Na esteira da derrota em São Paulo, integrantes do partido pedem uma ‘roupagem do novo’ e já defendem mudanças como um distanciamento do marqueteiro Luiz González.
Na esteira da derrota sofrida na eleição pelo comando da maior cidade do País, integrantes do PSDB começam a repensar, com vistas a 2014, todo o modelo que hoje guia o marketing eleitoral da sigla. Depois de assistirem à vitória do prefeito eleito Fernando Haddad (PT) sobre o ex-governador José Serra (PSDB) em São Paulo, tucanos já falam na necessidade de investir na roupagem do novo, com base na ideia de que a maior mensagem tirada das urnas foi um clamor do eleitorado pela renovação.
Para alguns dirigentes, ganha força a tese de que o partido custou a atualizar sua forma de se comunicar com o eleitor. Faltaria à legenda a capacidade de “vender um sonho”, uma receita que, para eles, foi perfeitamente assimilada pelo PT. Foi assim, dizem, na campanha que elegeu Dilma Rousseff como sucessora do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva . O mesmo vale para a eleição de Haddad. Nos dois casos, a comunicação petista foi assinada pelo marqueteiro João Santana.
As discussões no PSDB, por enquanto, ocorrem de forma fragmentada. Até agora, o partido não reuniu sua direção para fazer uma avaliação do desempenho na eleição municipal. Mas uma das propostas de quem defende uma guinada no marketing é o distanciamento em relação ao marqueteiro Luiz González.
González foi recrutado por tucanos para comandar as principais campanhas do partido nos últimos anos. Foi ele quem assinou a campanha vitoriosa de Serra na prefeitura em 2004, assim como sua empreitada para o governo estadual em 2006. Foi González também quem comandou o marketing bem-sucedido da reeleição de Gilberto Kassab (PSD), em 2008, e a eleição de Geraldo Alckmin (PSDB) para o governo do Estado, em 2010.
É na esfera presidencial que reside a maior parte do desgaste. Além de ter comandado a campanha derrotada de Alckmin ao Planalto em 2006, González teve de digerir críticas de tucanos à forma como comandou a campanha presidencial de 2010. Por outro lado, na eleição deste ano em São Paulo, mesmo os mais críticos admitem que outros fatores contribuíram muito mais para o fracasso nas urnas, como a rejeição pessoal de Serra, o desgaste provocado por sua saída da prefeitura em 2006 e mesmo debates como o do kit anti-homofobia. Ainda assim, há quem critique, por exemplo, um investimento excessivo no tema do mensalão na campanha.
Defesa: Após derrota, líderes tucanos fazem defesa da renovação
González já repetiu várias vezes a dirigentes tucanos nos últimos anos que pensa em se aposentar de vez das campanhas eleitorais e voltar sua carreira para outro lado, mais especificamente para o cinema. Ainda assim, foi Serra quem pediu pessoalmente ao jornalista que assumisse a campanha de Kassab em 2008, marcada por ideias como “kassabinho”, boneco do prefeito que aparecia na mão de várias crianças durante a campanha.
Da mesma forma, Serra e Alckmin recrutaram o jornalista para assumir o marketing nas corridas presidencial e paulista de 2010, num esforço para assegurar uma linguagem única das campanhas tucanas. E, novamente, Serra o escalou este ano para a empreitada.
Cenário
No PSDB, líderes afirmam que a comunicação da campanha presidencial de 2014, assim como a da disputa ao Palácio dos Bandeirantes, só começará a ser decidida de fato quando as candidaturas ficarem mais claras. Tido como o primeiro da fila para a disputa para o Planalto, o senador mineiro Aécio Neves tende a exercer um papel de destaque nas negociações.
No círculo próximo de Alckmin – candidato natural à reeleição no Palácio dos Bandeirantes –, predomina a visão de que combinar uma renovação na imagem à experiência gerencial seria a chave para garantir um novo mandato. “Se o marqueteiro conseguir dar a ele o apelo do novo não tem pra ninguém”, disse um aliado do governador. Ele reconhece, entretanto, que o PSDB terá de fazer sua parte para não correr riscos. Até porque, lembrou o tucano, o governador pode ter que fazer frente a um nome como o ministro da Saúde, Alexandre Padilha (PT), que, além de representar a renovação no PT carrega as realizações de uma pasta com grande apelo popular.
Para um tucano próximo a Serra, por outro lado, o que se vê neste momento é uma tentativa de responsabilizar o marketing eleitoral por um problema maior. Para ele, o mesmo ocorreu com o próprio Haddad quando ele ainda custava a decolar nas pesquisas para a Prefeitura de São Paulo. A especulação, nesse caso, era a de que havia uma insatisfação com o trabalho executado por João Santana.
O senador Alvaro Dias (PSDB-PR) faz coro: “Depois da eleição, nós nos acostumamos a aparecer com ideias maravilhosas. Em 2010, surgiu a questão da refundação, que nunca aconteceu”, opinou o senador tucano. “Agora, novamente, se busca uma solução em função de uma derrota. A solução não está na campanha eleitoral, mas na afirmação da posição do partido, fazendo oposição para combater o modelo vigente, deixando claro para a opinião pública que, com esse modelo promíscuo de governo, não vamos alcançar os níveis de desenvolvimento que o Brasil pode alcançar.”
Fonte: Último Segundo – 10/1/2013