A regra é falar apenas o necessário, sempre tendo em vista um objetivo político.
É preciso primeiro colocar-se na situação do candidato eleito, após uma eleição dura e disputada. Durante a campanha era o candidato quem buscava a mídia, quem a procurava para defender-se, apresentar suas idéias e projetos, esclarecer controvérsias, apresentar sua imagem, entre outros objetivos.
Candidato eleito fala, mas evita abordar determinadas questões
Vitorioso, inverte-se de imediato a equação. A mesma mídia que antes se apresentava arredia, desconfiada de que estava sendo usada, agora o procura, tem tempo para ele, e, o que é mais importante, garante-lhe os melhores espaços nos veículos.
Ao mesmo tempo, há uma enorme curiosidade da população sobre o novo governante. As pessoas querem conhecê-lo mais e melhor, saber o que pensa, o que pretende fazer, com quem vai trabalhar, e tantas outras curiosidades normais após toda a exposição pública e controvérsias ensejadas pela campanha. Da parte do vitorioso há, como é compreensível, o desejo de explorar esta súbita boa vontade e disposição dos veículos ao máximo para aumentar a sua popularidade. Ainda mais sabendo que esta situação não vai durar por muito tempo.
Por outro lado, ele também sabe que precisa manter muitas questões (exatamente aquelas em que a mídia está mais interessada) sob reserva. Precisa ganhar tempo para pensar, avaliar pessoas, pesar as pressões, informar-se sobre a realidade do cargo que vai assumir, reavaliar as promessas de campanha e organizar a sua estratégia para o breve período transição-posse-início-primeiros 100 dias.
O candidato eleito tem que falar, mas não pode falar demais, e nem sobre certas questões. O que falar, quanto falar, quando falar, para quem falar, com que objetivo falar, são interrogações que ele deve necessariamente fazer-se, antes de abrir a boca. Ele não deve nunca esquecer que “cada decisão anunciada equivale a uma redução da sua liberdade e um enfraquecimento do ‘elemento surpresa’ com o qual conta para valorizar sua futura administração”.
Mas atenção, há limites para este sigilo e reserva. “Ele precisa ‘lançar balões de ensaio’, isto é, deixar vazar informações para sentir as reações a elas; precisa também ‘alimentar’ a mídia com algumas informações para começar a construir a imagem do novo governo; necessita também tomar algumas decisões para reduzir a ansiedade e pressões dos aliados e apoiadores; deve também dar início ao processo de ocupação de espaço, em relação ao titular do cargo que vai ocupar.” A regra a ser seguida é simples de enunciar, mas difícil de ser seguida: Falar apenas o necessário, sempre tendo em vista um objetivo político. Infringir esta regra acarreta graves conseqüências.
Como sempre, o candidato vitorioso vai falar apenas o que é necessário
Falar demais é o grande risco, não apenas porque o candidato passa a ter os veículos à sua disposição, como também porque é humano e gratificante ser tratado como alguém cujas palavras são esperadas, e correspondem a tanta curiosidade da população.
O eleito sente-se justificadamente como uma celebridade, e a tentação de falar, de aparecer e de ser notícia é muito grande. Risco maior ainda porque os repórteres e jornalistas o assediam constantemente e buscam seduzi-lo para obter revelações inéditas e impactantes.
Risco ainda maior porque, com a vitória, a “magia do poder” o reveste com os atributos da inteligência, espirituosidade, brilho, oportunidade. Qualquer “gracinha” sua passa a ser “brilhante”, qualquer tirada, “genial”, qualquer crítica, “arrasadora”, qualquer insistência e teimosia, uma “necessidade indiscutível”, qualquer comentário irônico, uma “verdade”.
E o fato é que a “gracinha”, a “tirada”, a “teimosia” e a “ironia” se forem publicadas ou divulgadas pela mídia, torna-se de imediato uma manifestação de “mau gosto”, “maldade”, “hipocrisia”, “vaidade”, “arrogância”. O resultado agregado de algumas inconfidências desta natureza que venham a ser divulgadas é a constituição de uma imagem negativa: a imagem de quem fala demais, de quem não está à altura do cargo, de uma pessoa cuja palavra não pode ser levada a sério.
Não é raro observar-se um candidato que, com muito esforço conseguiu vencer, conquistou a admiração dos eleitores pela vitória, e que, em poucas semanas, tornou-se “banal”.
Este o risco-síntese de quem fala demais: tornar-se banal, não ser levado a sério. Não esqueça nunca que a primeira impressão é, para a maioria, a impressão que fica. Tentar recuperar a imagem e a credibilidade depois de tê-la abalada é muito mais difícil.
Fonte: Política para Políticos