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Campanha Permanente: uma introdução

O fim da eleição é o começo de outra, até mesmo para o candidato que se elegeu.

Terminada a eleição, empossado o novo governante, a concepção dominante é de que o novo governo deve “parar de fazer política” e preocupar-se em administrar. O momento da política é a campanha eleitoral. O período de governo é o momento da administração.

É preciso pensar no mandato como campanha permanente

Harry Truman, presidente dos EUA, sintetizou essa forma de pensar numa frase que teria dito para o recém eleito John Kennedy:

“Uma vez eleito, pare de fazer campanha.”

Essa concepção, que separa radicalmente a atividade política da atividade de governo, é contestada por outra que sustenta:

“Terminada a eleição, começa a eleição.”

Nessa maneira de ver o processo político, a clássica dicotomia: eleições=política; governo=administração, deixou de existir. Hoje é costume dizer que: terminada a campanha eleitoral, começa a nova campanha. Cada vez mais, essa é a maneira predominante como os políticos, governantes e profissionais, passaram a encarar o período pós eleição.

Ninguém questionará que esta deva ser a atitude do candidato que não logrou se eleger, e que pretende seguir a carreira política. Tendo lhe sido negado pelo voto o espaço do governo e da administração, permanecerá no território da política, em busca de uma nova chance.

Já a situação do candidato que se elegeu, tende a ser vista de maneira diferente. No passado recente, e, em grande medida ainda nos dias de hoje, acredita-se que, uma vez eleito, “chega a hora de governar, de administrar, e não de fazer política”.

É certo que, para o candidato eleito, as prioridades mudam. Dele se espera agora, que cumpra o que prometeu na campanha eleitoral, pelo exercício dos poderes administrativos que o mandato lhe confere. O que há de novo, entretanto, não é a alteração da ordem de prioridade, e sim o fato de que a política contemporânea exige do líder eleito que, no período que separa uma eleição da outra, ele governe e faça “campanha política” ao mesmo tempo!

Campanha Permanente: o surgimento

Essa nova realidade política não surgiu da vontade de nenhum líder ou partido político. Tampouco resultou de mudanças na legislação eleitoral. Não é portanto, matéria de livre escolha do governante. Trata-se de uma imposição das novas condições em que o jogo político passou a ser jogado.

Ela é uma decorrência das mudanças tecnológicas, científicas, e culturais, difundidas pelas novas tecnologias de comunicação de massa, que passaram a reger a nossa maneira de viver, sobretudo a partir de meados do século XX.

É a universalização da sociedade de massas, ou, nas sociedades mais institucionalizadas, a universalização dos comportamentos de massa, que originou a nova política, da qual a campanha permanente tornou-se uma de suas marcas. O ritmo dos eventos sofreu uma enorme aceleração, enquanto o seu grau de permanência foi dramaticamente reduzido. O próprio ambiente em que ocorrem os fatos políticos tornou-se nervoso, instável, imprevisível e amplamente socializado, revolvendo, diariamente, uma massa de informações, cujo volume está fora do alcance do cidadão comum acompanhar, e menos ainda interpretar.

Não coloque a sua base política em segundo plano, isso será percebido e você terá “troco”

Para governar passou a ser necessário reter e ampliar o poder obtido nas eleições. Sem essa providência, o poder tende a se dispersar e retornar ao mercado político. A campanha permanente surgiu então, porque o poder deixou de ser encarado como um estado de coisas estabilizado até a próxima eleição, como decorrência de uma decisão eleitoral.

Ao contrário, o poder ficou sujeito a uma dinâmica permanente de fatos políticos que, de maneira informal mas muito real, estende o período de campanha (como período de preparação da próxima eleição) por sobre o período do mandato recém conquistado. Em outras palavras, quem ganhou que trate de reter e ampliar seu poder, e dar a ele a perspectiva de continuidade.

Quem perdeu, ou se situa na oposição ao governo, que trate de começar imediatamente a preparação do seu reposicionamento político pessoal, com vistas a disputar a próxima eleição. É o que passou a ser chamado de campanha permanente.

O que se quer transmitir, com este conceito é:

1.    Que campanha e governo, embora correspondam a realidades bem diferentes, não podem e não devem ser tratados como mutuamente excludentes.

2.    A experiência tem comprovado que, fazer um bom trabalho no exercício do mandato, ser um executivo competente ou um legislador produtivo, não é suficiente para assegurar a vitória na próxima eleição. Estes dois “fatos” da vida política justificam o argumento da conveniência de pensar-se o mandato em termos de uma “Campanha permanente”.

