Tentativa de retorno ao governo do DF revela o paradoxo vivido por José Roberto Arruda, entre o apoio fiel e a rejeição explícita

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A cena do ex-governador José Roberto Arruda sendo convidado a se retirar de um evento religioso em Brasília, no último sábado (25/10), é mais do que um episódio isolado. É, na verdade, um retrato fiel do terreno instável que ele pisa ao tentar retornar à política do Distrito Federal. Entre a fidelidade de um eleitorado ainda cativo e a hostilidade de segmentos que o associam diretamente aos escândalos de corrupção que marcaram sua trajetória, Arruda vive o que poucos políticos enfrentaram: uma tentativa de renascimento sob os escombros do próprio passado.

O episódio ocorreu durante a Convenção Geral da Assembleia de Deus de Brasília (Adeb), em Taguatinga. Segundo relatos, Arruda teria insistido para entrar no evento, mesmo ciente de que a participação era restrita a ministros credenciados. A recusa gerou desconforto. A suposta ameaça de “dar o troco à igreja” quando estivesse de volta ao cargo apenas agravou a tensão. O resultado: um vídeo viral e um constrangimento público de alto custo simbólico para quem deseja voltar ao topo do Executivo local.

Arruda, que já foi governador, senador, líder de governo no Congresso e protagonista de uma das mais rumorosas crises políticas do DF — a Operação Caixa de Pandora — enfrenta um retorno carregado de obstáculos jurídicos e emocionais. Condenado em múltas ações e tornado inelegível, aposta agora em uma reinterpretação da Lei da Ficha Limpa para tentar viabilizar sua candidatura em 2026. Uma estratégia juridicamente controversa e, politicamente, arriscada.

É inegável que ele ainda conserva capital político. Há um grupo significativo que enxerga em Arruda o gestor eficaz que transformou obras em votos, o político que dialogava com as bases e sabia entregar resultados. Mas esse mesmo grupo convive com a sombra do escândalo do mensalão do DEM, das imagens com maços de dinheiro e da prisão que virou manchete em todo o país. E essa sombra pesa.

A rejeição pública que Arruda enfrentou na igreja — uma instituição religiosa que costuma acolher políticos de diferentes espectros com cordialidade — indica o tamanho da resistência que ele ainda provoca em parte da sociedade. Se no campo jurídico ele tenta provar que pode voltar, no campo simbólico o desafio é ainda maior: convencer o eleitor de que sua volta é legítima, necessária e ética.

Diferentemente de outros políticos que se reinventaram em silêncio, Arruda escolheu o confronto direto com o passado. Ele não nega sua história, mas tenta ressignificá-la. O problema é que, para muitos, a memória da corrupção não é apenas uma cicatriz — é uma ferida aberta.

Sua tentativa de retorno ao Palácio do Buriti será marcada por extremos. De um lado, há eleitores prontos para recebê-lo com palmas e orações. De outro, uma sociedade cada vez mais intolerante à repetição de erros, que responde com vaias, protestos e portas fechadas — mesmo dentro de igrejas.

Arruda viverá, nos próximos meses, uma das experiências mais radicais da democracia: ser simultaneamente ovacionado e expulso, aceito e rejeitado, lembrado como gestor e julgado como réu. O sucesso dessa travessia dependerá menos do que ele fez no passado e mais da capacidade que tiver de apresentar um futuro que convença. Mas, por ora, o passado ainda bate mais forte. E nem sempre ele encontrará a porta aberta.

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