O tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, foi preso em sua residência, em São Paulo, às 7h30 de hoje (15), quando se preparava para a corrida matinal, na 12ª fase da Operação Lava Jato. Ele será levado para Curitiba. A prisão foi determinada pelo juiz federal Sérgio Moro. “O que tínhamos hoje eram requisitos para a prisão preventiva”, afirmou o delegado Igor Romário de Paula, durante entrevista coletiva da Polícia Federal em Curitiba. Segundo ele, a apuração em torno de Vaccari continuará, apesar da prisão. “O que está sendo investigado é bem mais amplo”, disse.
Vaccari está sendo levado de carro para Curitiba, onde cumprirá prisão preventiva e ficará à disposição da Justiça pelo tempo necessário. Ele é apontado por ex-funcionários da Petrobras investigados na operação como o contato do PT com o esquema de corrupção montado na estatal. O tesoureiro teria recebido propina para o PT por meio de doações eleitorais feitas por empreiteiras que tinham contrato com a Petrobras. Segundo o ex-gerente de serviços da Petrobras, Pedro Barusco, as propinas podem ter atingido a cifra de US$ 200 milhões.
A Polícia Federal explicou, em entrevista coletiva, as razões da prisão do tesoureiro nacional do PT. Embora seja alvo de mandado de prisão temporária, a cunhada de Marice Correa, ainda não foi detida porque está fora do Brasil. Segundo Vaccari, ela estaria num país da América Central. A PF ainda não a considera foragida. Os policiais também tomaram o depoimento coercitivo de Giselda Rousie de Lima, mulher de Vaccari.
De acordo com as investigações, Vaccari determinava a empreiteiras que pagassem à gráfica Atitude, ligada a centrais sindicais, por serviços não prestados. Há suspeitas em movimentações financeiras da mulher e da filha de Vaccari. O delator Augusto Mendonça, ligado à Toyo Setal e um dos delatores da Lava Jato, afirmou que pagou mais de R$ 1,5 milhão para a gráfica Atitude. A PF e o Ministério Público Federal investigam se esse dinheiro foi direcionado para campanha eleitoral de 2010.
Vaccari é réu em ação penal na Justiça Federal do Paraná. Ele foi denunciado no mês passado juntamente com o ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque e outras 25 pessoas. Os procuradores da República que atuam no caso os acusam de crimes como corrupção e lavagem de dinheiro. A Diretoria de Serviços da estatal, segundo as investigações, foi aparelhada para beneficiar o PT.
O tesoureiro do PT foi citado por cinco delatores da Operação Lava-Jato. Um dos depoimentos mais contundentes em relação ao petista veio do ex-gerente de Serviços da Petrobras Pedro Barusco. Ex-subordinado de Duque, Barusco afirmou ao Ministério Público Federal que negociou com Vaccari cerca de US$ 300 mil para reforçar o caixa da campanha presidencial em 2010, dinheiro que teria sido desviado de contratos da estatal com fornecedores. Os valores, segundo o delator, foram repassados pela empresa holandesa SBM.
Essa acusação foi reiterada recentemente em depoimento de Barusco à CPI da Petrobras. Na audiência, o ex-gerente de Serviços “estimou” que Vaccari tenha captado em propina algo entre US$ 150 milhões e US$ 200 milhões. “É uma estimativa, mas acredito que tenha recebido. Eu recebi. Por que ele (o PT) não recebeu?”, afirmou Barusco.
Vaccari tinha papel importante no esquema criminoso, segundo o ex-gerente. “Éramos eu, Renato Duque e Vaccari os protagonistas”, disse, referindo-se à área de Serviços, comanda por Duque entre 2003 e 2012. Questionado, Barusco não soube dizer se o tesoureiro recebeu, quanto recebeu e como distribuiu a parcela que caberia ao PT.
O doleiro Aberto Youssef também reforçou as acusações contra Vaccari. Ele afirmou que entregou dinheiro do petrolão ao PT, na porta do diretório nacional do partido em São Paulo. Seria, segundo o doleiro, a segunda parcela de um total de R$ 800 mil entregues ao tesoureiro petista. “Foram entregues a mando da Toshiba para o tesoureiro do PT”, afirmou.
Youssef disse que os valores foram levados até a porta do diretório nacional petista por um de seus auxiliares, Rafael Ângulo, para serem entregues a um representante da Toshiba, que se encarregaria de repassar soma a Vaccari. A primeira parcela, completou o doleiro, foi entregue à cunhada do petista, Marice Correa, no escritório que o delator mantinha na Rua Renato Paes de Barros, em São Paulo.
Conforme a PF o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, desafiou as instituições ao continuar com negociações irregulares, mesmo estando respondendo a uma ação penal em São Paulo, segundo o delegado Igor Romário de Paula, que esteve à frente da 12ª fase da Operação Lava Jato.