Fonte: Política para Políticos

PF plantou câmera em Durval para filmar Arruda

Gravações feitas dentro da sede da Polícia Federal, em Brasília, mostram agentes implantando equipamentos de filmagem no corpo de Durval Barbosa, delator responsável pela queda de José Roberto Arruda; “vai dar tudo certo”, diz a agente; fora da PF, Durval pega o carro e diz seu destino: a casa do governador.

Delator do ‘mensalão’ do DEM, Durval Barbosa filmou de dentro da casa do então governador do Distrito Federal José Roberto Arruda com equipamentos da Polícia Federal. Um dos vídeos feitos por Durval foi publicado nesta sexta-feira 2 pelo site QuidNovid, do jornalista Mino Pedrosa.

Fonte: Brasil 247

Não gostaram

Os policiais civis não gostaram nada, nada da atitude do governador Agnelo Queiroz de tirar deles a tarefa de realizar vistoria nos veículos de outros estados a serem transferidos para o DF. Agora, a atribuição é do Detran-DF. Tanto que, na sexta-feira, o Sindicato dos Policiais Civisi do DF (Sinpol-DF), divulgou nota de repúdio à atitude do líder do Executivo local.

Fonte: Blog do Livio di Araujo

Eleições nos EUA – Obama disputa voto a voto para se reeleger

Na véspera da eleição, o presidente Barack Obama e o ex-governador Mitt Romney tentam romper o empate nas pesquisas, numa última arrancada de comícios em estados que vão decidir o pleito. Cada candidato percorre hoje três estados à caça de votos, numa maratona que ontem abrangeu, no total, outros sete. No complicado xadrez eleitoral, Obama tenta manter a vantagem, ainda que dentro da margem de erro, em cinco dos nove estados essenciais, especialmente no Meio-Oeste – o suficiente para assegurar a reeleição, relatam as correspondentes Fernanda Godoy e Flávia Barbosa. Romney, por sua vez, corre o risco de ganhar na votação popular, mas perder no Colégio Eleitoral.

Fonte: Congresso em Foco

‘Cidades de tendas’ se espalham pelos EUA

A menos de 80 km dos milionários apartamentos da Quinta Avenida em Nova York, um grupo de 90 desempregados mora em barracas compradas no Walmart, sem luz e água, fazendo xixi em penico e tomando banho em bacias, no meio de um bosque. Lakewood, em Nova Jersey, é uma das cerca de cem “tent cities” (cidades de tendas) que surgiram nos EUA desde o início da crise, em 2008.

Muitos dos que vivem assim perderam as casas por não pagarem hipotecas ou ficaram na rua depois de serem demitidos e atrasar o aluguel. Nos EUA, tornaram-se o rosto mais visível do crescimento da desigualdade, um dos temas mais quentes da eleição de amanhã entre Barack Obama e Mitt Romney.

Fonte: Congresso em Foco

A família do candidato pode aparecer na sua publicidade

As campanhas eleitorais no Brasil, contrariamente às dos EUA, não têm o hábito e relutam muito em envolver a família do candidato na sua publicidade. Talvez ainda predomine, entre nós, a concepção tradicional e latina da política, como uma atividade masculina e adulta.

Barbara Bush apareceu em um comercial de campanha para ajudar seu marido George Bush

A família, em especial a mulher do candidato, nesta concepção, deve ficar fora da política, protegida num “território proibido” à campanha. Com a presença cada vez maior da mulher em todas as áreas profissionais, e, na política, não apenas em cargos legislativos, mas também nos executivos, esta concepção tradicional está dando lugar à outra mais moderna.

Entretanto, estamos ainda muito distantes da intensidade de participação dos familiares em campanhas eleitorais que ocorre nos EUA. A cada eleição presidencial, a presença feminina cresce, quando comparada com eleições anteriores.

Em 2002, por exemplo, Roseana Sarney chegou a polarizar com Lula nas pesquisas de intenção de voto; Serra foi levado a escolher Rita Camata para sua companheira de chapa; e Patrícia Pillar ocupou um espaço próprio e de grande impacto favorável na candidatura de Ciro Gomes.

No Brasil, em eleições estaduais e municipais, para o executivo e legislativo, ainda não se descobriu, nem explorou, o enorme potencial político representado pela família do candidato, e, de modo muito especial, pela esposa do candidato. Ninguém está mais próximo do candidato, mais autorizado a falar em seu nome, mais credenciado para defendê-lo ou promovê-lo, que a sua esposa.

