Nada é mais necessário e valioso numa campanha eleitoral do que a informação qualificada. Trata-se da matéria-prima da corrida eleitoral. Sem ela, as estratégias e decisões passam a ser amparadas pelos palpites. E ninguém ganha uma eleição apostando na incerteza
Uma campanha pode ser encarada como um esforço coordenado para :
1- coletar informações – sobre eleitores, projetos, realidade local, apoios, recursos, adversários e inúmeros outros itens que facilmente podem ser imaginados
2- processar informações – avaliar, combinar, separar o que vai ser usado do que não será, priorizar, listar, quantificar etc
3- interpretar informações – extrair o significado dos dados, identificar tendências, construir cenários, descobrir novas possibilidades e perspectivas, confirmar hipóteses etc
4- formatar informações – em projetos a serem propostos, em estratégias a serem seguidas, em atividades de campanha, nas estratégias de comunicação e marketing (peças)
5- comunicar informações – na publicidade da campanha, no discurso do candidato, nos debates, nas entrevistas, nos programas de rádio e TV etc)
O acesso às pesquisas permite traçar estratégias e decisões
A qualidade de uma campanha depende diretamente da qualidade da informação com a qual a equipe trabalha. Informação de má qualidade (imprecisa, incompleta e incorreta) empurra a campanha para o perigoso território dos palpites, da intuição e do ativismo voluntarista. O candidato e sua equipe estão sempre realizando estimativas. Há, entretanto, uma enorme diferença entre fazer isso com base em informações confiáveis – ainda que insuficientes – e em informações não confiáveis, de baixa qualidade.
Foi o entendimento do papel decisivo e insubstituível da informação confiável para subsidiar decisões do candidato durante a disputa eleitoral que provocou a mais importante das transformações ocorridas nas campanhas no século 20: a inclusão da pesquisa política no núcleo central de estratégia. Hoje não mais se concebe uma campanha feita às cegas, baseada apenas na sempre discutível experiência, na intuição e na improvisação. Não é possível construir uma campanha eleitoral eficiente sem informações precisas e confiáveis sobre o eleitorado, suas disposições, avaliações, interesses e prioridades
Em busca da informação confiável
São as pesquisas (quantitativas, qualitativas, censitárias, de conteúdo etc), realizadas por organizações ou pessoas experientes e qualificadas, o instrumento mais adequado para produzir e escalonar as informações indispensáveis à concepção de uma estratégia vitoriosa para a campanha. Informação confiável, entretanto, não se limita apenas àquelas produzidas por pesquisas. Refere-se também a toda informação que circula na campanha, é objeto de discussão nas reuniões e é julgada suficientemente importante para subsidiar decisões.
Muitas vezes a campanha não dispõe de recursos e/ou tempo para realizar uma pesquisa antes de tomar uma decisão de grande importância para a candidatura. Isto não significa que se deve abandonar a busca pela informação confiável. Muito ao contrário. Nessas situações, o esforço para confirmar as informações deve ser ainda maior. Procedimentos como múltipla checagem; avaliação da sua coerência com outras informações confirmadas, relativas ao mesmo assunto; conversa com analistas e comentaristas políticos; consistência com resultados de outras pesquisas (realizadas pelo partido ou por rádios, jornais, TV e instituições especializadas); e, sobretudo, a interpretação do seu significado e da sua lógica, em função do conhecimento que se possui sobre o assunto, podem reduzir significativamente a margem de incerteza.
Em política, fatos ou informações sobre fatos – ocorridos ou por ocorrer – que não se revelam auto-explicáveis devem sempre ser analisados pela ótica dos seus resultados e não da intenção. A pergunta clássica que deve ser respondida é:
A quem interessa ou beneficia a ocorrência ou produção daquele fato?
Em mais de 90% dos casos a identificação do beneficiado vai esclarecer as razões do fato. A busca da informação confiável, portanto – que deve tornar-se um hábito e uma regra compartilhada por toda equipe, inclusive pelo candidato – está ao alcance de qualquer campanha, pobre ou rica, e origina alguns corolários:
1- Quando a informação existe e está disponível – por exemplo, dados do censo, pesquisas já publicadas – não há desculpa para não possuí-la
2- Quem apresenta informações deve deixar explicitado seu grau de confiabilidade – muita, razoável, pouca, nenhuma;
3- O candidato precisa saber combinar confiabilidade e tempo. De nada adianta buscar uma confiabilidade tão demorada para ser obtida que faça com que se perca o momento de usá-la. Nestes casos, é melhor decidir com base em informações razoavelmente seguras, ou até precárias, para não perder o momento e as oportunidades;
4- Há decisões que, por sua importância e premência de tempo, precisam ser tomadas com poucas informações confiáveis ou com dados contraditórios. O candidato não deve hesitar a tomar as decisões necessárias, fazendo uso do seu melhor julgamento e correndo os inevitáveis riscos. É aconselhável, porém, que prepare, por antecipação, uma alternativa de correção para o caso de erro.
Fonte: Política para políticos