A cunhada de Vaccari, Marice Correa, também teve o pedido de prisão temporária decretada. Ela já estava sendo investigada há algum tempo, segundo o procurador da República, Carlos Fernandes Santos Lima. Marice já havia sido conduzida coercitivamente pela Polícia Federal para prestar depoimentos em outra ocasião.
A cunhada comprou apartamento no litoral norte de São Paulo por R$ 200 mil e vendeu para OAS por mais de R$ 400 mil. Em seguida, a empreiteira vendeu por bem menos que pagou. Esse caso estaria relacionado a irregularidades na Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo (Bancoop), administrada por Vaccari antes de ser tesoureiro do PT.
Vaccari terminava de colocar os tênis quando foi surpreendido por policiais federais à porta de sua residência, na Bela Vista, em São Paulo. Por ordem do juiz federal Sérgio Moro, ele foi preso preventivamente e conduzido à carceragem da Polícia Federal, em Curitiba, onde chegou no início da tarde para depor na Operação Lava Jato, que investiga o escândalo do Petrolão.
Polícia e Ministério Público Federal deram entrevista coletiva sobre o assunto pela manhã. Vaccari foi levado ainda ao Instituto Médico Legal (IML) para realização do exame de corpo de delito – uma exigência legal para atestar as condições de saúde do preso na época do cumprimento do mandado judicial.
A expectativa é de que Vaccari seja ouvido somente na sexta-feira, uma vez que o dia de amanhã (16) está reservado aos depoimentos dos ex-deputados André Vargas, Luiz Argôlo e Pedro Corrêa, presos preventivamente desde sexta-feira também na carceragem da PF em Curitiba.
Segundo Moro, que precisou de 42 páginas para explicar os motivos da prisão preventiva, está evidente que Vaccari é o operador, dentro do PT, do esquema de propinas pagas via contratos com a Petrobrás. “O mundo do crime não pode contaminar o sistema político-partidário”, argumentou o magistrado, destacando que a ação não tem qualquer relação com partidos ou pessoas do mundo político.
O nome de Vaccari foi mencionado por cinco réus que assinaram acordos de delação premiada nessa investigação, que já completou um ano. O último a associá-lo às operações de desvio e lavagem de dinheiro foi o doleiro Alberto Yousseff, cuja defesa solicitou a complementação do depoimento há duas semanas.
Outro colaborador da polícia, Augusto Ribeiro de Mendonça Neto, da empreiteira Toyo Setal, diz que foi “instado” por Vaccari a pagar R$ 1,5 milhão a uma gráfica por serviços não prestados. Essa gráfica se chama Atitude, de São Paulo, e tem entre seus clientes o PT. A suspeita é de que o dinheiro tenha relação com a campanha eleitoral de 2010.
Mulher e filha
No mesmo endereço em que Vaccari foi preso, os policiais cumpriram dois mandados de condução coercitiva – um contra Giselda Rousie de Lima, mulher de Vaccari, e outro contra Nayara de Lima Vaccari, filha do casal. Para aproveitar a presença de Giselda no local e evitar o deslocamento até a sede da PF, ela prestou informações na própria residência e, segundo o delegado regional de Combate ao Crime Organizado, Igor de Paula, acrescentou pouco à investigação.
Movimentação nas contas bancárias de mãe e filha, que tiveram seu sigilo quebrado, indicam enriquecimento ilícito da família. Giselda, por exemplo, informa em declaração de Imposto de Renda 2008/2009 ter comprado um apartamento por R$ 500 mil. Porém, pagou ao proprietário R$ 300 mil. Ela também recebeu da CRA Agropecuária e devolveu à mesma empresa R$ 400 mil. A CRA é uma empresa de fachada pertencente ao representante formal do doleiro Alberto Yousseff, Carlos Alberto Pereira da Costa. Já Nayara, a filha de Vaccari, foi beneficiada com depósitos de R$ 1,6 milhão entre 2006 e 2014 dos quais 32% não têm identificação e, por isso, são suspeitos.
A cunhada
Os policiais não conseguiram localizar a cunhada de Vaccari, Marice, contra quem foi expedido mandado de prisão temporária e outro de busca e apreensão de provas. Segundo o tesoureiro do PT, que recebeu a polícia sem resistência, ela está viajando pela América Central há cerca de duas semanas. Correspondência acumulada no local indica que ela esteja mesmo longe de casa há vários dias e que não tenha escapado da prisão. Caso não se apresente logo à polícia, Marice pode ter decretada sua prisão provisória.
A cunhada de Vaccari, que também teve o sigilo bancário quebrado por decisão judicial, é peça importante na investigação. Além de receber em casa dinheiro da propina paga a Vaccari sobre os contratos com a Petrobrás, conforme a investigação, ela fez negócios imobiliários suspeitos. Titular de renda anual declarada de R$ 100 mil, resultante de salários e aluguéis, Marice aplicou dinheiro no mercado financeiro e comprou dois imóveis.
Fonte: Fato Online