Nos EUA, para citar apenas o caso da família Clinton, a esposa do Presidente, Hillary, por mais de uma vez- primeiro na campanha e depois na Casa Branca- fez pronunciamentos pessoais em defesa de seu marido, que foram decisivos para a sua vitória e depois para a sua permanência no cargo.

Nesta coluna, vamos ilustrar, com o comercial de Bárbara Bush, esposa do Presidente George Bush (pai), um tipo de peça publicitária protagonizada pela esposa do candidato. Trata-se de um comercial produzido para a campanha presidencial de 1988, em que Bush concorria contra Dukakis do partido democrata, e sobre a qual já reproduzimos várias peças e comentários.

Aquela eleição ficou marcada como particularmente agressiva, um marco histórico no que se chama de “campanha negativa”. Bush, com seu chefe de campanha Lee Atwater, usou em grande escala e com êxito, a “campanha negativa” contra Dukakis, vencendo a eleição.
Qual era o problema?

A imagem de Bush (pré-existente) era de uma pessoa fria, aristocrática, superior, distante das pessoas comuns

O problema residia no fato de que a campanha negativa, por mais eficiente que venha a ser para derrotar um adversário, tem os seus custos para quem a pratica. A imagem de Bush (pré-existente) apresentava-o como uma pessoa fria, aristocrática, superior, e distante das pessoas comuns.

A campanha negativa contra Dukakis agregara a esta imagem os atributos de um político agressivo contra seu adversário, ao ponto da crueldade. (Confira mais detalhes em O Comercial Willie Horton derruba Dukakis).

Para amenizar esta imagem, torná-la mais humana, “a família entrou em campo” com Barbara Bush apresentando um comercial no qual ela descrevia seu marido e manifestando seu desejo de que os americanos vissem “o George” como ela o via. Neste comercial foi usado como locutor o famoso artista de Hollywood Charlton Heston.

O Comercial

O comercial abre com o som de uma música alegre e sincopada sendo tocada ao piano em off enquanto uma menina pequena aparece no vídeo correndo e, com o recuo da câmera, Bárbara e George são vistos brincando com os netos. Seguem-se cenas de um picnic de família, e ouve-se a voz de Bárbara dizendo:

“Eu gostaria que as pessoas pudessem vê-lo como eu o vejo. Como milhares de pessoas o vêm.”

Aparece Barbara Bush falando para a câmera e dizendo:

“Mas vocês sabem, eu sempre adorava aquele tempo em que alguém diria a George: ‘Como é que você pretende concorrer à Presidência, se você não tem uma base eleitoral fixa?'”. Corte rápido para a cena de George Bush brincando com os netos depois cozinhando, enquanto Barbara continuava, em off:

Michael Dukakis acabou derrotado por George Bush na corrida eleitoral norte-americana

“E George dizia: Bom, você sabe, eu tenho uma família muito, mas muito grande mesmo, e além disso, tenho milhares de amigos”. E, é verdade, ele tem mesmo.”

Corte para fotos de Bush num porta-aviões, nas Nações Unidas, fazendo o juramento de vice-presidente, junto com Margareth Thatcher, junto com uma mulher pobre de origem eslávica, com Walenski, seguidas de cenas filmadas de Bush atirando a neta para o ar e beijando-a. Enquanto esta seqüência de fotos e cenas filmadas é apresentada, ouve-se, em off, a voz de Charlton Heston dizendo:

“Por mais de 40 anos, George Bush enfrentou todos os desafios que o seu país e o mundo lhe puseram pela frente. A verdade é, quanto mais você conhece George Bush, mais você descobre que talvez ninguém, neste século, está mais preparado do que ele para ser presidente dos Estados Unidos”

Concluída a locução, aparece letreiro superimposto à tela com a frase: “George Bush uma liderança experiente para o futuro da América”.

Fonte: Política para Políticos

Bandwagon-effect: a síndrome do “efeito adesão” no processo eleitoral

Por que alguns eleitores tendem a manifestar preferência para o candidato que “está na frente”?

É amplamente comentado pela grande imprensa, pelos analistas e pelos candidatos, o efeito da flutuação nas intenções de voto apontadas pelas pesquisas eleitorais. De uma hora para outra, o quadro eleitoral pode sofrer alterações a partir de fatos negativos ou positivos divulgados a respeito dos candidatos.

