Na véspera da eleição do novo presidente da Câmara de Deputados, o deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) aparece em vídeo confirmando que viu o candidatíssimo ao cargo, deputado Rogério Rosso (PSD-DF), em imagens gravadas pelo delator do Mensalão do DEM, Durval Barbosa. Mas já foi desmentido pelo próprio delator, em post no Facebook.
Em depoimento, o técnico de informática, Francinei Arruda, disse, no mês passado, que o ex-governador do DF teria sido gravado recebendo dinheiro e que, desde então, sofreria ameaças de Barbosa. Rosso negou qualquer envolvimento com o caso.
Pelo Facebook, Durval Barbosa se disse estarrecido com as declarações de Fraga, que garantiu ter guardado as fitas por cerca de 60 dias. A videoteca de Barbosa foi a principal motivação da Operação Caixa de Pandora, deflagrada em 2009. As defesas dos réus tentam, inclusive, provar que o vídeo de Rosso não fora entregue pelo delator ao Ministério Público e que isso comprometeria a delação premiada, já que ele seria obrigado a entregar todas as provas.
“Este senhor (Fraga) nunca foi digno de minha confiança”, escreveu Barbosa, para, adiante, defender Rosso: “Não se pode macular a imagem de tantas pessoas, por pura vontade de vencer um pleito, bem como desejar, de forma espúria, macular pessoas do bem”.
Procurado para comentar o assunto, Fraga disse que não falaria.
Sem favorito
Rogério Rosso conversou com a reportagem do Jornal de Brasília, via Whatsapp, no fim da tarde, antes de o vídeo ser divulgado. Mais cedo, comentou sobre a quantidade de candidaturas registradas para o mandato-tampão de presidente da Câmara, dizendo não acreditar mais em consenso, como antes.
Sobre ser o candidato preferido do ex-presidente Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ele disse que esta tese “foi desconstruída”, com a quantidade de candidatos dos partidos da base. “Tive, como líder de bancada, uma relação institucional respeitosa com o deputado Eduardo Cunha enquanto Presidente da Casa. Nesse pleito, não existem favoritos, pela quantidade de candidatos e pelo lançamento da candidatura oficial do PMDB, por meio do deputado Marcelo Castro”, observou Rosso.
O perfil de articulador e conciliador de Rosso é sempre exaltado nas conversas políticas. Ele atribui a isso o fato de ter sido tão lembrado para a disputa, ainda que esteja no primeiro mandato na Casa. “Jamais tive a pretensão de presidir a Câmara”, reiterou.
Disputa embaralhada
A ala do PMDB que trabalhou contra a ascensão do presidente interino, Michel Temer, ao Palácio do Planalto, voltou a dar uma demonstração de força e lançou, com o apoio do PT, o deputado Marcelo Castro (PMDB-PI), ex-ministro da Saúde de Dilma Rousseff, à presidência da Câmara.
Ele foi escolhido candidato do partido com o apoio de 28 dos 66 deputados da sigla, contrariando a base de Temer no PMDB e surpreendendo o Planalto, que viu no movimento uma tentativa de impingir ao interino sua primeira grande derrota na Casa desde que assumiu o poder.
Interessados em fragilizar a candidatura de Rodrigo Maia (DEM-RJ), que despontava como principal adversário de Rosso, o nome do “centrão”, deputados do PMDB que trabalham para evitar a cassação do deputado afastado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) passaram a estimular a candidatura de Castro.
Aliados de Cunha querem eleger Rosso e avaliam que, num segundo turno, Castro pode ser mais facilmente vencido que Rodrigo Maia.
Rosso, portanto, acabou também alvejado pela movimentação de Castro e pela profusão de candidaturas menos competitivas gestadas entre aliados do próprio “centrão”. Além disso, às vésperas da eleição para a presidência da Câmara cresceram as suspeitas de que ele poderá ser atingido pelos antigos adversários e escândalos da Caixa de Pandora.
Fonte: jornaldebrasilia.com.br