O fim da eleição é o começo de outra, até mesmo para o candidato que se elegeu.
Terminada a eleição, empossado o novo governante, a concepção dominante é de que o novo governo deve “parar de fazer política” e preocupar-se em administrar. O momento da política é a campanha eleitoral. O período de governo é o momento da administração.
É preciso pensar no mandato como campanha permanente
Harry Truman, presidente dos EUA, sintetizou essa forma de pensar numa frase que teria dito para o recém eleito John Kennedy:
“Uma vez eleito, pare de fazer campanha.”
Essa concepção, que separa radicalmente a atividade política da atividade de governo, é contestada por outra que sustenta:
“Terminada a eleição, começa a eleição.”
Nessa maneira de ver o processo político, a clássica dicotomia: eleições=política; governo=administração, deixou de existir. Hoje é costume dizer que: terminada a campanha eleitoral, começa a nova campanha. Cada vez mais, essa é a maneira predominante como os políticos, governantes e profissionais, passaram a encarar o período pós eleição.
Ninguém questionará que esta deva ser a atitude do candidato que não logrou se eleger, e que pretende seguir a carreira política. Tendo lhe sido negado pelo voto o espaço do governo e da administração, permanecerá no território da política, em busca de uma nova chance.
Já a situação do candidato que se elegeu, tende a ser vista de maneira diferente. No passado recente, e, em grande medida ainda nos dias de hoje, acredita-se que, uma vez eleito, “chega a hora de governar, de administrar, e não de fazer política”.
É certo que, para o candidato eleito, as prioridades mudam. Dele se espera agora, que cumpra o que prometeu na campanha eleitoral, pelo exercício dos poderes administrativos que o mandato lhe confere. O que há de novo, entretanto, não é a alteração da ordem de prioridade, e sim o fato de que a política contemporânea exige do líder eleito que, no período que separa uma eleição da outra, ele governe e faça “campanha política” ao mesmo tempo!
Campanha Permanente: o surgimento
Essa nova realidade política não surgiu da vontade de nenhum líder ou partido político. Tampouco resultou de mudanças na legislação eleitoral. Não é portanto, matéria de livre escolha do governante. Trata-se de uma imposição das novas condições em que o jogo político passou a ser jogado.
Ela é uma decorrência das mudanças tecnológicas, científicas, e culturais, difundidas pelas novas tecnologias de comunicação de massa, que passaram a reger a nossa maneira de viver, sobretudo a partir de meados do século XX.
É a universalização da sociedade de massas, ou, nas sociedades mais institucionalizadas, a universalização dos comportamentos de massa, que originou a nova política, da qual a campanha permanente tornou-se uma de suas marcas. O ritmo dos eventos sofreu uma enorme aceleração, enquanto o seu grau de permanência foi dramaticamente reduzido. O próprio ambiente em que ocorrem os fatos políticos tornou-se nervoso, instável, imprevisível e amplamente socializado, revolvendo, diariamente, uma massa de informações, cujo volume está fora do alcance do cidadão comum acompanhar, e menos ainda interpretar.
Não coloque a sua base política em segundo plano, isso será percebido e você terá “troco”
Para governar passou a ser necessário reter e ampliar o poder obtido nas eleições. Sem essa providência, o poder tende a se dispersar e retornar ao mercado político. A campanha permanente surgiu então, porque o poder deixou de ser encarado como um estado de coisas estabilizado até a próxima eleição, como decorrência de uma decisão eleitoral.
Ao contrário, o poder ficou sujeito a uma dinâmica permanente de fatos políticos que, de maneira informal mas muito real, estende o período de campanha (como período de preparação da próxima eleição) por sobre o período do mandato recém conquistado. Em outras palavras, quem ganhou que trate de reter e ampliar seu poder, e dar a ele a perspectiva de continuidade.
Quem perdeu, ou se situa na oposição ao governo, que trate de começar imediatamente a preparação do seu reposicionamento político pessoal, com vistas a disputar a próxima eleição. É o que passou a ser chamado de campanha permanente.
O que se quer transmitir, com este conceito é:
1. Que campanha e governo, embora correspondam a realidades bem diferentes, não podem e não devem ser tratados como mutuamente excludentes.
2. A experiência tem comprovado que, fazer um bom trabalho no exercício do mandato, ser um executivo competente ou um legislador produtivo, não é suficiente para assegurar a vitória na próxima eleição. Estes dois “fatos” da vida política justificam o argumento da conveniência de pensar-se o mandato em termos de uma “Campanha permanente”.
Fonte: Política para Políticos