Flutuação das intenções de voto que aparece nas pesquisas existe mesmo

Tais situações podem exigir mudanças de estratégias para manter a candidatura no páreo até o final da corrida eleitoral. Pois bem, dentre tantos elementos que compõe o ambiente psico-social de uma eleição, está o bandwagon-effect, ou a síndrome do “efeito adesão”.

Bandwagon-effect

O chamado bandwagon-effect, nada mais é do que a tendência das preferências eleitorais se transferirem para o candidato que desponta nas pesquisas.

Em outras palavras, quando um candidato é apontado pelas pesquisas de intenção de voto como favorito, com um percentual significativo de vantagem na preferência dos eleitores em relação aos demais candidatos, ocorre uma transferência de intenções de voto para o primeiro colocado, ou seja, a parcela dos eleitores que não possuem uma escolha consolidada tende a manifestar preferência para o candidato que “está na frente”.

Esse efeito “efeito adesão” ocorre porque os eleitores acreditam que, votando em um candidato que fatalmente será derrotado, estarão “desperdiçando seu voto”, comportamento esse que pode se acentuar com o apelo ao “voto útil”, que geralmente é adotado pelo primeiro colocado, ou por aquele candidato que está mais próximo ao líder nas pesquisas e que pode levar a disputa para um segundo turno.

Eleitores que não têm convicção do voto acabam votando em quem está na frente

Estima-se que a expressão bandwagon-effect tenha sido incorporada ao vocabulário político norte-americano em 1902, numa história em quadrinhos sobre a carreira política de Theodore Roosevelt. Com o tempo, essa expressão foi sendo utilizada até em eleições papais nas quais os cardeais são induzidos a direcionar seu voto para o candidato mais votado no último escrutínio.

De fato, o bandwagon-effect, aplicado aos processos eleitorais, manifesta-se com maior força, em contextos nos quais os eleitores demonstram uma baixa identificação com os partidos políticos e pouco interesse pela atividade política.

Em processos eleitorais nos quais as identidades partidárias são mais enraizadas, como no continente europeu, os eleitores são menos susceptíveis ao bandwagon-effect. Nestes contextos, até podem ocorrer surpresas durante o processo eleitoral, mas é preciso que fatos mais consistentes ocorram para haver um deslocamento das preferências de voto.

Fonte: Política para Políticos

Uma explicação de Maquiavel para a visão negativa da política e dos políticos

Pensador italiano sustenta a irremovível diferença que existe, entre a lógica da vida pública e a da vida privada.

“Como é louvável um príncipe que mantém a sua palavra e vive com integridade! Assim mesmo, a experiência dos nossos tempos mostra que os príncipes que não mantêm a sua palavra, tiveram muito sucesso em seus governos, e foram capazes, pela astúcia, de confundir as mentes das pessoas. Estes príncipes, que não honraram suas palavras, tiveram em última análise mais sucesso do que os príncipes que fizeram da lealdade o fundamento do seu poder.” “Por isso, um governante prudente não deve manter sua palavra, quando fazê-lo for contra o seu interesse, e, quando as razões que o fizeram comprometê-la não mais existirem. Se os homens fossem bons, este preceito seria errado e condenável, mas, como eles são maus e não honrarão as suas palavras com você, você também não está obrigado a manter a sua para com eles.”
(Maquiavel – O Príncipe Cap. XVIII)

O parágrafo do Príncipe permite entender as razões, pelas quais Maquiavel sustenta a irremovível diferença que existe, entre a lógica da vida pública e a da vida privada.

No núcleo básico do pensamento político de Maquiavel, encontra-se, não apenas uma radical diferença entre as duas esferas, como a presença de uma “alquimia política”, mediante a qual, o que é virtude numa esfera tende a tornar se vício e defeito, quando aplicado em outra esfera da vida.

Lógicas da vida pública e da vida privada são muito diferentes

Tornava-se assim impossível para Maquiavel a existência de uma mesma ética, aplicável com igual validade, à esfera familiar e à esfera política.

Rompia Maquiavel com o pensamento dominante da Idade Média, consolidado de forma genial e definitiva, na Suma Teológica de Sto. Tomás de Aquino e na filosofia escolástica, que, pelos séculos vindouros, seria o “código” da ortodoxia do pensamento cristão.

Ortodoxia que se assentava no princípio conhecido como “A Grande Corrente do Ser”, mediante o qual o universo era penetrado por uma ordem hierárquica que vinha de Deus, na sua cúpula, até o mais inferior dos seres, na sua base.

