de Saúde, ela apresentou insuficiência respiratória grave. M. foi primeiro caso de Enterococus confirmado.
Ontem à noite, o HRT nem parecia o mesmo. Com poucos pacientes e visivelmente limpo, a calmaria tomava conta do ambiente horas depois da confirmação de mais uma morte. Até mesmo os socorristas que chegavam se espantavam com o cenário. “O chão parece outro”, diziam.
Para pacientes, no entanto, tanta tranquilidade pode ser sinal de que a situação é mais grave do que parece. “Não sei se está vazio porque as pessoas não sabem que reabriu ou por precaução. Lá dentro, estão limpando tudo mesmo. Uma faxina pesada, o que nos faz pensar se já é seguro ou não vir aqui”, disse o eletricista Eliel Lacerda, 44 anos.
Higiene?
Representantes da Secretaria de Saúde admitem que o descuido na limpeza pode ter causado a contaminação pelas bactérias KPC e Enterococus. Elas podem ficar “escondidas” em objetos não higienizados. Do lado de fora do HRT, chama a atenção o fato de técnicos, enfermeiros e médicos vestirem os jalecos usados dentro dos hospitais.
A equipe do JBr. flagrou vários funcionários saindo com a vestimenta branca. Alguns com bolsas ou mochilas por cima e outros com a peça pendurada no braço. Flagrada, uma funcionária, que se identificou apenas como Flávia, tentou justificar que ainda não tinha tirado o jaleco porque estava com pressa, mas sempre costuma retirá-lo no estacionamento, antes de entrar no carro.
A técnica de enfermagem Hégia de Castro, 32 anos, alegou que só veste o jaleco quando está chegando à porta da unidade. “Temos uma orientação de não usá-lo fora do hospital. Por isso, sempre ando com um saco plástico na bolsa e, quando estou saindo, tiro e guardo no saco. Ainda mais agora, com essa superbactéria, a prevenção deve ser maior ainda”, explicou.
Jaleco usado na rua: prática não recomendada
De acordo com Henrique Marconi, infectologista da Associação Médica de Brasília (AMBr), o uso de jalecos fora do ambiente hospitalar deve ser evitado e a vestimenta deve ser lavada diariamente. “A superbactéria morre assim que sai do ambiente hospitalar. Porém, o uso do jaleco fora do hospital é uma prática que deve ser deixada de lado”, explicou.
Segundo ele, lavar bem as mãos, limpar o ambiente e utilizar antibióticos corretamente, sem o uso excessivo, são importantes para se preservar de bactérias. Marconi acredita que outras complicações resultaram nas mortes de pacientes do HRT. “Devem ter ocorrido outros problemas que, junto com as superbactérias, causaram as mortes. Afinal, todos nós as temos no organismo e trocamos com as existentes no ambiente. Em um hospital, serão bactérias mais fortes”, diz.
Questionada sobre os cuidados com o uso dos jalecos, a Secretaria de Saúde informou que não há risco de contágio pela vestimenta, pois o contato tem que ser “muito íntimo e prolongado para haver a contaminação”. A transmissão ocorre em contato com mãos e equipamentos não higienizados. A pasta esclareceu que há equipes de infectologistas em todas as unidades para monitorar a situação.