O tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, negou irregularidades nas contas do partido e afirmou que são inverídicas as declarações dos delatores da Operação Lava-jato que o acusam de participação nos desvios de recursos da Petrobras. “Sou inocente”, disse. “Não são verdadeiras essas declarações.” Vaccari foi citado por ex-executivos da estatal, por empresários e pelo doleiro Alberto Youssef, investigados no Paraná. Ele admitiu, porém, ter ido ao escritório de Youssef em São Paulo, a convite do doleiro. Mas não houve o encontro.
Foram muitas negativas durante o depoimento. Vaccari disse que não negociou propina, não tem contas no exterior, nunca esteve na Petrobras, não participou de arrecadação de recursos para a campanha da presidente Dilma Rousseff em 2010.
Protegido por um habeas corpus concedido pelo ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), que o permitia ficar calado, Vaccari respondeu perguntas de integrantes da comissão por mais de seis horas. O início da sessão foi muito tumultado. Um funcionário comissionado da Câmara soltou ratos no plenário.
Vaccari desafiou Youssef. “Nada na delação do senhor Youssef sobre a minha pessoa procede”, disse. “Não tratei de assuntos financeiros com o senhor Youssef.” Apesar dessa negativa, o petista admitiu ter ido a um endereço comercial do doleiro em São Paulo. “Foi uma única vez. Ele mandou para mim um recado para que eu fosse ao escritório dele. Fui, mas ele não estava e fui embora. Fiquei quatro minutos.” O deputado Aluísio Mendes (PSDC-MA) insistiu em saber do interrogado o motivo de ter ido ao escritório do doleiro. “Essa dúvida que o senhor tem eu também tenho”, disse o tesoureiro.
Graças a sua militância, segundo o tesoureiro, ele foi convidado para comandar as contas da legenda a partir de 2010. “O que me credenciou foi a minha milância”, disse, negando influência nesse processo da sua passagem pela Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop). A Bancoop é alvo de investigações pelo Ministério Público de São Paulo por irregularidades em sua gestão. Ele disse à deputada Eliziane Gama (PPS-MA) que permanecerá tesoureiro enquanto a diretório nacional do partido quiser.
Ratos
Ratos foram soltos no plenário e um manifestante mais exaltado foi detido quando esbravejava palavrões contra a CPI. Detido após o tumulto, o dono dos ratos, Márcio Martins de Oliveira, prestou depoimento na Polícia Legislativa do Senado. Ele é assessor da casa, lotado na função CNE (Cargo de Natureza Especial). Oliveira trouxe os ratos (misturados com ramster e esquilos), dentro de uma caixa preta e os soltou no plenário da comissão, aos gritos de que “isso aqui é uma palhaçada”, causando alvoroço entre os presentes.
O servidor foi contido com força pela segurança e levado para depor. Ele foi punido com a perda do cargo.
Powerpoint
Na sua primeira fala, o tesoureiro nacional do PT fez uma apresentação sobre doações de empresas investigadas na Operação Lava-Jato aos partidos. Ficou de pé, numa postura pouco usual em CPIs, e mostrou, com a ajuda de powerpoint, as legendas beneficiadas, não só o PT, mas também PSDB e PMDB.
O tesoureiro admitiu ter procurado empresários investigados na Operação Lava-Jato para captar recursos para seu partido e disse que as doações foram legais, registradas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE). Ele citou o empresário Eduardo Leite, da Camargo Corrêa. “Fiz visitas institucionais na busca de captação legal de recursos”, afirmou. Vaccari explicou que a Camargo não estava ajudando financeiramente o PT na mesma proporção de outros partidos, problema que teria sido contornado após essas conversas.
“Recebemos empresários constantemente que procuram o partido para discutir política”, afirmou. Outro que procurou a legenda foi Augusto Mendonça, ligado à Toyo Setal e delator da Operação Lava Jato. “Ele procurou o PT e propôs fazer a doação. Forneci a ele todas as informacoes necessárias para que fosse feita doação.” Mendoça entregou aos procuradores da República no Paraná cópia dos recibos como prova de propina.
Perguntado sobre sua relação com os funcionários da Petrobras investigados na Lava Jato, Vaccari afirmou que conheceu os ex-diretores Paulo Roberto Costa (Abastecimento), Renato Duque (Serviços) e o ex-gerente de Serviços Pedro Barusco em ocasiões sociais e disso não passou. “Nunca discutimos assuntos financeiros”, disse. No caso de Duque, ele afirmou que mantém um relacionamento amistoso, negando laços fortes de amizade.
Cunhada
Nas investigações da Operação Lava Jato no Paraná, a Polícia Federal levantou as viagens ao exterior de Marice Lima, cunhada do tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto. Marice viajou a três países entre 2012 e 2014. Segundo os registros da polícia, ela esteve em Milão (Itália), Cidade do Panamá (Panamá) e Amsterdam (Holanda).
A PF e o Ministério Público Federal rastreiam nesses países operações financeiras de envolvidos no escândalo, entre eles o ex-diretor Renato Duque e o ex-gerente Pedro Barusco. A deputada Eliziane (PPS-MA) questionou Vaccari sobre viagens internacionais. Ele respondeu que, no período, esteve apenas em Lima, no Peru.
Marice Lima é acusada pelo doleiro Alberto Youssef de receber dinheiro do petrolão que seria destinado a Vaccari. Youssef afirmou que entregou a ela R$ 400 mil para que fossem repassados ao tesoureiro. Os valores seriam pagamentos, segundo o doleiro, da empresa Toshiba. “Minha relação com ela (Marice) é meramente familiar”, disse o tesoureiro.
Doações
Vaccari responde a ação penal juntamente com o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque e outras 25 pessoas, acusados de negociar propina com fornecedores da estatal. Foram enquadras em crimes como corrupção e lavagem de dinheiro.
Parte dos valores, segundo as investigações da Lava Jato no Paraná, beneficiaram o PT, inclusive com doações legais que somaram mais de R$ 4 milhões. Na semana passada, Alberto Youssef prestou depoimento na Justiça e reiterou acusações contra Vaccari. De acordo com Youssef, ouvido pelo juiz Sérgio Moro, foram enviados outros R$ 800 mil ao PT em duas parcelas, a primeira entregue a Marice, a cunhada do tesoureiro, e a outra, repassada a Vaccari por um preposto da Toshiba na porta da sede do partido em São Paulo. A Toshiba é investigada pela Polícia Federal e pelo Ministério Público Federal.
A convocação do petista para depor na CPI estava aprovada há algumas semanas, mas não havia sido definida uma data. Aproveitando a ausência por motivo de viagem do presidente titular, Hugo Motta (PMDB-PB), o interino, Antonio Imbassahy (PSDB-BA), decidiu agendar para hoje. O cronograma desagradou aliados do Planalto. O relator, Luiz Sérgio (PT-RJ), acusou Imbassahy de “partidarismo”, por definir uma agenda negativa para o governo federal às vésperas das manifestações de 12 de abril.
Fonte: Fato Online