Com Maquiavel começa então uma análise da política, que se apoia na prática, no comportamento humano como evidenciado na realidade e na história, e não em princípios religiosos e filosóficos, revelados ou racionalmente concebidos. Com Maquiavel rompe-se uma tradição de pensamento político que vinha desde a Grécia Clássica, passando por Roma, e por toda a Idade Média Europeia, cujos pressupostos básicos eram os mesmos.

Para Maquiavel e para os pensadores da “escola realista” da política que viriam a seguir(como Baltasar Gracián, Cardeal Mazzarino, Cardeal Richelieu, Guicciardini, Mandeville), a vida pública possui uma natureza muito diferente da vida privada.

Certos comportamentos totalmente recomendáveis e elogiosos na vida privada, se transpostos para a vida pública, revelam-se catastróficos, e, inversamente, comportamentos censuráveis nas relações privadas, mostram-se necessários e até indispensáveis na vida pública.

Esta contradição entre virtudes e defeitos na vida privada e na vida pública, foi analisada com excepcional objetividade e crueza, por Maquiavel. No Príncipe, ele demonstra como uma virtude da vida privada, se adotada literalmente pelo governante, transforma se no seu oposto na vida política.

O que o “sovina” fizer para o povo será recebido como uma agradável surpresa

O governante liberal, por exemplo, no seu desejo de agradar a todos, gasta mais do que poderia, tendo que depois criar novos impostos e coletá-los avidamente, para cobrir o déficit.

Já o governante “sovina” gera poucas expectativas, e, como dele só se esperava o pior, aquilo que fizer para o povo será sempre recebido como uma agradável surpresa e dobrada satisfação. Além disso, gastando pouco não precisará aumentar os impostos.

Em resumo, a sovinice, um defeito na vida privada, torna-se uma virtude na vida pública, enquanto que a liberalidade, uma virtude na vida privada, transforma o governante num antipático e autoritário arrecadador. Maquiavel usa vários exemplos análogos a este, para justificar a paradoxal relação existente, entre virtudes e defeitos na vida privada e na vida pública.

Qualquer político sabe, se não por teoria por experiência, que esta diferença é real, e, provavelmente, já terá vivido, na sua carreira situações como as descritas por Maquiavel.

Provavelmente constatou que o “comportamento virtuoso” da vida privada, literalmente transposto para a vida pública, produziu efeitos políticos desastrosos, enquanto que outros comportamentos menos virtuosos, foram instrumentais para o sucesso político.

É nessa diferença que reside a ambiguidade da política para o cidadão comum, e a sua tendência de encará-la de maneira negativa e pejorativa.

O cidadão comum continua cultivando os valores da vida privada, acreditando que devam ser os mesmos que devam regular a vida pública, enquanto o político e o governante são forçados a administrar aquela inevitável contradição.

Na vida privada o que se disse ontem tem que ser mantido amanhã, na vida pública a capacidade de mudar de opinião é não só natural como indispensável; na vida privada mudar de partido é uma falta de princípios, na vida pública uma contingência comum; na vida privada a promessa feita é um compromisso moral, na vida pública é um compromisso político, sujeito a variadas condições.

Por não compreender a diferença de natureza que existe entre as duas esferas de vida e, porque nenhum político se atreve a explicá-la ao eleitor ( até porque estaria liquidado politicamente no momento em que o fizesse), permanece esta “brecha” perceptiva entre o eleitor e o político.

O eleitor tende então a desenvolver uma visão pejorativa da atividade política, e uma imagem negativa dos políticos.

Os políticos, por seu lado, tendo que agir levando em conta a lógica própria da esfera pública, precisam, pelo menos, “parecer” aos eleitores que adotam os comportamentos determinados pelos valores da esfera privada. É desta “brecha” estrutural que provêm os preconceitos para com a atividade política e os políticos. É a partir dela que os políticos recorrem às ações e técnicas do marketing político.

Existe uma “brecha” perceptiva que obriga o político a viver duas vidas

É por causa dela que um ataque à honra pessoal do político é tão devastador, podendo liquidar com uma carreira.

É ela que obriga o político a viver duas vidas: com os eleitores cultivando os valores e virtudes da vida privada, por meio dos quais é visto como um deles, e conquista a sua confiança; com os outros políticos e governantes, praticando a “lógica do poder”, sem a qual não sobrevive na selva política.

Esta é uma “brecha” perceptiva que não se elimina.

Seria preciso que os eleitores adquirissem um maior conhecimento, sofisticação e experiência sobre a vida política, para entender o problema como tal, sem preconceito, e compreender melhor as peculiaridades da carreira política, separando com segurança “o joio do trigo”.

Atente-se que não estamos nos referindo ao contraste entre honestidade e desonestidade, entre ética e corrupção.

Mesmo os políticos mais honestos têm que recorrer a expedientes aos quais, como regra, não precisam recorrer na vida privada, para esconder sua estratégia; para se proteger das promessas; para fazer alianças e coalizões sem as quais não conseguirá governar, etc.

A “nobre arte da política” transforma-se então num setor de atividades, onde reina a ambiguidade, estando sempre a um passo da censura pública.

Reconhecer esta diferença não significa, porém, tolerar comportamentos desonestos. Significa apenas admitir que a esfera pública possua uma lógica própria, diferente da vida privada, como alertou Maquiavel há cinco séculos.

Não é preciso ser desonesto para ter sucesso político.

Ao contrário, a desonestidade é um caminho que conduz ao desastre político e pessoal. Por outro lado, um político que queira se comportar na esfera política como se comporta na vida privada, também muito dificilmente logrará sucesso.

Os valores e princípios morais são indispensáveis ao político. São eles que, em última análise, conferem sentido à sua carreira e às suas atividades. Entretanto quem os utiliza, para com eles esgrimir no cotidiano da vida política, não vai longe.

A absoluta intransigência moral – como a ideológica- torna o político demasiado rígido para a intrínseca plasticidade da vida política.

Na política poucas são as vezes em que se decide entre o mal absoluto e o bem absoluto. A maior parte do tempo decide-se sobre o mal menor e o bem possível, matérias que estão longe de possuir aquela característica de escolha apocalíptica.

Fonte: Política para Políticos

Sem tribuna

No novo acordo para a recondução de Patrício no comando da Mesa Diretora, Agaciel Maia vai ficar até meados de 2014 sem bater o ponto na Câmara Legislativa. Ao deputado do PTC está reservada uma secretaria com boa visibilidade.

Fonte: Notibras

O que Valério contou ao MP, e o que ainda resta contar

Em setembro, VEJA trouxe à tona alguns dos segredos guardados por Marcos Valério, operador financeiro do mensalão. Entre eles, a informação de que o ex-presidente Lula teve papel de protagonista no esquema.

Pouco depois, o empresário informou o STF, por meio de um fax, que estava disposto a contar o que sabe. Ele também foi ouvido pelo Ministério Público. Valério disse ao MP, na tentativa de obter um acordo de delação premiada – um instrumento pelo qual o envolvido em um crime presta informações sobre ele, em troca de benefícios – ter detalhes sobre outro caso escabroso envolvendo o PT: o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel, em janeiro de 2002.

O relato do publicitário é de que Lula e seu braço-direito Gilberto Carvalho (atual secretário-geral da Presidência) estavam sendo extorquidos por figuras ligadas ao crime de Santo André – em especial, o empresário Ronan Maria Pinto, apontado pelo Ministério Público como integrante de um esquema de cobrança de propina na prefeitura.

Procurado pelos petistas para dar aos achacadores o dinheiro que eles buscavam, Valério recusou: “Nisso aí, eu não me meto”, disse ele em um encontro com Sílvio Pereira, então secretário-geral do PT, e Ronan. Quem relata é o próprio publicitário.

O operador do mensalão afirma que não aceitou entrar no jogo, mas sabe quem acertou as contas com Ronan: um amigo pessoal de Lula, utilizando-se de um banco não citado no esquema do mensalão.

Mais “bombas”

As declarações são apenas parte do arsenal de Valério. Como VEJA havia mostrado já em setembro, o publicitário, que diz temer por sua vida, cogita trazer à luz detalhes sobre o envolvimento de Lula no esquema do mensalão.

Mais do que isso: diz ser capaz de desvendar o mistério sobre a origem do 1,7 milhão de reais apreendidos pela Polícia Federal no escândalo do dossiê dos aloprados, em 2006. E de dar detalhes comprometedores sobre a participação do ex-ministro Antonio Palocci na arrecadação de recursos para o caixa do PT.

Valério foi condenado a 40 anos de prisão. É provável que sua delação tardia não tenha grandes efeitos sobre a pena que terá de cumprir. Mas pode ajudar o país a resolver questões que ficaram sem resposta nos últimos anos.

Fonte: Congresso em Foco

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